Quando saí da escola, o sol da Sicília estava começando a suavizar sua intensidade, deixando o céu tingido com um tom dourado suave. Sebastian estava lá, encostado no carro com a postura casual de sempre, um sorriso preguiçoso no rosto e o celular em uma das mãos. Seus olhos se iluminaram quando me viu, e ele deslizou o celular para o bolso, acenando levemente.
— Vamos embora? — ele perguntou, a voz carregada de uma leve empolgação que me fez franzir o cenho, curiosa.
Eu sorri, ajeitando a alça da minha mochila no ombro.
— Vamos.
Pensei que voltaríamos direto para casa, mas Sebastian parecia ter outros planos. Dirigiu pelas ruas da cidade, o rádio tocando uma música italiana que eu não conhecia, mas que preenchia o espaço confortável entre nós. O caminho foi diferente do habitual, o que despertou minha curiosidade. As casas e o movimento da cidade foram ficando para trás até que ele estacionou perto de um campo amplo, onde o verde se espalhava até encontrar o horizonte.
Eu desci do carro, o vento leve bagunçando meu cabelo. Olhei ao redor, confusa. Havia uma pequena mercearia próxima, com uma fachada antiga, como aquelas que parecem ter histórias guardadas em cada tijolo.
— O que estamos fazendo aqui? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.
Sebastian apenas sorriu de um jeito travesso e caminhou até a mercearia. Poucos minutos depois, ele saiu empurrando uma bicicleta azul, com o quadro levemente arranhado pelo uso, mas ainda resistente. O sol refletia no metal, fazendo-o brilhar.
— Eu disse que iria te ensinar a pedalar — ele disse, o sorriso largo estampado no rosto.
Eu ri, um pouco nervosa.
— Achei que estivesse brincando aquele dia.
— Nunca brinco com coisas importantes. — Ele piscou para mim, apoiando a bicicleta com firmeza. — Vamos lá, Lilian. Hoje é o dia.
Olhei para a bicicleta e depois para ele, com uma mistura de ceticismo e empolgação.
— Isso vai ser desastroso.
— Só se você não confiar em mim.
Aquelas palavras me atingiram de um jeito estranho. Confiar. Talvez fosse exatamente isso que eu precisava fazer. Respirei fundo, tirei a mochila das costas e a deixei no banco do carro. Caminhei até ele, encarando o desafio de frente.
— Tudo bem. Me ensine.
Sebastian sorriu, satisfeito. Ele segurou a bicicleta com firmeza enquanto me mostrava onde colocar os pés nos pedais e como equilibrar o corpo. Eu montei na bicicleta com um pouco de dificuldade, sentindo-me estranhamente vulnerável. O banco parecia desconfortável, e o guidão parecia ter vontade própria, oscilando a cada movimento meu.
— Relaxa. Não precisa ficar tensa assim. — A voz dele era suave, encorajadora. Ele segurava a parte de trás do banco, me dando estabilidade. — Apenas sinta o equilíbrio. Não lute contra ele.
Tentei relaxar os ombros, mas era mais fácil falar do que fazer. Com o coração acelerado, comecei a pedalar devagar, sentindo o vento contra o rosto. Sebastian corria ao meu lado, segurando firme para que eu não caísse. A sensação de estar em movimento, mesmo que de forma desajeitada, era estranhamente libertadora.
— Isso! Você está indo bem! — ele exclamou, rindo, enquanto me encorajava.
Mas então, percebi que ele havia soltado o banco.
— Sebastian! Você me soltou! — gritei, o pânico tomando conta de mim.
— Você está pedalando sozinha! Está fazendo isso!
O choque da realização me fez perder o equilíbrio. Em um segundo desajeitado, a bicicleta derrapou, e eu caí na grama com um baque suave, soltando um grito abafado.
Sebastian correu até mim, ofegante de tanto rir.
— Você está bem? — perguntou, entre risadas.
Eu me sentei, olhando para ele com uma expressão indignada, mas logo comecei a rir também. A situação era ridícula demais para não rir.
— Você me enganou!
— Eu só queria que você visse que podia fazer isso sozinha.
Ele se sentou ao meu lado na grama, ainda sorrindo. O sol começava a se pôr, tingindo o céu de laranja e rosa, enquanto uma brisa suave passava por nós. O riso foi diminuindo, dando lugar a um silêncio confortável.
Eu olhei para ele, percebendo o quanto Sebastian tinha se tornado importante para mim em tão pouco tempo. Não era só o jeito carismático ou o sorriso fácil. Era o fato de ele sempre estar ali, me empurrando para fora da minha zona de conforto, me mostrando que eu podia ser mais do que a garota perdida em seu próprio luto.
— Obrigada por isso — murmurei, quebrando o silêncio.
Sebastian virou o rosto para mim, seus olhos verdes brilhando sob a luz dourada do entardecer.
— Eu só quero te ver sorrir, Lilian. Você merece isso.
Senti meu coração acelerar de um jeito que não tinha nada a ver com a bicicleta. O olhar dele era intenso, mas não de um jeito que assustava. Era reconfortante, como se ele enxergasse algo em mim que nem eu mesma conseguia ver.
— Você faz parecer tudo mais fácil — sussurrei.
Ele sorriu de novo, mas dessa vez o sorriso era mais suave, quase tímido.
— Talvez porque eu saiba como é difícil.
Aquelas palavras ficaram no ar, carregadas de um significado que ele não explicou, mas eu senti. Talvez Sebastian também tivesse suas próprias dores escondidas atrás do sorriso despreocupado.
Nos levantamos depois de um tempo, e ele insistiu para que eu tentasse mais uma vez. Eu montei na bicicleta novamente, desta vez com menos medo. E, surpreendentemente, eu consegui pedalar por alguns metros sem cair.
O grito de comemoração de Sebastian ecoou pelo campo, e eu não pude deixar de rir junto.
Depois, quando o sol já havia desaparecido no horizonte, sentamos novamente na grama, exaustos, mas felizes.
— Promete que não vai desistir de aprender? — ele perguntou, olhando para o céu estrelado.
— Prometo — respondi, sentindo uma paz que há muito tempo não experimentava.
E ali, sob o céu da Sicília, com o som do vento e o cheiro da grama fresca, percebi que talvez eu estivesse começando a encontrar algo que nem sabia que estava procurando.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Onilda Furlan
Sebastian é bem carinhoso com Lilian, um grande amigo
2025-03-17
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