Um sentimento diferente.

Meu coração acelerou no instante em que ela abriu a porta e se jogou do carro.

Eu nunca imaginei que o medo dela fosse tão real, tão visceral.

O barulho do impacto no asfalto fez meu peito apertar de um jeito que eu não esperava. Pisei no freio com força, o carro derrapou, e antes mesmo de pensar, eu já estava do lado de fora, correndo até onde ela estava caída, logo vi o sangue e me desesperei.

Ela estava ferida, com sangue no rosto e nos braços, os olhos semicerrados, uma respiração ofegante. Mas o que mais me atingiu foi a forma como ela murmurava baixinho, como se estivesse aprisionada em um pesadelo:

— Ratos… Não… De novo, não…

Me abaixei ao lado dela, tomando seu rosto entre minhas mãos com muito cuidado.

— O que fizeram com você, bambina?

Ela chorava de dor, as lágrimas escorrendo silenciosas por sua pele machucada.

Um nó se formou na minha garganta. Não sabia dizer se era raiva ou culpa. Mas naquele momento, decidi que ninguém mais veria Fernanda naquele estado. Não terai tortura alguma com ela daquele estado, isso a mataria. Eu a levaria para um lugar seguro, longe de todos.

Meu refúgio.

O apartamento era o único espaço que eu realmente considerava meu, onde eu fugia do caos do mundo quando respirava. Mas agora, aquele espaço teria outro propósito.

Depois de ajudá-la a tomar banho, de limpar seus ferimentos e medicá-la, Fernanda finalmente apagou, o efeito dos analgésicos pesando sobre seu corpo a deixava quieta e mesmo assim chorava e gemia.

Mas eu não consegui dormir.

Com um copo de bebida na mão, caminhei até a janela do apartamento, a cidade estava acesa diante de mim.

Peguei o telefone e disquei o número sem pensar duas vezes.

A voz do pai dela atendeu com rapidez:

— O que foi? Acharam minha filha?

Meu maxilar enrijeceu, mas controlei minha voz.

— Preciso saber de uma coisa. De onde veio o medo que Fernanda tem de ratos?

Ele riu baixo, como se fosse um detalhe sem importância.

— Isso ainda a assombra? — a risada se transformou em um suspiro impaciente. — Ela era uma pirralha chorona. Quando ficava insuportável, eu a trancava no porão.

Minha mão apertou o telefone com mais força, como pude pensar em fazer algo assim com um ser tão frágil.

— Você a trancava no porão?

— Não quero ofender você, Luigi afinal é o meu Don — sua voz carregava um tom de ironia —, mas cada pai cria os filhos da forma que for necessária.

Meus dedos formaram um punho, a raiva correndo quente em minhas veias.

— E os ratos?

— Estavam lá antes dela — ele disse com frieza. — Mas ensinaram uma boa lição. No começo, ela gritava, chorava pela mãe, se mijava de medo. Mas com o tempo… aprendeu a não chorar quando as mordidas ficavam mais fortes.

Uma fúria gelada se espalhou pelo meu peito.

— Você é um verme.

— Isso é passado e não precisamos de hostilidade — ele respondeu, sem um pingo de emoção. — O casamento continua de pé? Eu fiz minha parte no acordo. O que acontecer com ela, agora, é problema seu. Se precisar se livrar dela, não tenho objeções.

Desliguei o telefone sem dizer mais nada.

Minha respiração estava pesada, o ódio latejando em minha mente.

Virei o resto do whisky e joguei o copo longe, o vidro se estilhaçando no chão não a acordou, mas olhei para a cama.

Fernanda se remexia, um gemido baixo escapando de seus lábios. Seu rosto estava franzido, como se estivesse revivendo cada momento daquele inferno.

E ali, no silêncio da noite, percebi algo que não deveria.

Eu não queria que ela fosse apenas um jogo.

Eu não deveria me importar, era para ser só um casamento por conveniência.

Fernanda continuava a se remexer na cama, a testa úmida de suor, a expressão contraída em puro pavor.

Aproximando-me, toquei seu rosto, sentindo a pele quente sob meus dedos. Ela gemeu, a respiração acelerada, como se ainda estivesse naquele maldito porão.

— Ratos... não... por favor... — murmurou, a voz falha, carregada de desespero.

Uma irritação tomou conta de mim, mas não era com ela. Era com aquele miserável que a chamou de filha e ainda teve a audácia de dizer que a criou da maneira "necessária".

Ela estremeceu e tentou se afastar, mesmo inconsciente.

— Maldição, bambina... — resmunguei, sentindo algo estranho no peito.

Eu não gostava de vê-la assim.

Não gostava de ver medo em seus olhos, e muito menos gostava de saber que não era culpa minha, mas de outro homem.

Ela pertencia a mim agora. E se alguém fosse fazê-la temer alguma coisa... esse alguém seria eu.

— Acorda, Fernanda — murmurei, puxando-a levemente contra mim.

Ela abriu os olhos aos poucos, piscando devagar. O olhar perdido, embaçado pelo torpor dos medicamentos.

— Onde... onde eu estou? — Sua voz era um sussurro.

— Num lugar seguro — respondi, meus dedos deslizando para seu queixo. — Mas só porque você foi estúpida o suficiente para pular do carro.

Ela engoliu em seco, seus olhos se enchendo de lágrimas.

— Você ia me trancar com aqueles bichos, eu ia viver aquilo de novo...

Franzi a testa, irritado por ela sequer pensar que eu poderia ser igual àquele maldito pai dela.

— Eu não sou ele, Fernanda, confesso que te colocaria perto de um, mas não seria cruel assim.

Ela riu baixo, sem humor.

— Não? Então por que me trata como se fosse uma propriedade sua? Você não me deixou nem tentar viver.

Apertei o maxilar, puxando-a um pouco mais para perto.

— Porque você é minha.

Ela tremeu, e por um segundo, vi algo diferente em seu olhar. Não era só medo. Era raiva.

— Se acha que isso vai me quebrar, Luigi, então me mate de uma vez.

Um sorriso lento surgiu em meus lábios.

— Eu prefiro ver você lutar. Não vou te quebrar não, mas quero que você se renda a mim, te subjugar será mais divertido.

Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior.

— O que vai fazer comigo?

— Nada — respondi, soltando-a. — Você só vai ficar aqui até o dia do casamento, são poucos dias e não tem armas aqui.

— Você foi idiota demais em deixar uma arma perto, mas não vou tentar nada, eu juro, já tive dor demais e não quero morrer. — ela falou.

Cruzei os braços, me divertindo com sua fala e com esse resquício de paz que ela dizia estar querendo.

— Então, trate de escolher um vestido bonito, bambina. Porque a morte pode esperar.

Eu queria quebrar cada osso do homem que a fez ter medo.

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Comments

Maria Helena Macedo e Silva

Maria Helena Macedo e Silva

por isso quando ele ameaçou matar os pais dela, ela nem si afetou, pra ela seria menos um para tortura-la.
até agora ela só mudou de "dono" as torturas são praticamente as mesmas.🤦‍♂️

2025-04-04

1

Arlete Fernandes

Arlete Fernandes

Elevai seringar do pai dela e que escroto aff se ele não quiser ela pode se desfazer dela a ora que quiser da licença que imbecil!!!

2025-04-08

0

Maria Aparecida Nascimento

Maria Aparecida Nascimento

Nossa que o pai da Fernanda era um monstro torturando a própria filha com os ratos

2025-04-05

0

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