Os dias seguintes passaram como uma névoa densa, cada um se arrastando em uma rotina que ainda me parecia estranha. A escola não era tão ruim quanto eu imaginava, especialmente com Sebastian sempre por perto, tornando tudo mais suportável. Mas havia algo que se recusava a sair da minha cabeça: Damian.
Ele era uma presença silenciosa, mas impossível de ignorar. Talvez fosse o contraste gritante entre nós dois. Enquanto eu me esforçava para me adaptar, ele parecia completamente alheio ao mundo ao seu redor, como se estivesse sempre em outro lugar — ou em outra vida.
Damian não estudava na nossa escola, o que fazia sentido, já que ele era cinco anos mais velho que eu e Sebastian. Mas o que não fazia sentido era o fato de ninguém saber exatamente o que ele fazia durante o dia. Ele saía cedo, às vezes antes mesmo do café da manhã, e voltava tarde, quase sempre carregando aquela expressão vazia, como se o mundo fosse apenas um cenário sem importância.
O mais estranho era que, sempre que eu tentava perguntar sobre ele, as respostas eram vagas.
— O Damian? Ah, ele tem seus… negócios — disse Sebastian uma vez, mudando de assunto rápido demais.
Negócios? Para alguém da idade dele? O tom de Sebastian deixava claro que não era algo para ser discutido.
Era como se Damian carregasse um segredo tão grande que o próprio ar ao seu redor parecia mais denso.
Naquela tarde, depois de um dia exaustivo na escola, cheguei em casa e fui direto para o jardim dos fundos. O sol da Sicília pintava o céu com tons alaranjados enquanto eu caminhava até o muro de pedra perto da piscina, o mesmo onde eu havia chorado semanas atrás. O som suave das ondas quebrando à distância me trazia uma estranha sensação de paz.
Sentei-me ali, balançando levemente as pernas, o vento bagunçando meu cabelo. Foi quando ouvi passos atrás de mim.
Virei-me devagar, e lá estava ele. Damian.
Ele vestia uma camiseta preta simples, calça jeans escura e um par de botas gastas. O cabelo preto estava um pouco bagunçado, e seus olhos aqueles olhos cinzentos como tempestade pareciam me atravessar.
Ele segurava um maço de cigarros e um isqueiro prateado, mas não acendeu nenhum. Apenas me observava, como se decidisse se valia a pena dizer algo.
— Você gosta desse lugar, não é? — ele disse, com a voz rouca, quebrando o silêncio.
Meu coração acelerou com o som da sua voz. Era a primeira vez que ele puxava conversa sem que fosse por acidente ou sarcasmo.
— É tranquilo — respondi, encolhendo os ombros. — O mar me acalma.
Ele se aproximou, parando ao meu lado. Não sentou, apenas ficou ali, olhando o horizonte.
— O mar também pode engolir você — murmurou, quase para si mesmo.
Havia uma escuridão em suas palavras que me fez arrepiar.
— Acho que depende de como você olha para ele — retruquei, tentando parecer confiante.
Ele sorriu de canto, mas não era um sorriso caloroso. Era enigmático, quase um desafio.
— Você sempre tenta ver o lado bom das coisas? — perguntou, finalmente acendendo o cigarro.
O cheiro do tabaco se misturou ao sal do mar, criando um aroma estranho e agridoce.
— Nem sempre — respondi. — Só tento sobreviver.
Ele soltou uma risada baixa, sem humor.
— Sobrevivência. Isso é interessante.
Ficamos em silêncio por um tempo, ouvindo apenas o som do mar e do vento.
A curiosidade queimava dentro de mim. Eu queria entender aquele mistério.
— O que você faz durante o dia? — soltei de repente, sem conseguir me conter.
Ele virou o rosto para mim, arqueando uma sobrancelha.
— Por que quer saber?
— Curiosidade.
Ele deu uma tragada longa, soprando a fumaça devagar antes de responder:
— Coisas que você não entenderia.
A resposta me irritou. Não era só o conteúdo, mas o tom, como se ele me considerasse ingênua demais para lidar com qualquer coisa além da minha bolha escolar.
— Tente-me — rebati, cruzando os braços.
Ele me encarou por um longo momento, e por um segundo achei que ele fosse dizer algo. Mas, em vez disso, deu de ombros.
— Melhor assim.
Frustrada, desviei o olhar para o mar novamente. O silêncio entre nós agora parecia mais pesado.
— As pessoas têm medo de você? — perguntei, sem pensar.
Ele riu de novo, um som rouco e amargo.
— Não. Elas têm medo do que acham que sabem sobre mim.
Essa resposta ecoou na minha mente. O que ele queria dizer com isso?
Antes que eu pudesse perguntar mais, ele apagou o cigarro na pedra e se afastou.
— Não se preocupe tanto com o que não pode entender, Lilian — disse, sem olhar para trás. — Isso só vai te consumir.
O som do meu nome saindo da boca dele me causou um arrepio inexplicável.
Fiquei ali por mais alguns minutos, tentando processar aquela conversa estranha, antes de finalmente me levantar e voltar para dentro da mansão.
O jantar foi silencioso, como de costume. Sofia estava envolvida em alguma conversa fútil com o Sr. Santorini, e Sebastian parecia distraído, mexendo na comida.
Damian não apareceu.
Naquela noite, deitada na cama, o sono parecia distante. Eu me perguntava o que havia por trás daquelas respostas evasivas, daquele olhar intenso.
Eu queria entender Damian Santorini.
Mas uma parte de mim já sabia: entender Damian seria mais perigoso do que parecia.
E o pior?
Isso só me fazia querer mais.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Onilda Furlan
precisa esclarecer esses mistérios do Damin e o por que ela foi morar aí com a tia.
2025-03-17
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