O som irritante do despertador ecoou pelo quarto, me arrancando de um sono agitado. Pisquei algumas vezes, encarando o teto branco decorado com um lustre de cristal que parecia pertencer a outro século. O quarto ainda era estranho para mim, mesmo depois de um mês. Muito grande, muito vazio, muito… silencioso.
Hoje seria meu primeiro dia na escola nova. O último ano do ensino médio, e eu me sentia menos animada do que nunca. Não era só o fato de ter que enfrentar rostos desconhecidos, mas também o peso constante da saudade da minha mãe, que parecia apertar meu peito com mais força nas manhãs.
Levantei da cama com um suspiro pesado e fui direto para o banheiro. O espelho refletiu uma versão de mim que eu mal reconhecia. Olheiras leves marcavam meu rosto, herança das noites mal dormidas, e meu cabelo estava uma bagunça. Depois de um banho rápido e frio, vesti uma calça jeans escura, uma blusa preta básica e uma jaqueta leve. Nada chamativo — o tipo de roupa que me fazia sentir invisível. Era exatamente isso que eu queria.
Desci as escadas, os degraus de mármore ecoando sob meus pés. O cheiro de café fresco e pão tostado invadiu o ar, vindo da enorme sala de jantar. A mesa parecia um cenário de filme: toalhas brancas impecáveis, talheres de prata reluzentes e uma variedade de alimentos digna de um hotel cinco estrelas.
Sofia estava sentada à cabeceira da mesa, elegante como sempre, com um vestido bege sofisticado e um coque perfeito. Ao lado dela, o Sr. Santorini lia um jornal em silêncio, a expressão severa escondida atrás das folhas impressas. A governanta, uma mulher de rosto sério e postura rígida, servia o café com uma precisão quase militar.
Mas Damian não estava lá.
Suspirei aliviada — parte de mim estava agradecida por não ter que lidar com seus olhares intensos logo de manhã.
Sebastian já me esperava, sentado à mesa, com um sorriso tranquilo. Ele usava uma jaqueta jeans sobre uma camiseta branca, o cabelo castanho bagunçado de um jeito que parecia acidentalmente perfeito.
— Bom dia, dorminhoca — ele brincou, apontando para a cadeira ao lado dele.
Sentei-me, murmurando um “bom dia” baixo, enquanto pegava uma fatia de pão. O café da manhã transcorreu em um silêncio estranho, quebrado apenas pelos sons dos talheres e pelas respostas monossilábicas de Sebastian às perguntas ocasionais da tia Sofia.
Depois de comer o suficiente para não desmaiar de fome, peguei minha mochila.
— Pronta para o grande dia? — Sebastian perguntou, com um sorriso animado.
— Se por "grande dia" você quer dizer um pesadelo disfarçado de rotina escolar, então sim — respondi, com um sorriso forçado.
Ele riu enquanto caminhávamos até o carro. O céu estava claro, o sol brilhando forte, contrastando com o peso que eu sentia no peito. Entramos no carro preto esportivo de Sebastian e seguimos pelas ruas da cidade, cercados por construções históricas e paisagens que pareciam saídas de um cartão-postal.
— Vai ser tranquilo — ele disse, como se lesse meus pensamentos. — O pessoal da escola é legal… na maioria das vezes.
— Só quero passar despercebida — murmurei, olhando pela janela.
— Com esse sotaque americano? Difícil.
Revirei os olhos, mas um sorriso pequeno escapou. Conversar com Sebastian era fácil, quase como um cobertor quente em um dia frio. Ele tinha esse jeito despreocupado que me fazia esquecer, mesmo que por um instante, o caos dentro da minha cabeça.
Quando chegamos à escola, o prédio antigo com detalhes de pedra e janelas altas me fez sentir ainda mais deslocada. Um grupo de estudantes estava do lado de fora, rindo e conversando. Automaticamente, senti minhas mãos suarem.
— Vem, vou te apresentar para alguns amigos — disse Sebastian, saindo do carro.
— Acho que prefiro ficar no carro — brinquei, mas ele já estava abrindo a porta do meu lado.
Caminhamos pelo pátio, e eu podia sentir olhares curiosos sobre mim. Não era paranoia — eu realmente chamava atenção por ser a “nova garota americana”. Sebastian parecia alheio a isso, cumprimentando algumas pessoas com acenos casuais.
Logo fomos cercados por um pequeno grupo de amigos dele.
— Pessoal, essa é a Lilian. Ela vai estudar com a gente este ano — ele apresentou, com um sorriso fácil.
Havia uma garota de cabelo ruivo vibrante e olhos verdes intensos chamada Alessia, que me deu um sorriso caloroso. Ao lado dela, um garoto loiro de olhos azuis chamado Matteo, que parecia mais interessado em checar o celular do que na minha presença. E uma outra garota, Giulia, com um olhar curioso demais para o meu gosto.
— Então você é a americana? — Giulia perguntou, arqueando uma sobrancelha. — Deve ser difícil se adaptar.
— Um pouco — respondi, tentando manter o tom neutro.
Alessia me lançou um olhar solidário.
— Qualquer coisa, pode contar comigo. Eu sei como é ser “a nova”.
O sinal tocou, e fomos em direção às salas. Sebastian ficou ao meu lado o tempo todo, como uma âncora me impedindo de me perder naquele mar de estranhos.
As aulas passaram devagar, e eu mal conseguia me concentrar. Cada professor fazia questão de me apresentar à turma, o que só aumentava o desconforto. Mas, aos poucos, comecei a me acostumar com os rostos, os sussurros e o ambiente.
Na hora do almoço, Sebastian me arrastou para o refeitório. O lugar era barulhento, cheio de vozes e risadas. Encontramos uma mesa perto da janela, onde Alessia e Matteo já estavam.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 75
Comments