Ratos não.

O medo corroía cada pedaço do meu ser enquanto o carro seguia por estradas que eu não reconhecia. Meu corpo estava entorpecido pelos remédios, minha mente nublada, mas o terror era tão real quanto o homem sentado ao meu lado. Luigi parecia se divertir com a situação, seus lábios curvados em um sorriso torto, os olhos fixos na estrada, como se soubesse exatamente o que estava fazendo comigo.

Minha garganta estava seca, mas eu realmente tentei resolver, achava que isso mudaria algo, que pelo menos valeria alguma coisa.

— Me desculpe... — minha voz saiu fraca, quase inaudível. — Eu nunca quis te machucar.

Ele não reagiu de imediato, apenas ficou focado na direção contínua, os dedos batendo no volante.

— Nunca quis esse casamento, você sabe disso. Nunca foi segredo. Mas eu também nunca teria feito aquilo...

Dessa vez, ele riu. Uma risada baixa, cada palavra carregada de ironia.

— Agora é tarde para desculpas, princesa.

Meu coração acelerou. Ele não aceitaria minha desculpa, não acreditava em meu arrependimento. Eu não sabia se isso era bom ou ruim.

— O que vai fazer comigo? — perguntei apavorada com minha voz trêmula.

— Nada. — Seu tom era casual demais, e isso me apavorou ainda mais. — Você vai ficar isolada do mundo até o dia do nosso casamento.

Um arrepio percorre minha espinha. O desespero voltou a me vencer.

— Melhor isso do que ficar com você — rebati, tentando demonstrar alguma força, mesmo que por dentro estivesse em frangalhos.

Luigi riu de novo, mas desta vez havia algo mais em seu olhar. Um brilho perverso.

— Ah, eu sei o quanto você me ama, Fernanda. Mas não se preocupe, você não vai ficar sozinha.

Eu franzi a testa, sentindo um calafrio.

— O que quer dizer com isso?

Ele virou a cabeça na minha direção e seu sorriso aumentado.

— Seus novos companheiros. Escolhidos a dedo para você. Ratos.

Meu corpo congelou.

— Não... — sussurrei com a respiração ficando errática.

— Você tem pavor deles, não tem? Então talvez seja um bom jeito de ensinar você a não atirar no seu noivo.

Meus olhos se encheram de lágrimas. O terror me consumiu por inteiro. Eu tremia, me agarrava ao banco como se fosse cair no abismo.

— Luigi, por favor... — supliquei, minha voz embargada. — Não faça isso comigo. Eu faço qualquer coisa, mas por favor... ratos, não.

Ele apenas riu. Ignorou minhas súplicas, como se fossem insignificantes.

O pânico tomou conta de mim. Eu precisava sair dali. Eu não poderia permitir que ele me levasse para aquele inferno. Minha mente estava embaralhada, lembranças tão distantes e dolorosas, já tinha vivido isso durante toda a minha infância, eu não ia tentar fugir mais, até ouvir isso né, mas em um impulso de desespero, minha mão encontrou a maçaneta da porta.

Antes que eu pudesse racionalizar, a porta se abriu e meu corpo foi lançado para o asfalto.

A dor foi imediata. Meu corpo rolou pelo chão frio, o impacto queimando minha pele, minha mão quebrada dolorida, mas a sensação de escapar do destino que ele planejava era mais forte do que qualquer dor física.

Ouvi o som dos pneus cantando no asfalto quando Luigi freou bruscamente.

Eu estava zonza, minha visão embaçada, minha cabeça girando, mas senti quando ele me moveu.

— Maldita louca! — A voz dele estava tão alarmada, e pela primeira vez, não carregava ironia ou deboche.

Ele me pegou no colo, e mesmo através da dor, minha mente ainda se agarrava ao chão.

— Ratos... de novo, não... — murmurei, a consciência falhando.

Senti os músculos dele tensionados. Houve um breve silêncio antes de ele me acomodar melhor nos braços.

— Você realmente é insana, o que já fizeram com você bambina? — ele sussurrou, mas sua voz não tinha a frieza de antes.

Dessa vez, o carro seguiu por um caminho diferente.

Eu ainda não sabia onde estava sendo levada.

