O relógio do celular marcava 2:15 da madrugada. Eu me revirava na cama há horas, incapaz de encontrar uma posição confortável. O arranhão na testa latejava levemente, mas não era apenas a dor física que me mantinha acordada. Era o peso dos pensamentos, das imagens da festa, da briga, e, acima de tudo, de Damian.
Suspirei, irritada comigo mesma. Por que ele ocupava tanto espaço na minha mente? Era frustrante.
Levantei da cama, vestindo um moletom por cima da camiseta fina, e saí do quarto em silêncio. As tábuas do chão rangiam levemente sob meus passos enquanto eu descia as escadas, atravessando o corredor escuro em direção ao jardim. O ar da madrugada estava frio, mas eu precisava de um pouco dele para clarear minha mente.
Ao sair, o som suave das ondas quebrando contra as pedras preencheu meus ouvidos, trazendo um alívio momentâneo. Caminhei até o muro de pedra que margeava o jardim, um lugar que descobri dias atrás, de onde a vista para o mar era simplesmente hipnotizante.
Mas eu não estava sozinha.
Damian estava lá, encostado casualmente no muro, com um cigarro aceso entre os dedos. A ponta brilhava em um vermelho intenso enquanto ele inalava a fumaça e depois a liberava em um suspiro longo, como se estivesse exalando algo mais do que nicotina talvez frustração, raiva ou mágoas antigas.
Fiz uma careta instintiva ao sentir o cheiro forte de tabaco queimado. Passei por ele sem dizer nada, afastando a fumaça com a mão, torcendo o nariz em desgosto. Me sentei no muro de pedra, sentindo o frio da pedra sob mim enquanto olhava para o mar escuro e infinito.
— Você deveria parar de fumar — murmurei, quebrando o silêncio. Minha voz soou mais firme do que eu esperava.
Damian não respondeu de imediato. Apenas deu outra tragada, soltando a fumaça lentamente, observando o horizonte, como se eu não estivesse ali.
O silêncio se estendeu entre nós por alguns segundos até que, finalmente, ele falou:
— E por que isso te incomoda?
O tom era frio, mas havia algo mais ali ou uma curiosidade genuína, talvez.
— Porque é nojento. — Dei de ombros, sem olhar para ele. — E faz mal.
Damian soltou uma risada baixa, sem humor, jogando a ponta do cigarro no chão e esmagando-a com o sapato. Depois, enfiou as mãos nos bolsos do moletom e ficou em silêncio, olhando para o mar.
Eu o observei de canto de olho. O cabelo bagunçado, o maxilar tenso, a postura relaxada, mas com uma tensão latente, como se estivesse sempre pronto para lutar. Ele era um enigma, e isso me irritava tanto quanto me fascinava.
— Não consigo dormir — confessei, mais para mim mesma do que para ele.
— O problema é o machucado ou a sua cabeça bagunçada? — ele rebateu, finalmente olhando para mim.
Virei o rosto para encará-lo, surpresa com a resposta direta.
— Talvez os dois.
Damian arqueou uma sobrancelha, como se minha resposta tivesse despertado um leve interesse.
— Você pensa demais — disse, simplesmente, voltando a olhar para o mar.
Revirei os olhos.
— E você fuma demais. Acho que estamos empatados.
Ele sorriu de canto, e por um breve segundo, o peso da sua expressão desapareceu. Era um sorriso pequeno, quase imperceptível, mas estava lá.
— Justo. — Ele assentiu levemente.
O silêncio voltou, mas dessa vez não era desconfortável. O som das ondas preenchia o espaço entre nós, junto com o vento frio da madrugada que bagunçava meu cabelo.
— Por que você é sempre tão… fechado? — perguntei, sem pensar muito.
Damian demorou para responder. Ele inclinou-se um pouco para frente, apoiando os antebraços no muro e o olhar perdido na escuridão do mar.
— Porque as pessoas gostam de se meter onde não devem quando você se abre demais.
Sua resposta me pegou de surpresa. Não esperava uma confissão tão honesta, mesmo que dita com frieza.
— Nem todo mundo é assim — retruquei suavemente.
Ele deu de ombros.
— A maioria é.
Ficamos em silêncio novamente, mas agora o ar parecia carregado com algo mais. Curiosidade, talvez. Ou tensão.
— Por que você se meteu naquela briga? — perguntei de repente, quebrando o silêncio pela terceira vez.
Damian me olhou de lado, os olhos escuros brilhando levemente sob a luz pálida da lua.
— Porque o cara era um idiota.
— Não foi só isso. — Cruzei os braços, encarando-o. — Você ficou furioso. Não foi uma reação normal.
Ele soltou um suspiro longo, como se estivesse decidindo se valia a pena me dar uma resposta.
— Algumas pessoas merecem uma lição. E eu gosto de dar essas lições.
Havia algo sombrio na forma como ele disse aquilo. Não era uma piada, não era arrogância. Era uma verdade crua e simples.
Eu o observei em silêncio, tentando decifrá-lo. Mas Damian era como o mar à noite um vasto, escuro, imprevisível.
— Você não é uma pessoa fácil de entender — murmurei.
Ele sorriu de novo, aquele sorriso de canto que parecia surgir apenas quando ele estava levemente intrigado.
— E você é muito teimosa para alguém que diz não se importar.
Minha bochecha esquentou, mesmo com o frio da madrugada.
— Quem disse que eu me importo? — rebati, cruzando os braços.
Damian não respondeu. Apenas me lançou um olhar que parecia enxergar além das palavras, além da fachada que eu tentava manter.
O silêncio voltou, mas agora havia uma energia diferente no ar. Algo que me fazia sentir viva, mesmo que confusa.
— Você deveria ir dormir — ele disse finalmente, quebrando o momento.
— Você também.
Damian deu uma risada baixa, balançando a cabeça. Depois, levantou-se do muro de pedra e começou a se afastar.
Antes de desaparecer na escuridão, ele se virou brevemente.
— Cuidado para não se perder demais, Lilian. Algumas coisas não têm volta.
E então ele se foi, me deixando com o coração acelerado e a mente ainda mais bagunçada do que antes.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
nandinha
Detesto quem fuma
2025-02-06
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