A obsessão por Damian começou a se infiltrar na minha mente como uma sombra que não queria ir embora. Ele estava lá, em todos os cantos, mesmo quando eu tentava me afastar. Cada palavra que ele dizia, cada gesto que fazia, parecia se transformar em algo maior, mais significativo do que realmente era. Eu não queria admitir para mim mesma, mas Damian tinha se tornado uma distração. Uma distração perfeita.
Com ele em minha mente, eu não precisava pensar na dor que ainda me consumia. Não precisava me lembrar que minha mãe já não estava mais ali para me dar o conforto que eu mais desejava. A cicatriz de sua morte, ainda tão fresca e dolorosa, parecia um fardo que eu carregava dia após dia. Eu sabia que precisaria de mais tempo para sarar, mas, no fundo, uma parte de mim não queria que essa dor desaparecesse, como se esquecê-la fosse uma forma de traí-la.
Hoje, o alívio veio sob a forma de uma proposta inesperada. Sebastian havia me chamado para sair. Ele estava mais animado do que o normal, e o sorriso fácil que exibia fazia com que ele parecesse uma pessoa diferente, mais leve.
— Ei, Lilian, que tal sair um pouco? — ele disse, entrando no meu quarto sem bater. — Não temos aula hoje, já que é sábado. Vou te mostrar a cidade.
A ideia de explorar a Sicília com Sebastian parecia tentadora, e algo em mim precisou aceitar. Eu precisava sair da mansão, precisava da sensação de ar fresco e de liberdade, mesmo que fosse por algumas horas.
— Vamos — respondi, tentando sorrir. — O que você tem em mente?
Ele levantou uma sobrancelha, quase como se estivesse jogando um jogo.
— Tem uma festa à noite. Só pessoas da cidade velha. Talvez você goste. — A expressão de Sebastian era misteriosa, e eu não conseguia dizer se ele estava me convidando para a festa porque queria ou se apenas me incluía na sua rotina, como sempre fazia.
Mas, de qualquer forma, a ideia de sair de casa e fazer algo fora do contexto sombrio que me envolvia era tentadora.
Fui até o closet e escolhi algo simples, mas que me deixava confortável. Eu não queria me preocupar com roupas ou com impressões, apenas queria respirar. Quando desci para o andar de baixo, a casa parecia mais tranquila do que nunca, com os ecos da mansão vazios, como se nada de importante estivesse acontecendo.
Sebastian me aguardava perto da porta, a chave do carro na mão. Ele parecia tranquilo, mas havia algo no seu olhar que eu não conseguia entender.
— Pronta para conhecer a cidade? — ele perguntou, um sorriso suave nos lábios.
Nós entramos no carro e saímos em direção ao centro histórico de Catania. A cidade era como um cenário saído de um conto antigo: ruas de pedra, edifícios de uma beleza desgastada pelo tempo e praças que pareciam ressoar com os ecos de séculos de história. Eu nunca imaginei que a Sicília fosse tão encantadora, mas era como se cada esquina tivesse uma história esperando para ser contada.
Enquanto Sebastian dirigia, ele falava sobre a cidade, sobre lugares que eu deveria visitar, e sobre o passado de Catania. O calor do dia ainda pairava no ar, mas a brisa vinda do mar trouxe uma leveza que eu não sabia que precisava.
— Sabe, Lilian, a cidade tem seus mistérios — disse Sebastian, quase como se fosse uma confissão. — Tem muito mais do que você imagina por aqui.
— Mistérios? — perguntei, curiosa.
Ele sorriu de lado, como se soubesse algo que eu não sabia.
— É... cada rua tem seu segredo. Cada prédio, cada praça... Catania é uma cidade cheia de história e não é só história que está escrita nos livros. — Ele fez uma pausa e olhou para mim com um olhar profundo, como se estivesse esperando que eu entendesse o que ele não dizia.
Eu fiquei em silêncio por um momento, absorvendo suas palavras. Não sabia se ele estava apenas falando sobre a cidade ou se havia algo mais ali, algo que ele queria me dizer e que ainda não estava pronto para revelar.