Quando Luigi desligou o carro, ele saiu e abriu a porta do passageiro. Seus braços me envolveram novamente, me pegando no colo sem esforço. Eu não tinha forças para resistir, nem coragem para pedir qualquer coisa. Só me restava esperar.

Ele atravessou um saguão elegante, e pelo pouco que consegui ver, estávamos em um prédio luxuoso. Um elevador se abriu, e em poucos segundos, ele me carregava por um longo corredor até uma porta imponente.

Ao entrar, o aroma amadeirado e sofisticado do apartamento me envolveu. Meu corpo foi depositado com cuidado sobre uma cama macia, coberta por lençóis de cetim. O contraste entre o luxo do lugar e minha condição miserável era quase cruel.

Luigi se ajoelhou ao meu lado, seus olhos percorrendo meu corpo com atenção. Quando suas mãos alcançaram a barra da minha blusa, meu coração disparou.

— O que está fazendo? — minha voz saiu arrastada, mais um sussurro do que uma pergunta firme.

— Você está machucada, precisa de cuidados. Não me faça perder a paciência, Fernanda.

Eu queria lutar, mas o cansaço me dominava. Ele puxou minha blusa com cuidado, e eu fechei os olhos com força, sentindo a ardência das escoriações em minha pele.

Quando abri os olhos novamente, vi sua expressão endurecendo ao observar os hematomas feios que cobriam meu abdômen e braços. Pela primeira vez, ele não parecia satisfeito em me ver sofrer.

— Isso foi culpa sua. — Minha voz falhou, mas o tom de desafio estava ali.

Ele não respondeu, apenas se levantou e sumiu por um instante. Quando voltou, trazia consigo um kit de primeiros socorros e uma toalha.

— Vamos tirar essa roupa. Você precisa de um banho.

Eu quis protestar, mas antes que pudesse formar qualquer frase, ele me pegou no colo mais uma vez e me levou para o banheiro.

O ambiente era luxuoso, com uma banheira imensa e mármore reluzente em cada canto. Ele me colocou sentada no banco do chuveiro, abriu a água morna e, sem dizer nada, começou a me ajudar a remover as roupas sujas e rasgadas.

Minha pele ardia ao contato com a água, e eu chorei baixinho, tanto pela dor quanto pelo desespero.

— Shhh, já passou — ele murmurou, e suas mãos foram surpreendentemente gentis ao passar um sabonete suave sobre minha pele.

Eu queria odiá-lo. Precisava odiá-lo. Mas naquele momento, entre o medo e a dor, tudo que eu sentia era uma exaustão profunda.

Depois do banho, ele secou meu corpo com um cuidado inesperado, vestiu-me com uma camiseta larga e me levou de volta para a cama. Seus dedos frios passaram uma pomada sobre os hematomas, e o contato era quase delicado.

— Por que está fazendo isso? — perguntei, minha voz mal saindo dos lábios.

Ele não respondeu. Apenas fechou o frasco de medicamento e se levantou.

Os analgésicos começaram a fazer efeito, e minha mente foi ficando enevoada. Meus olhos pesavam, meu corpo se rendendo ao sono.

E então, antes que a escuridão me levasse por completo, ouvi sua voz baixa e sombria, como um segredo dito ao vento:

— Não posso me render assim...

Mas eu já não tinha forças para perguntar o que ele queria dizer.

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Comments

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

nossa lembrei quando quebrei o braço, não disse nada pra ninguém, tomei banho, coloquei o uniforme, almocei e fui pra escola, desmaiei várias vezes , os colegas somente riam e a professora achava que eu estava brincando, na última vez que desmaiei e pelo estrondo a professora se aproximou levando a sério me levaram pra emergência o braço já estava roxo e o ortopedista disse que não sabe como eu aguentei tanta dor.

2025-04-04

0

Maria Aparecida Nascimento

Maria Aparecida Nascimento

Acho que o pai da Fernanda ficava torturando com os ratos deixava ela no porão com os ratos por isso ela ficou traumatizada com os ratos o pai dela deixava ela de castigo no porão com os ratos

2025-04-05

0

Ana Celia Pereira

Ana Celia Pereira

O que terá acontecido com ela, pra se apavorar assim com ratos 🤔🤔🤔

2025-04-07

0

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