O destino sempre teve um jeito cruel de me arrancar da minha zona de conforto. Por mais que eu tentasse traçar minha vida nos meus próprios termos, meu passado sempre dava um jeito de me puxar de volta.
Eu tinha 23 anos e já estava noiva. Meu casamento estava planejado, apesar de meu pai não apoiar, meu futuro estava seguro, ou pelo menos era o que eu pensava. Minha vida era na Inglaterra, ao lado da minha mãe, longe das correntes invisíveis que me prendiam à cultura do meu pai. Estava no último ano da faculdade de Relações Internacionais, pronta para seguir carreira e construir algo meu.
Escolhi seguir o Islã por convicção, não por obrigação. Mas isso não significava que eu aceitava a submissão imposta às mulheres no Catar.
Meu noivo, Nathan, era britânico, um homem gentil, respeitoso, com quem eu compartilhava sonhos e planos.
Mas bastou um pedido, um único convite do meu pai, para que tudo começasse a desmoronar.
Meu pai, Faisal Rahmani, era um homem poderoso no Catar. Um conselheiro do próprio sheik, Amir Al-Fayad. Durante anos, ele aceitou que eu vivesse com minha mãe na Inglaterra, mas nunca deixou de lembrar que meu verdadeiro lugar era ao lado dele. E dessa vez, ele não pediu: ele ordenou que eu fosse visitá-lo.
Então, lá estava eu, sentada no banco traseiro de um carro luxuoso, atravessando as ruas de Doha. O céu estava tingido pelo dourado do entardecer, refletindo nos arranha-céus imponentes e nos vastos desertos ao longe. Era um contraste quase poético, assim como eu.
Meio inglesa, meio árabe.
Meio livre, meio presa.
A casa do meu pai era um palácio por si só. Altas colunas de mármore, jardins exuberantes, servos silenciosos. Assim que desci do carro, vi minha madrasta e minhas irmãs me esperando.
Meu pai saiu pela grande porta principal, imponente como sempre. Seu thobe branco estava impecável, e o olhar severo analisava cada detalhe meu.
— Layla, finalmente voltou — disse ele, e, mesmo sendo um homem rígido, seu tom carregava um certo orgulho.
— Salam aleikum, pai — murmurei, inclinando-me ligeiramente e beijando sua mão em sinal de respeito.
— Wa aleikum salam. Seja bem-vinda.
Minha madrasta e minhas meias-irmãs me cumprimentaram. Não éramos íntimas, mas sempre houve respeito.
— Estás diferente. Mais britânica do que árabe. — Disse meu pai.
Engoli em seco, mas mantive a postura.
— Sou ambas as coisas.
Ele sorriu de lado, mas não respondeu. Apenas indicou a entrada da casa com um aceno, e eu o segui.
Após algumas trocas de palavras formais, jantamos juntos. Eu sabia que aquele mundo não me pertencia mais, mas tentei me adaptar, ao menos por aqueles dias.
Na manhã seguinte
A casa estava silenciosa quando acordei. Minha madrasta e minhas irmãs tinham saído para o mercado, e eu preferi ficar.
A criada, uma mulher chamada Nadia, me serviu café árabe e tâmaras enquanto eu me sentava no pátio. Ela era mais velha, os olhos carregando histórias que provavelmente nunca seriam contadas.
— Está gostando de estar de volta, senhorita?
Ri sem humor.
— Voltar implica que este lugar já foi meu lar algum dia.
Ela me lançou um olhar de compreensão, mas não comentou.
Foi então que o telefone tocou.
— Alô?
A voz do meu pai soou do outro lado da linha, grave e urgente.
— Layla, preciso que faças algo para mim.
— O quê?
— Deixei um documento importante no meu escritório. Preciso dele imediatamente.
Franzi a testa.
— Por que não pede para um dos empregados levá-lo?
— Porque confio mais em ti.
Suspirei, sabendo que não adiantava discutir.
Peguei o envelope onde ele indicou e chamei um carro. O motorista era um homem calado, e o trajeto até o palácio do sheik foi silencioso.
Até que, finalmente, cheguei.
O palácio De Amir Al-Fayad era um monumento ao poder absoluto. Pilares imensos, cúpulas douradas e seguranças por toda parte. Assim que saí do carro, senti os olhares sobre mim.
Os guardas me estudavam com desconfiança.
Um deles se aproximou.
— Identifique-se, mulher.
Engoli a irritação. Era assim ali. Mulheres não falavam sem serem autorizadas.
O guarda virou-se para o motorista.
— Quem é ela?
Finalmente, pude responder.
— Layla Rahmani, filha de Faisal.
Ao ouvirem o nome do meu pai, os guardas se entreolharam e assentiram. Era um nome de respeito.
Fui escoltada até o salão principal, um espaço colossal de mármore e ouro. Um lustre gigantesco pendia do teto, refletindo luzes nas paredes ornadas.
E então, o vi.
O sheik Amir Al-Fayad.
Ele estava sentado à cabeceira da mesa, rodeado por ministros e conselheiros. Seu thobe branco era impecável, o bisht negro com bordados dourados simbolizava sua posição. Os olhos escuros eram como lâminas afiadas, cortantes, avaliadores.
Meu pai estava ao lado dele, e se levantou assim que me viu.
— Minha filha, obrigado por trazer os documentos.
Caminhei até ele, sentindo cada olhar masculino cravado em mim. Estendi o envelope.
Amir observou o gesto, mas não moveu um músculo. Havia algo nele... algo que me causou um arrepio. Algo dentro de mim dizia que minha vida nunca mais seria a mesma depois desse dia.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Maricoelho
O pai dela planejou o encontro dos dois, quando a chamou para levar os documentos os documentos .
2025-02-23
25
Luzia Lúcia Silva
altora coloca foto de perto estou morrendo de corozidade para saber como é os personagens /Grin//Grin//Grin//Grin//Grin//Chuckle//Chuckle//Chuckle/
2025-03-04
1
Laura Boloko
É isso que eu amo nessa autora mesmo a história ser em português entra um pouco de língua original dos protagonistas dependendo do país
2025-03-03
2