Sebastian entrou na sala com um pano envolto em cubos de gelo, seu olhar imediatamente encontrando o de Damian parado no limiar da porta. O ar ficou tenso por um breve momento, e a troca de olhares entre eles parecia carregar palavras não ditas, ressentimentos antigos talvez, ou apenas o peso de um passado que eu ainda não entendia.
— Está tudo bem? — Sebastian perguntou, com a voz baixa, mas firme.
Damian não respondeu de imediato. Apenas assentiu com um movimento sutil da cabeça, o olhar ainda cravado em nós. Depois, sem dizer mais nada, virou-se e saiu da sala, desaparecendo pela porta que dava para o jardim. O som da porta se fechando ecoou como um lembrete da sua presença enigmática.
Eu continuei parada, tentando processar o turbilhão de emoções que ele sempre deixava para trás. Damian tinha o poder de bagunçar meus pensamentos com um simples olhar.
Sebastian se aproximou, a expressão suavizando enquanto se sentava no sofá. Ele colocou o gelo com cuidado em uma na mesinha ao lado do sofá, e depois ajeitou um travesseiro em seu colo.
— Deita aqui, Lilian. Vai ser mais confortável. — Sua voz era doce, um contraste gritante com o tom frio e distante de Damian.
Eu hesitei por um instante, mas o cansaço e a dor de cabeça falaram mais alto. Deitei a cabeça em seu colo, sentindo o calor do corpo do seu corpo. Ele pegou o pano com gelo e o pressionou delicadamente contra minha testa. O toque era suave, quase um afago, e o frio ajudou a aliviar a dor pulsante.
— Está doendo muito? — ele perguntou, os olhos castanhos cheios de preocupação.
— Não é tão ruim. Só um arranhão. — Tentei minimizar, mas ele não pareceu convencido.
— Ainda assim, você não deveria ter passado por isso. — Ele fez uma careta, claramente incomodado com o que havia acontecido na festa. — Aqueles caras eram uns idiotas.
Eu observei seu rosto enquanto ele falava. Havia uma doçura em Sebastian que era difícil de ignorar. O oposto do irmão. Seus traços suaves, o olhar caloroso e a forma como ele cuidava de mim me faziam sentir segura.
— Você é sempre assim? — perguntei, com um sorriso fraco. — Tão preocupado?
Ele deu uma risadinha.
— Só com quem importa.
O coração bateu mais forte, e não era por causa do machucado. A forma como ele disse aquilo, o olhar intenso fixo no meu, quase me fez esquecer da dor.
— Obrigada, Sebastian. — Sussurrei, minha voz saindo mais suave do que o planejado.
Ele continuou cuidando de mim em silêncio por alguns minutos, o gelo aliviando o inchaço. O silêncio entre nós não era desconfortável; pelo contrário, era um tipo de paz que eu não sentia há muito tempo.
Mas, claro, minha mente insistia em voltar para Damian. Eu não conseguia evitar. A intensidade dele, o jeito como parecia sempre à beira de um abismo, me intrigava mais do que eu gostaria de admitir.
— O Damian… — comecei, hesitando.
Sebastian suspirou, já esperando o assunto.
— O que tem ele?
Eu olhei para o teto, escolhendo as palavras.
— Ele é… complicado
— Isso é um eufemismo. — Sebastian riu, mas não havia humor real em sua voz. — Damian sempre foi assim. Difícil de decifrar.
— O que aconteceu com ele? — arrisquei perguntar, mesmo sabendo que talvez não obtivesse uma resposta direta.
Sebastian ficou em silêncio por um momento, passando o dedo distraidamente no gelo enquanto pensava.
— Algumas pessoas carregam sombras que preferem manter escondidas. — Ele finalmente disse, olhando para mim. — O Damian é uma dessas pessoas.
Essa resposta só aumentou minha curiosidade. Mas eu sabia que pressioná-lo agora não adiantaria.
— Você parece se importar com ele, apesar de tudo. — Comentei, observando seu rosto.
Sebastian deu de ombros.
— Ele é meu irmão. Mesmo que não pareça, ele se importa também. Só não sabe demonstrar.
Eu queria entender mais, mas havia uma barreira invisível entre eles, algo que Sebastian claramente não estava pronto para compartilhar.
O tempo passou devagar enquanto ficávamos ali, o silêncio confortável preenchido apenas pelo som suave da noite do lado de fora. O céu estava escuro, e as estrelas brilhavam através das janelas altas da mansão.
Depois de um tempo, Sebastian tirou o gelo da minha testa, avaliando o pequeno arranhão.
— Está melhor. — Ele sorriu, mas o olhar ainda carregava um traço de preocupação.
— Você se preocupa demais. — Brinquei, tentando aliviar o clima.
— Talvez. — Ele deu uma risadinha, inclinando-se levemente. — Mas com você, não consigo evitar.
O jeito que ele disse aquilo me pegou de surpresa. Havia algo na voz dele, uma sinceridade crua que fez meu coração disparar. Por um momento, fiquei sem saber o que dizer, o olhar preso ao dele.
Sebastian era fácil de gostar. Seu sorriso gentil, o cuidado constante, a forma como fazia com que eu me sentisse vista. Mas, ao mesmo tempo, o eco da presença de Damian ainda pairava na minha mente. Ele era o caos, enquanto Sebastian era a calmaria.
Me sentei devagar, o rosto ainda quente por causa da proximidade.
— Acho que já estou bem. — Murmurei, mesmo sabendo que não era só o machucado que estava me deixando desconfortável.
Sebastian assentiu, mas não disse mais nada. Apenas observou enquanto eu me levantava e ajeitava o cabelo, tentando disfarçar a confusão interna.
— Se precisar de qualquer coisa, me chama. — Ele disse, a voz suave.
— Obrigada, Sebastian. — Sorri de leve antes de sair da sala, sentindo o olhar dele me acompanhar até o corredor.
Subi as escadas em silêncio, cada degrau ecoando no vazio da mansão. O corredor estava escuro, mas eu conhecia o caminho para o meu quarto. Quando entrei, fechei a porta atrás de mim, encostando-me por um momento, respirando fundo.
O quarto estava iluminado apenas pela luz suave da lua que entrava pela janela. Deitei na cama, encarando o teto, tentando entender o que estava acontecendo dentro de mim.
Eu estava dividida. Entre o conforto tranquilo de Sebastian e o mistério caótico de Damian. Entre a paz e o perigo.
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Atualizado até capítulo 75
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