Dois dias depois
O aroma do chá de hortelã pairava no ar, misturando-se ao perfume doce das tâmaras frescas dispostas sobre a mesa. O salão da casa da minha família estava impecável, e minha madrasta, Najla, sentava-se elegantemente no sofá bordado, com uma postura serena, como se o que estivesse prestes a acontecer não fosse nada além de um pequeno ajuste no curso da minha vida. Minhas irmãs me observavam com expressões que oscilavam entre curiosidade e leve irritação.
— Layla, por que essa relutância? — Najla perguntou, mexendo sua xícara com leveza. Seus olhos, sempre astutos, analisavam cada nuance da minha expressão. — O sheik Amir não me parece ser um homem ruim. Muito pelo contrário, todos o respeitam, e não por medo, mas por admiração. Ele nunca tomou outra esposa além de Zafira, e você sabe que homens como ele geralmente têm pelo menos três mulheres. Isso já deveria dizer algo sobre sua personalidade.
Eu soltei um suspiro exasperado, sentindo a familiar frustração apertar meu peito. Elas nunca entenderiam. Eram gazelas que haviam nascido em uma gaiola e acreditavam que estavam livres.
— Isso não tem nada a ver com ele ser bom ou ruim, Najla. — Minha voz saiu afiada, meu olhar queimando sobre o dela. — Isso tem a ver com liberdade. Com escolha. Com o simples fato de que, enquanto homens podem ter quantas esposas quiserem, nós não temos sequer o direito de dizer "não".
Yasmin bufou, cruzando os braços.
— Você está sendo dramática, Layla. Poderia ter sido muito pior. Poderia ter sido um velho nojento e cruel. Mas não… É o Amir Al-Fayad. O homem mais poderoso do Catar, bonito, influente, e que nunca foi conhecido por tratar uma mulher mal. Você devia se sentir sortuda.
Soltei uma risada descrente, jogando minha xícara na mesa com um leve baque.
— Sortuda? Você realmente acha que eu devo agradecer por ser tratada como um objeto? Você quer que eu me ajoelhe e beije os pés de Khalida por isso?
Najla suspirou, como se minha teimosia fosse um peso sobre seus ombros.
— Você aceitou a proposta, minha querida. Agora já está feito. O que você pode fazer é torcer para que a mulher dele nunca acorde.
Meu corpo ficou rígido. Meu estômago afundou.
— O que quer dizer com isso?
Ela tomou um gole do chá antes de responder, sua voz carregada de um peso que me fez prender a respiração.
— Não a conheci bem, a vi poucas vezes… Mas sei que ela é completamente diferente do sheik Amir. Zafira era… cruel, é o que dizem.
Minha pele arrepiou.
— Cruel?
— Vivia para o luxo, para as joias e para o status. Tratava os empregados como lixo e não suportava a ideia de que Amir tomasse outra esposa, por medo de perder todo o poder que ganhou.
Engoli em seco.
— Que horror.
— Ninguém gostava dela… além de Amir, é claro. — Najla deu de ombros. — Mas, ainda assim, ele nunca a humilhou, nunca tomou outra mulher. Respeitou-a mesmo depois que ela entrou em coma. Isso não te diz nada sobre ele?
— Isso me diz que ele é um homem de palavra. — Minha voz saiu fria. — Mas também me diz que ele não pensou duas vezes antes de quebrar essa promessa quando seu precioso trono esteve em risco.
O silêncio caiu sobre nós como um véu pesado. Najla e minhas irmãs não tinham resposta para isso.
...----------------...
Horas mais tarde
Eu estava no meu quarto, um livro aberto em meu colo, mas as palavras eram borrões sem sentido. Minha mente estava em outro lugar. O peso da decisão, o peso da chantagem… tudo pressionava contra meu peito.
Então, o telefone vibrou ao meu lado. O nome na tela fez meu coração saltar.
Eleanor, minha mãe
Atendi, e sua voz veio carregada de urgência.
— Layla, pelo amor de Deus, me diz que isso que estão dizendo na mídia não é real.
Fechei os olhos, inspirando fundo.
— É real.
— O quê? — O choque em sua voz fez meu estômago se revirar. — Minha filha, você enlouqueceu? Você já está noiva! Você sempre odiou essa cultura, odiou tudo isso, e agora vai se casar com um sheik?
Engoli o nó na minha garganta.
— Eu não tive escolha, mãe.
O silêncio do outro lado foi cortante.
— Do que você está falando?
Meus olhos arderam, mas minha voz permaneceu firme.
— A Rainha-Mãe forjou provas contra meu pai. Se eu não aceitasse esse casamento, ela as tornaria públicas e ele seria morto. Era isso ou deixá-lo morrer.
Um soluço escapou dela.
— Isso é um absurdo… isso é cruel! Eu não vou permitir! Eu estou indo para o Catar, vou resolver isso, vou...
— Não! — Minha voz saiu dura, urgente. — Mãe, por favor. Não se coloque em risco. Eu já aceitei. Se eu voltar atrás agora, o pior pode acontecer. Você sabe como as coisas funcionam aqui.
— Maldito dia em que deixei você voltar para esse lugar…
Houve um longo silêncio.
Então, sua voz veio baixa, quase um sussurro.
— Quando será o casamento?
— Em sete dias.
Ela fungou, tentando recuperar o fôlego.
— Layla, minha filha… não faça isso. Você não vai se adaptar. Você não vai aguentar.
Fechei os olhos, sentindo cada palavra cortar minha alma.
— Eu não tenho outra opção. Mas eu sou forte, mãe. Eu não vou me abater.
O silêncio dela era cheio de dor.
— Se acha que eu vou deixar você enfrentar isso sozinha, está muito enganada. Estou indo para aí amanhã.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto.
— Mãe…
— Não tente me impedir.
E então, a ligação caiu.
Me joguei contra o travesseiro, o livro esquecido ao lado. Minha vida havia virado de cabeça para baixo tão rápido que eu mal conseguia respirar.
E o pior?
O pior ainda estava por vir.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Rose Gandarillas
Posso está enganada, mas tô achando que mamãe, a víbora-chifruda, tem seu letal veneninho no estado de coma da cruel Zefira.🤔🤔🤔
2025-04-07
1
Raimunda Morais
só espero q quando a cobra a cortar o sheik já esteja amando Ayla pra poder defender ela
2025-04-05
0
Iracema Vianna
A sheika velha é uma cobra 🐍 mas sei que a primeira esposa vai pro além e Amir vai morrer de amor por Layla e eles serão felizes
Só uma sugestão que sejam gêmeos os descendentes, um casal pro Amir fica de joelho pela Layla
2025-02-06
4