====== CAPÍTULO 12 ======

No dia seguinte

O sol começava a se pôr sobre Doha, tingindo o céu com tons dourados e avermelhados, enquanto o palácio real fervilhava com os preparativos finais para a cerimônia. O aroma de incenso e rosas pairava no ar, misturando-se ao perfume de especiarias trazidas das terras mais distantes do reino. Dentro dos aposentos luxuosos, cercada por servas e familiares, eu me preparava para o Nikka, a cerimônia de casamento.

Minha pele estava adornada com ouro, e meu vestido branco reluzia sob a luz das lanternas. O tecido luxuoso era bordado com fios de ouro branco e cravejado de pedras preciosas. Um longo véu cobria meus cabelos, preso por uma coroa com diamantes. Minhas mãos, pintadas com a hena da noite anterior, repousavam sobre meu colo, trêmulas, mas firmes.

Minha mãe, Aysha e Samira ajustavam os últimos detalhes, o silêncio carregado de emoções não ditas. O rosto de minha mãe estava marcado pelo sofrimento, mas seus olhos, brilhantes com lágrimas contidas, eram duros como o aço.

A porta se abriu com um rangido sutil, e Khalida entrou com sua presença imponente. Suas vestes escuras e ricamente bordadas reforçavam sua posição. Aysha e Samira trocaram um olhar rápido antes de se curvarem levemente em sinal de respeito.

— Podem me deixar a sós com minha nora. — Sua voz era calma, mas carregava a autoridade de quem estava acostumada a ser obedecida.

Minha mãe deu um passo à frente, sua fúria transbordando.

— Já não basta forçar minha filha a esse casamento? O que mais você quer?

A tensão no quarto tornou-se palpável. Khalida sustentou o olhar de minha mãe, impassível, como se sua raiva não passasse de um aborrecimento menor.

— Mãe. — Interrompi antes que a discussão se intensificasse. — Por favor.

Ela se virou para mim, os olhos cheios de dor e indignação. Por um instante, pensei que fosse se recusar a sair. Mas, após um momento de hesitação, respirou fundo e se retirou, lançando um último olhar de advertência para a Rainha-Mãe.

A mulher mais poderosa do reino esperou a porta se fechar antes de se aproximar de mim.

— Você está deslumbrante, Layla. Como uma verdadeira rainha.

Meus lábios se apertaram em uma linha fina.

— Diga logo o que veio fazer aqui. — Minha voz não vacilou.

Ela me observou por um momento, os olhos escuros avaliando cada detalhe do meu rosto.

— Eu sei que me odeia neste momento. Mas um dia entenderá meus motivos. No dia em que for mãe... Mãe do futuro governante deste país.

Engoli em seco, sentindo meu coração apertar no peito.

— Eu jamais obrigaria meu filho a se casar com alguém que não ama. Com alguém que o odeia.

Ela sorriu, um sorriso frio e calculado.

— Você diz isso agora. Mas o tempo ensina lições que a juventude não compreende.

Cruzei os braços, sentindo a raiva se misturar à impotência.

— Não precisa fingir bondade comigo, Khalida. Eu já conheço sua verdadeira face.

Ela ergueu a mão e, para minha surpresa, tocou meu rosto com um gesto quase afetuoso. Seus olhos brilharam com algo que não consegui decifrar.

— Acredite, Layla... Você pode me odiar o quanto quiser. Mas um dia entenderá. E quando esse dia chegar, saberá que sempre poderá contar comigo.

Antes que eu pudesse responder, ela se virou e saiu do quarto, sua silhueta desaparecendo pelo corredor.

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Minutos depois, o momento chegou

O grande salão do palácio real era uma obra de arte, decorado com tapeçarias douradas, lanternas penduradas em arcos altos e um chão de mármore branco refletindo a luz quente dos candelabros. O cheiro de almíscar e rosas preenchia o ambiente, misturando-se ao murmúrio discreto dos convidados.

Meu pai estava ao meu lado. Seu semblante era sério, e sua mão segurava a minha com firmeza, mas sem apertar. Ele sabia o peso do que eu estava prestes a fazer.

À frente, Amir me esperava. Vestia-se com a imponência de um rei: um kandura branca impecável, sobreposta por um bisht preto com detalhes dourados. Sua postura era firme, os traços do rosto inexpressivos, mas seus olhos, intensos e penetrantes, me analisavam com uma atenção que fazia meu coração, sem querer, acelerar.

O Imã, líder religioso, um homem respeitado e de presença austera, aguardava pacientemente.

Meu pai fez um gesto reverente antes de pousar minha mão sobre a de Amir. Um choque percorreu minha pele no contato com a dele.

O Imã começou a cerimônia com voz solene.

— Em nome de Alá, o Clemente, o Misericordioso, estamos reunidos aqui para selar esta união sagrada. Que este matrimônio traga honra e prosperidade à família real e ao povo do Catar.

A sala silenciou completamente. Meu coração martelava.

— Amir Al-fayad, aceita Layla Rahmani como sua esposa, perante Alá e perante todos os presentes?

Amir não hesitou. Sua voz soou firme, inabalável:

— Aceito.

O Imã se voltou para mim.

— Layla Rahmani, aceita Amir Al-fayad como seu esposo, perante Alá e perante todos os presentes?

O ar parecia mais pesado. Fechei os olhos por um breve instante antes de responder:

— Aceito.

O contrato nupcial foi colocado diante de nós. Amir assinou primeiro, sua caligrafia precisa e determinada. Em seguida, peguei a caneta. Meus dedos hesitaram por um segundo antes de traçar minha assinatura no pergaminho.

O líder religioso proclamou:

— Diante de Alá e de todos os presentes, declaro Amir Al-Fayad e Layla Rahmani oficialmente casados. Que esta união seja abençoada e traga prosperidade.

O salão explodiu em aplausos e cânticos. Os fotógrafos capturavam cada instante, os flashes iluminando nossos rostos.

Amir virou-se para mim, seu olhar intenso. Então, inesperadamente, segurou minha mão e a levou aos lábios, depositando um beijo respeitoso sobre minha pele.

Meu coração parou por um instante.

Não era um gesto romântico. Era um gesto de domínio.

Engoli em seco, desconcertada, enquanto as mulheres da minha família choravam de emoção e os convidados elogiavam a cerimônia.

De acordo com a tradição, logo após o casamento, as mulheres seguiram para um salão separado para continuar as comemorações.

Eu fui levada para lá, cercada por minha mãe, Aysha, Samira, Najla e outras mulheres da família real. O perfume de jasmim e incenso tornava o ambiente acolhedor, mas minha mente estava em outro lugar.

No salão oposto, Amir e os homens do palácio celebravam da forma tradicional, longe dos olhares femininos.

Eu sabia que, em breve, nos reencontraríamos.

E que a noite estava apenas começando.

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