O resto do dia se arrastou em um ritmo estranho. Depois da conversa na beira do muro, Sebastian tentou me distrair com histórias engraçadas da escola e das festas locais, mas minha mente continuava voltando para Damian. Era como se ele tivesse deixado uma marca invisível no ar, difícil de ignorar.
No jantar, a mesa comprida da mansão parecia ainda maior com o silêncio desconfortável que pairava. Sofia falava sobre negócios com o marido, um homem de olhar frio e postura imponente, como se cada palavra fosse uma ordem. Damian estava lá, claro, sentado do outro lado da mesa, girando preguiçosamente o garfo no prato, sem comer de fato. Sebastian, ao contrário, mantinha o clima leve, fazendo piadas, tentando preencher o espaço com sua energia contagiante.
Meus olhos cruzaram com os de Damian por um breve momento. Foi rápido, mas intenso. Um olhar carregado de algo que eu não conseguia decifrar — raiva? Tédio? Curiosidade? Talvez tudo isso junto. Desviei o olhar rapidamente, o coração batendo um pouco mais rápido do que deveria.
Depois do jantar, subi para o meu quarto, mas o sono parecia impossível. A mansão, com seus corredores longos e decoração clássica, parecia mais viva à noite, como se guardasse segredos em cada canto. As janelas altas deixavam a luz da lua entrar, projetando sombras nas paredes.
Decidi sair. Talvez o ar fresco ajudasse a acalmar minha mente.
Coloquei um moletom por cima da camiseta e desci silenciosamente as escadas. O som dos meus passos ecoava pelo mármore frio. Passei pela biblioteca — uma sala enorme com prateleiras que iam do chão ao teto, cheia de livros antigos com capas empoeiradas.
Foi quando ouvi vozes abafadas.
Me aproximei devagar, escondendo-me atrás da porta entreaberta. Damian estava lá dentro, conversando com o marido de Sofia. A tensão entre eles era palpável.
— Você não pode continuar se escondendo, Damian — o homem dizia, sua voz grave e autoritária. — O nome da nossa família carrega peso. Você tem responsabilidades.
Damian riu, mas sem humor.
— Suas responsabilidades, não minhas. Eu não pedi nada disso.
— Você é um Santorini, goste ou não.
Eu me afastei antes que eles me vissem, o coração acelerado. Damian sempre parecia distante, mas agora havia algo mais profundo, algo sombrio.
Saí pela porta dos fundos e segui até o jardim. O ar noturno estava frio, e o cheiro salgado do mar parecia mais intenso. Sentei-me novamente no muro de pedra, olhando para o mar escuro e infinito.
Pouco tempo depois, ouvi passos atrás de mim. Virei-me rapidamente, já esperando encontrar Sebastian, mas era Damian.
Ele parou a alguns metros de distância, segurando um cigarro entre os dedos, mas sem acendê-lo. A lua iluminava seu rosto, realçando as sombras sob seus olhos e o contorno definido da mandíbula.
— Está me seguindo? — ele perguntou, com um sorriso torto, mas o olhar sério.
— Engraçado. Eu ia perguntar o mesmo.
Ele riu baixo, aproximando-se e se sentando ao meu lado no muro. Ficamos em silêncio por alguns minutos, ouvindo o som das ondas quebrando nas rochas.
— Você ouviu, não foi? — ele perguntou de repente, sem olhar para mim.
Fingi não entender.
— Ouvi o quê?
Ele soltou um suspiro cansado.
— Não precisa fingir. Sei que estava lá.
Engoli em seco, hesitando antes de responder.
— Eu não queria ouvir. Foi sem querer.
Ele deu de ombros.
— Não importa.
O silêncio voltou, mas desta vez estava carregado de algo diferente. Um entendimento silencioso.
— Você parece… sempre bravo — comentei, tentando quebrar o gelo.
Damian riu, mas ainda sem humor.
— Não estou bravo. Só… cansado.
— Cansado do quê?
Ele virou o rosto para mim, seus olhos cinzentos brilhando à luz da lua.
— De tudo.
Havia uma honestidade crua em suas palavras que me desarmou. Não era o típico bad boy arrogante. Damian carregava algo dentro de si, um peso invisível.
— Eu sei como é — murmurei.
Ele me observou por um momento, como se estivesse tentando decifrar se eu realmente entendia.
— É mesmo?
Assenti, olhando para o mar novamente.
— Perder alguém… é um tipo de cansaço que nunca passa.
Ele não respondeu, mas seu silêncio foi mais significativo do que qualquer palavra. Ficamos ali por um tempo, apenas compartilhando o espaço e o peso das nossas próprias dores.
Quando finalmente me levantei para voltar para dentro, Damian segurou meu pulso levemente. Não foi um gesto brusco, mas firme o suficiente para me fazer parar.
— Lilian… — ele começou, mas parou, como se as palavras estivessem presas na garganta.
Olhei para ele, esperando.
— Não importa. Boa noite.
Soltei um suspiro, sentindo uma frustração estranha crescer dentro de mim. Ele sempre fazia isso — se aproximava e, no último segundo, se retraía.
— Boa noite, Damian.
Caminhei de volta para a mansão, mas, mesmo depois de deitar na cama, a sensação do toque dele ainda queimava na minha pele.
E, pela primeira vez em muito tempo, não pensei na minha mãe antes de dormir. Pensei em Damian Santorini.
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Atualizado até capítulo 75
Comments
Onilda Furlan
o que todos escondem???
2025-03-16
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