Antes do jantar com Amir
Caminhei pelo jardim do palácio para acalmar os ânimos, sentindo o vento quente do fim da tarde deslizar sobre minha pele. O aroma das rosas e das tâmaras maduras se misturava no ar, mas nada era suficiente para acalmar o turbilhão dentro de mim.
Minha mãe estava indo embora. Mesmo antes de sua partida, eu já sentia sua ausência como um peso sufocante em meu peito. Eu não queria ficar sozinha ali, rodeada por paredes douradas que mais pareciam uma jaula.
E então havia Amir. O homem que oscilava entre empatia e frieza, entre um toque gentil e uma ordem cruel. Eu nunca sabia o que esperar dele. Era um rei em todos os sentidos, imponente, arrogante, dono de um poder absoluto que nunca hesitava em usar. Mas, por vezes, eu via algo mais. Algo que me confundia e me fazia questionar qual versão dele era a verdadeira.
Eu estava perdida nesses pensamentos quando ouvi vozes ao longe.
Meu olhar se fixou na varanda elevada, onde Amir caminhava ao lado da Rainha-Mãe, sua postura rígida, seu olhar atento. Instintivamente me escondi, observando-os sem ser notada.
O tom dela era baixo, mas cortante.
— Amir, meu filho, estou ouvindo rumores inquietantes…
Ele parou de andar, voltando-se para ela com o cenho franzido.
— Rumores? E que tipo de rumores seriam esses?
Khalida aproximou-se, sua expressão serena, mas seus olhos carregavam algo perigoso.
— Há sussurros de que temos um traidor entre nós. Alguém que trama nas sombras contra a coroa.
Meu coração parou por um instante. Meu corpo gelou.
Ela estava falando sobre meu pai.
Mesmo sem mencionar seu nome, era claro que sua ameaça estava direcionada a mim.
Amir cruzou os braços, seu olhar endurecendo.
— Isso é um absurdo. Quem ousaria me trair? — Sua voz era fria, letal. — Eu destruiria qualquer um que tentasse, sem hesitação.
Um nó se formou em minha garganta. O sangue pulsava em meus ouvidos. Eu sabia que aquela conversa não podia se prolongar, não podia dar tempo para que qualquer suspeita recaísse sobre meu pai.
Antes que pudesse pensar duas vezes, meus pés se moveram por impulso.
— Amir?
Minha voz cortou o silêncio.
Os dois se voltaram para mim, surpresos.
— Layla? — Disse ele.
O olhar de Amir se estreitou. A Rainha—Mãe, por outro lado, sorriu de canto, discreta, como se já esperasse minha interrupção.
Eu engoli em seco.
— Eu… — Minha mente trabalhava rapidamente para encontrar uma desculpa. — Eu queria pedir desculpas à Khalida.
Amir arqueou uma sobrancelha, claramente surpreso com minha súbita mudança de postura.
Eu me aproximei, forçando um sorriso.
— Khalida, sinto muito pelo que disse mais cedo. Fui impulsiva, não quis ofendê-la.
Ela manteve o olhar fixo em mim por um momento, avaliando minhas palavras, antes de estreitar os lábios em um sorriso ensaiado.
— Ah, minha querida nora… — Sua voz era melosa, mas seu olhar era gélido. Ela segurou meu rosto entre as mãos, como se fosse um gesto de carinho, mas sua pressão era firme. — Esqueça, já passou.
Ela me abraçou, e foi nesse momento que sussurrou em meu ouvido:
— Que não passe desta noite.
Meu estômago revirou.
Afastei-me lentamente, forçando um sorriso para manter as aparências.
Amir nos observava atentamente, como se tentasse decifrar o que acontecia ali.
Khalida virou-se para ele, passando os dedos pelo ombro do filho.
— Continuamos nossa conversa depois, querido. Agora, vou ajudar Layla a se aprontar.
Então, colocou a mão em meu ombro, conduzindo-me para longe.
O caminho até meu quarto foi torturante. Ela repetia suas ameaças em um tom baixo e cortante, como se cada palavra fosse uma faca afiada sendo cravada em minha pele.
Minha vontade era de enfrentá-la, mas me limitei a cerrar os dentes, mantendo o controle.
— Quero que esteja perfeita esta noite — continuou ela, sua voz melosa escondendo a crueldade por trás de suas palavras. — Desde a lingerie até o batom.
Ela cuidou de cada detalhe, como se moldasse uma rainha que não era eu.
Quando me olhei no espelho, minha imagem refletida quase me pareceu a de outra mulher.
Vestia um longo vestido dourado, de tecido leve, fluindo como areia ao vento. O hijab combinava em tom perolado, bordado delicadamente com fios dourados. Meus lábios estavam pintados de vermelho, contrastando com minha pele.
Khalida sorriu, satisfeita.
— Agora sim. Uma verdadeira rainha.
Sua voz tinha um tom vitorioso.
A criada entrou no quarto, informando que Amir me aguardava.
— Lembre-se do que conversamos. — Khalida enfatizou.
Com um último olhar para ela, assenti, sentindo o peso do mundo sobre meus ombros.
Amir estava à minha espera no saguão principal.
Seu olhar percorreu minha figura lentamente, avaliando-me de cima a baixo.
— Você está perfeita — murmurou ele, estendendo a mão para mim.
Engoli em seco antes de aceitar. Sua palma estava quente contra a minha, sua presença era esmagadora.
Caminhamos lado a lado até o carro. O motorista abriu a porta, e entramos.
No silêncio do veículo, Amir girou o rosto em minha direção.
— Você ficou estranhamente dócil esta noite, Layla.
Eu mantive meu olhar fixo na paisagem noturna além da janela.
