O som dos pneus do carro de Sebastian rolando pela estrada de paralelepípedo me trouxe de volta à realidade depois do passeio cheio de confissões e risadas. Quando finalmente chegamos em casa, o sol já estava se escondendo atrás das colinas da Sicília, tingindo o céu com tons alaranjados e dourados. O ar estava mais fresco, e um aroma sutil de flores do jardim se espalhava pelo ar.
Assim que entramos, a voz da minha tia Sofia ecoou da sala de estar. Ela ria, uma risada elegante e polida, diferente das gargalhadas despreocupadas que eu tinha trocado com Sebastian durante o dia. A curiosidade me puxou até a sala, onde encontrei minha tia sentada em um dos sofás de couro claro, cercada por duas mulheres que exalavam sofisticação.
As duas se voltaram para mim quando perceberam minha presença. Minha tia imediatamente abriu um sorriso caloroso e acenou para que eu me aproximasse.
— Lilian, querida, venha aqui. Quero te apresentar a algumas amigas minhas.
Hesitei por um segundo, arrumando o cabelo de forma instintiva, antes de atravessar o salão em direção ao grupo. As duas mulheres me analisaram com olhares avaliadores, daqueles que pareciam querer ler mais do que o que estava visível na superfície.
— Esta é Lilian, minha sobrinha — disse Sofia com orgulho, segurando levemente o meu braço. — Lilian, estas são Donatella e Bianca.
Donatella era uma mulher de traços marcantes, com cabelos negros presos em um coque impecável e olhos tão penetrantes que pareciam atravessar minha alma. Bianca, por outro lado, tinha um ar mais suave, com cabelos loiros ondulados e um sorriso que parecia gentil, mas que guardava algo de reservado por trás.
— Prazer em conhecê-las — murmurei, tentando soar confiante, mesmo sentindo o olhar crítico de Donatella em cada detalhe meu.
— O prazer é nosso — respondeu Bianca com um sorriso educado, enquanto Donatella apenas assentiu levemente, cruzando as pernas de forma elegante.
Sebastian ficou parado perto da porta, com uma expressão entediada e as mãos nos bolsos, claramente desconfortável com o ambiente formal. Ele lançou um olhar para mim, como se dissesse “boa sorte”, antes de desaparecer discretamente para o andar de cima.
Sofia me puxou para sentar ao lado dela, o perfume doce dela misturando-se ao aroma da sala — uma mistura de flores frescas e café recém-passado.
— Estávamos conversando sobre os eventos da cidade — explicou minha tia, sorrindo de forma impecável. — Donatella está organizando um evento beneficente importante para o próximo mês.
— E gostaríamos de ver jovens como você participando — acrescentou Donatella, sua voz firme e controlada. — Afinal, é importante para as novas gerações entenderem o valor das tradições e da comunidade.
Assenti, sem saber exatamente o que dizer. O jeito dela me deixava desconfortável, como se cada palavra fosse cuidadosamente calculada, com intenções ocultas por trás do tom educado.
— Com certeza — respondi simplesmente, forçando um sorriso.
O olhar de Donatella deslizou sobre mim novamente, como se estivesse me medindo, e depois pousou em minha tia.
— Ela se parece muito com você, Sofia. Tem o mesmo olhar curioso.
Sofia riu suavemente, mas não comentou. Senti a mão dela apertar levemente o meu ombro, um gesto reconfortante que eu não esperava. O clima estava ficando estranho, e minha mente começou a vagar, pensando em Damian. Como ele se comportaria em uma situação como essa? Provavelmente não teria ficado nem cinco minutos antes de desaparecer.
Bianca tentou aliviar o ambiente, puxando uma conversa mais leve sobre as belezas da Sicília, perguntando se eu já havia visitado determinados pontos turísticos. Contei brevemente sobre o passeio com Sebastian, o que fez Donatella arquear uma sobrancelha.
— Sebastian é um jovem encantador — disse ela, olhando na direção das escadas por onde ele havia sumido. — Sempre muito... sociável. Ao contrário do irmão.
O nome de Damian pairou no ar como uma sombra. Meu coração bateu mais rápido, mas mantive a expressão neutra.
— Damian é apenas mais reservado — respondi, tentando parecer indiferente, mas sentindo um calor estranho subir pelo meu pescoço.
O sorriso de Donatella se tornou sutil, quase imperceptível.
— Reservado é uma palavra interessante para descrevê-lo.
Havia algo naquele comentário, um tom escondido que me deixou desconfortável. Olhei para minha tia, que mantinha a expressão calma, mas seus olhos estavam mais atentos agora.
— Damian é só... Damian — disse Sofia com um leve sorriso, tentando encerrar o assunto.
As mulheres mudaram o foco da conversa para outro tópico, mas eu continuei pensando no tom da voz de Donatella. Era como se ela soubesse de algo. Algo que eu não sabia. Algo sobre Damian.
Depois de um tempo, as mulheres se despediram, com beijos no ar e promessas de novos encontros. Assim que a porta se fechou atrás delas, respirei aliviada.
— Quem são elas? — perguntei, me virando para minha tia.
Sofia suspirou, recostando-se no sofá.
— Amigas da sociedade. Donatella é influente aqui na Sicília. Ela sabe de tudo sobre todos.
Essa resposta não me tranquilizou. Pelo contrário, me deixou mais intrigada. O jeito como Donatella falou de Damian... como se houvesse algo mais ali. Algo que todo mundo sabia, menos eu.
Subi para o meu quarto, mas o desconforto ficou comigo. Fiquei olhando para o teto, pensando em Damian. Em Sebastian. Em tudo que parecia estar escondido debaixo da superfície daquela família.
Era engraçado pensar na minha relação com minha tia Sofia. Eu só fui descobrir que tinha uma tia quando tinha dez anos. Antes disso, minha mãe nunca havia mencionado Sofia, como se ela simplesmente não existisse. Lembro-me do dia em que minha mãe, com uma expressão tensa e olhos distantes, contou que ela e Sofia haviam cortado relações há muitos anos. Nunca explicou o motivo. Apenas disse que “algumas feridas demoram a cicatrizar”. Foi quando eu era criança, curiosa e cheia de perguntas, mas ela nunca me deu respostas concretas.
Elas voltaram a se falar quando eu tinha dez anos, como se o tempo tivesse, de alguma forma, apagado o que quer que tivesse acontecido entre elas. Porém, mesmo após essa reaproximação, minha mãe nunca me trouxe à Itália. Ela odiava a ideia de voltar para cá. Sempre dizia que Boston era nosso lar, que a Itália fazia parte de um passado que ela preferia manter enterrado.
Sofia, por outro lado, parecia fazer um esforço sincero para manter o contato. Às vezes, ela visitava Boston, sempre impecável e elegante, trazendo presentes caros e histórias fascinantes sobre a Sicília. Apesar da distância emocional evidente entre ela e minha mãe, Sofia tentava se aproximar de mim de uma forma que, na época, me parecia estranha. Agora, vivendo sob o mesmo teto que ela, eu via uma mulher que escondia mais do que mostrava.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Onilda Furlan
ai aí ai ai ai aí tem um segredo, oque será?
2025-03-17
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