Chegamos ao centro histórico, e o que se desenrolou diante de mim era ainda mais fascinante do que eu imaginava. O mercado de peixe estava lotado de pessoas conversando animadamente, e o cheiro do mar misturava-se com o aroma forte dos temperos e peixes frescos.
— Vamos dar uma volta por aqui — sugeriu Sebastian, e seguimos pelas ruas estreitas. Ele parecia confortável entre as pessoas, como se fosse parte do cenário. Eu, por outro lado, me sentia um pouco deslocada.
Mas, ao andar ao lado de Sebastian, algo começou a mudar. Eu comecei a me sentir mais relaxada, como se a cidade e sua energia começassem a me absorver também. O calor do sol era abafante, mas ao mesmo tempo havia uma sensação de liberdade que fazia com que eu esquecesse a mansão, Damian, e tudo que estava me oprimindo.
O que parecia ser uma simples tarde de sábado começou a se tornar uma experiência mais intensa. Sebastian me levou para um café aconchegante, onde pedimos duas bebidas geladas, e passamos algum tempo ali, sentados, conversando sobre coisas simples.
Mas então, ele me disse:
— Você vai gostar da festa. Vai ser uma oportunidade de ver a cidade de um jeito diferente.
Eu o olhei, confusa.
— Festa? Eu não sei... Não sou muito boa em fazer amigos, Sebastian. — A confissão saiu sem que eu pensasse muito.
Sebastian olhou para mim, com uma expressão suave, quase como se compreendesse mais do que eu queria mostrar.
— Não precisa ser amiga de todo mundo, Lilian. Mas, pelo menos, saia da sua zona de conforto. Vai ser bom para você. — Ele sorriu. — E quem sabe, você até se diverte um pouco.
Eu hesitei por um momento, mas então me lembrei do quanto a dor da saudade da minha mãe estava me corroendo. Eu precisava fazer algo para afastar esse sentimento, nem que fosse por um momento.
A festa estava em um antigo casarão no topo da cidade velha. A casa era imponente, com uma grande entrada e uma vista deslumbrante para o mar. Ao chegarmos, a música alta podia ser ouvida até a porta, e uma energia vibrante tomava conta do lugar.
Sebastian me olhou, como se estivesse esperando minha reação. Eu olhei ao redor, sentindo uma mistura de excitação e nervosismo. Eu não sabia o que esperar.
— Vamos entrar — ele disse, puxando-me gentilmente para dentro.
O salão estava iluminado por luzes baixas e coloridas, e as pessoas estavam dançando e rindo, todas com expressões de diversão despreocupada. Eu sentia como se fosse uma estranha naquele ambiente, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim queria ser parte disso tudo.
Foi então que vi Damian. Ele estava ali, com um copo de bebida na mão, encostado em uma parede, observando tudo ao seu redor com aqueles olhos frios e intensos. Ele parecia alheio a tudo e a todos, como se fosse um observador do que acontecia, e não um participante.
Mas algo em seu olhar me puxou. Ele me viu, e nossos olhos se encontraram por um instante. Eu me senti desconfortável, mas ao mesmo tempo, não conseguia desviar o olhar.
Damian parecia estar distante, mas de alguma forma, ele me atraía mais do que eu poderia admitir. A confusão mental que ele causava em mim me afastava da dor, mas também me deixava mais perdida do que nunca.
Era como se tudo em mim girasse ao redor dele.
O que ele significava para mim?
E o que essa atração fatal estava fazendo com o resto da minha vida?
— Vamos dançar — disse Sebastian, quebrando meus pensamentos.
Eu olhei para ele e, sem saber como reagir, concordei. Mas, enquanto ele me puxava para a pista de dança, eu sabia que meu pensamento ainda estava em Damian.
E talvez, no fundo, eu soubesse que essa atração por ele não era apenas uma distração. Ela estava se tornando algo muito mais profundo. Algo do qual eu não poderia mais escapar.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Onilda Furlan
mistérios e mais mistérios
2025-03-17
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