— Aprendi a escolher minhas batalhas, Majestade.
A tensão entre nós era densa, elétrica.
O coração parecia pulsar na minha garganta, e eu tentava, em vão, me acalmar. Mantive os olhos fixos na janela do carro, observando as ruas iluminadas de Doha passarem diante de mim como um borrão.
Amir, ao meu lado, digitava no telefone, alheio à minha presença. Sua postura era sempre impecável, o semblante impenetrável. O que será que se passava naquela mente?
De repente, o carro parou. Ao descer, fui recebida por uma pista de voo particular.
Meu estômago se revirou.
— Para onde estamos indo? — perguntei, tentando manter a calma.
Ele guardou o telefone no bolso e olhou para mim, um meio sorriso nos lábios.
— Não se preocupe, você vai gostar.
Segui seus passos até a aeronave. Entramos, e logo estávamos no ar.
Meu estômago revirou com a sensação da decolagem. Mantive os dedos apertados no apoio do assento, tentando ignorar a proximidade do Sheik ao meu lado.
— Relaxe, Layla — ele disse, a voz grave carregada de diversão.
— Estou perfeitamente relaxada — retruquei, sem desviar os olhos da paisagem lá fora.
A cidade de Doha se desenhava sob nós, uma extensão de luzes douradas e prateadas cintilando contra o véu escuro da noite. As ruas formavam um emaranhado brilhante, como estrelas presas ao solo. O palácio, com suas cúpulas iluminadas, parecia um monumento intocável no coração da cidade.
Mas foi quando nos afastamos da capital e sobrevoamos as dunas intermináveis que a verdadeira beleza se revelou. O deserto, tão implacável à luz do dia, transformava-se em um oceano de sombras e prata sob a lua cheia. Eu conseguia ver pequenos assentamentos isolados, as luzes piscando como vaga-lumes.
Sem perceber, sorri.
— Gosta do que vê? — Amir perguntou.
Eu hesitei, mas assenti.
— É... lindo.
— Eu sabia que você ia gostar.
Revirei os olhos. Ele falava como se me conhecesse. Como se entendesse o que me encantava, o que me fazia sorrir. Ele não sabia nada sobre mim.
Após alguns minutos, o helicóptero começou a perder altitude. Meus olhos se arregalaram quando vi o que nos aguardava no meio do deserto: um oásis cercado por tamareiras, com tendas luxuosas iluminadas por lanternas douradas. Pequenas cachoeiras de pedra despejavam água cristalina em uma lagoa cercada por almofadas e tapetes ricamente bordados. O cenário era surreal, como algo saído de um conto antigo.
Quando descemos, o ar quente e levemente úmido envolveu minha pele.
— Você... alugou tudo isso? Só para nós? — Minha voz saiu mais baixa do que eu pretendia.
— Eu queria privacidade para nosso jantar. — Amir me olhou com um brilho enigmático nos olhos.
Tentei ignorar o arrepio que percorreu minha espinha.
Eu me perguntava porque ele estava fazendo isso. Se nosso casamento era apenas um acordo, qual o sentido de tentar me surpreender? Talvez fosse uma forma de me dobrar, de conseguir o que queria mais rápido.
O Sheik estendeu a mão para mim.
— Vamos?
Ignorei sua mão e caminhei sozinha até a tenda.
Quando entramos, uma mesa estava montada com velas e travessas de comida fumegante. Os aromas das especiarias misturavam-se ao perfume das flores ao redor. Havia pratos de cordeiro macio com molho de romã, tâmaras recheadas, arroz perfumado com açafrão e nozes, além de uma variedade de pães e pastas.
Sentamos frente a frente. O silêncio pairou entre nós por alguns instantes enquanto servíamos a comida.
— Você ainda está surpresa? — Amir quebrou o silêncio, observando-me.
— Estou tentando entender sua intenção.
Ele sorriu de lado.
— Não posso simplesmente querer que você aproveite nossa primeira noite?
— Pode. — Peguei um pedaço de pão, evitando seu olhar. — Mas sinto que não é somente essa a sua intenção.
Amir tomou um gole da bebida em sua taça, um suco de tâmaras escuro e espesso.
— Talvez eu só queira que me veja de outra forma.
Soltei uma risada baixa.
— De que forma?
— Como alguém que pode ser mais do que apenas um inimigo para você. Até porque, teremos um filho juntos.
Fiquei em silêncio. O peso de suas palavras pairou no ar.
Continuei comendo, tentando manter o foco na refeição. Mas então o Sheik se inclinou levemente para frente, e, antes que eu percebesse, passou o polegar pelo canto da minha boca.
Meu corpo enrijeceu. Sua pele quente roçou contra a minha, e o gesto, íntimo demais, inesperado demais, fez meu coração falhar uma batida.
Meus olhos encontraram os dele. Havia um brilho de provocação misturado com algo mais profundo.
— Molho. — Ele mostrou o dedo antes de limpá-lo com um guardanapo.
Minha respiração ficou presa na garganta.
Mas, em vez de responder, simplesmente tomei um gole da minha bebida, fingindo que aquilo não me afetara.
Mas afetou. Cada toque dele me afetava, por mais que eu odiasse.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Silvana Ibiapina
gente tô achando que essa sogra não é tão ruim assim e ela sabe o que faz e sabe que a nora será uma rainha em tanto
2025-04-10
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Rose Gandarillas
A mãe dela é uma senhora estrategista...forja situações, alinhavando suas intenções. Rainhas precisam ser assim!
2025-04-08
1
Patrocinia Vianna
eu acho que ele não é estéril Ione eu acredito que eles vão ter filhos gêmeos
2025-04-06
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