Eu não sei por quanto tempo fiquei lá fora depois que Damian entrou. O som do mar batendo suavemente nas pedras era um conforto silencioso.
Quando finalmente o sono bateu, foi como uma onda inevitável. Me arrastei de volta para dentro da casa, o frio da madrugada grudado na pele, subindo as escadas com passos arrastados até meu quarto. Caí na cama sem nem me preocupar em tirar o moletom, fechando os olhos com a mente ainda girando em círculos, presa na confusão que Damian sempre parecia causar.
Na manhã seguinte, acordei sonolenta, com um incômodo persistente na testa. Toquei o arranhão de leve ainda sensível, mas nada sério. Suspirei e me arrastei até o banheiro para um banho rápido, deixando a água morna tentar espantar o peso da noite anterior. Depois de me vestir com um short jeans e uma camiseta simples, desci para o café da manhã.
A casa estava estranhamente silenciosa, o que fazia sentido já que era domingo. O sol entrava pelas janelas enormes, iluminando o salão de forma suave. Ao chegar à sala de jantar, vi que apenas Sebastian estava lá, distraído com o celular. A governanta estava organizando a mesa, com a eficiência de quem já fazia aquilo há anos.
— Buongiorno, — murmurei, puxando uma cadeira e me sentando ao lado de Sebastian.
Ele levantou os olhos do celular, sorrindo.
— Buongiorno, — respondeu em italiano com a voz ainda rouca de sono. Depois se inclinou um pouco, olhando para mim com atenção. — Como está a sua testa?
Dei um meio sorriso, tentando minimizar.
— Está apenas incomodando um pouco agora. Nada demais.
Sebastian se inclinou mais, aproximando o rosto enquanto analisava o arranhão com um olhar cuidadoso. O gesto foi tão natural e carinhoso que me peguei sorrindo de verdade. Ele sempre tinha esse jeito despreocupado, mas, ao mesmo tempo, era atencioso.
— Vai ficar bem — disse ele, endireitando-se novamente. — Agora toma o café da manhã.
Comecei a me servir, pegando um pouco de pão, queijo e frutas. Enquanto comia, Sebastian largou o celular de lado e disse:
— O que acha de darmos uma volta pela cidade hoje? Posso te mostrar alguns lugares legais de Sicília.
Olhei para ele com uma expressão meio desconfiada, lembrando da festa da noite anterior.
— Só se não tiver festa.
Ele gargalhou alto, aquela risada leve que fazia seus olhos brilharem.
— Sem festa, prometo.
Terminei meu café com um sorriso no rosto e, pouco tempo depois, estávamos prontos para sair. O céu estava limpo, e o sol brilhava com um calor suave, perfeito para um passeio.
Sebastian dirigia enquanto eu observava pela janela, encantada com a paisagem. A Sicília era uma mistura fascinante de beleza natural e história, com suas construções antigas, ruas de paralelepípedo e o mar azul que parecia não ter fim.
— Você vai adorar o que preparei para hoje — disse ele, piscando para mim enquanto acelerava levemente.
O primeiro lugar que visitamos foi uma pequena praça no centro da cidade, cercada por cafés charmosos e lojas locais. O aroma de café fresco e pão assado estava por toda parte. Caminhamos lado a lado, conversando sobre coisas aleatórias filmes, músicas, lugares que gostaríamos de visitar.
Sebastian era fácil de se conversar. Ele fazia piadas bobas, mas engraçadas, e sempre encontrava um jeito de me fazer rir. Era um contraste gritante com a presença de Damian, que sempre parecia carregar o peso do mundo nos ombros.
— Você sempre foi assim? — perguntei em um momento de curiosidade, enquanto observávamos uma fonte antiga no centro da praça.
— Assim como?
— Alegre, divertido, despreocupado.
Ele riu.
— Acho que sim. A vida já é complicada demais para não tentar ver o lado bom das coisas.
Assenti, pensando em como ele fazia parecer tão simples.
Depois da praça, fomos até uma pequena colina que oferecia uma vista deslumbrante do mar. O vento brincava com meu cabelo enquanto eu me perdia na imensidão azul.
— Incrível — sussurrei.
— Não é? — Sebastian sorriu, orgulhoso de me mostrar aquele lugar. — Sempre venho aqui quando preciso pensar.
Sentamos em uma pedra grande, e ele começou a contar histórias da infância, das travessuras que ele e Damian faziam quando eram mais novos. O contraste entre o garoto que ele descrevia e o homem que Damian se tornou era intrigante.
— Damian era mais… solto quando criança — ele disse em um tom melancólico. — Mas algumas coisas mudam as pessoas.
Quis perguntar mais, mas me contive. Havia uma sombra no olhar de Sebastian quando mencionava o irmão, como se fosse uma linha que ele preferia não cruzar.
Seguimos para o último destino do dia: uma pequena vila de pescadores à beira-mar. O cheiro de sal e peixe fresco preenchia o ar. Caminhamos pelo píer, observando os barcos balançando suavemente na água.
— Está gostando do passeio? — Sebastian perguntou, me olhando de lado.
— Estou amando — respondi com sinceridade. — Obrigada por isso.
Ele sorriu, e por um momento, senti uma leveza que há muito não sentia. Talvez, apenas por hoje, eu pudesse esquecer a confusão na minha mente, o luto, e até mesmo Damian.
Mas, ao voltarmos para o carro, avistei uma moto estacionada perto da saída da vila. Era inconfundível. Damian estava encostado nela, fumando outro cigarro, o olhar perdido no horizonte.
Meu coração deu um salto.
Sebastian percebeu minha hesitação e seguiu meu olhar. Ele suspirou, mas não disse nada. Apenas abriu a porta do carro e esperou.
Eu hesitei por um segundo, mas acabei entrando. Enquanto o carro se afastava, olhei pelo retrovisor. Damian continuava lá, como se fosse uma sombra da qual eu não conseguia escapar.
E, no fundo, uma parte de mim não queria escapar.
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Atualizado até capítulo 75
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