Meu pai ergueu-se assim que me viu. Seu olhar avaliador deslizou sobre mim, e um sutil gesto de sua mão me chamou para mais perto. Segurei o envelope com firmeza, sentindo os olhares cravados em minha pele como lâminas invisíveis.
— Minha filha, obrigado por trazer os documentos.
Caminhei até ele, ignorando o peso da atenção masculina ao meu redor. Estendi o envelope, mantendo a postura firme. Um silêncio breve se instalou antes que um dos assistentes o pegasse das minhas mãos.
Foi então que senti.
O olhar dele.
O Sheik
Seu olhar era intimidador.
Negros, intensos, com a mesma profundidade de uma tempestade noturna.
Meu pai retomou a conversa com os outros ministros, abrindo o envelope e começando a discutir um documento que aparentemente continha dados econômicos e políticos sobre uma aliança comercial com a União Europeia.
Fiquei em silêncio, como era esperado de mim.
Mas escutei.
A troca de palavras era carregada de tensão. Alguns conselheiros estavam apreensivos quanto a um possível acordo de livre comércio com o Ocidente, temendo que as regras impostas prejudicassem os interesses nacionais. Outros defendiam que a globalização era um caminho inevitável, e que a aliança traria benefícios imensuráveis ao Catar.
O debate crescia, cada voz tentando sobrepor a outra, enquanto eu apenas observava.
E então, Amir olhou para mim.
Foi um gesto quase imperceptível, mas senti. Como se o próprio ar ao meu redor tivesse mudado.
Um segundo de hesitação. Um instante onde ninguém falava.
E então, ele falou.
— Você, o que pensa disso?
O silêncio caiu como um trovão.
Os olhares se voltaram para mim em choque e incredulidade.
Mulheres não eram convidadas a participar dessas discussões.
Meu pai franziu a testa, confuso.
— Amir…
— Quero ouvir a opinião dela — interrompeu o sheik, sem tirar os olhos de mim.
Meu coração bateu forte, mas não hesitei.
— Depende do ponto de vista que desejam adotar. Se a questão for a preservação dos interesses nacionais, então qualquer acordo precisa ser analisado com cautela. Mas se o foco for crescimento e influência, então é impossível ignorar o impacto positivo de uma aliança bem estruturada com o Ocidente.
Houve um murmúrio na mesa. Amir entrelaçou os dedos, ainda me estudando.
— Explique.
Respirei fundo, mantendo meu tom seguro.
— A União Europeia busca expandir parcerias no Oriente Médio devido à instabilidade econômica em algumas regiões do bloco. O Catar, com sua força no setor energético, tem uma posição de vantagem para negociar melhores termos. No entanto, fechar esse acordo sem considerar as cláusulas ambientais e as pressões políticas pode tornar o país vulnerável a sanções futuras.
O conselheiro à esquerda do sheik arqueou as sobrancelhas.
— Você está sugerindo que evitemos o acordo?
Neguei com a cabeça.
— Estou sugerindo que negociem melhor. Se o Catar garantir uma posição estratégica sem abrir mão de suas políticas internas, pode sair mais forte. Mas para isso, precisam compreender como os europeus pensam e quais são seus reais interesses por trás da proposta.
Um silêncio denso tomou conta do ambiente.
E então, Amir sorriu.
Foi um sorriso discreto, quase imperceptível. Mas estava lá.
— Interessante.
Meu pai parecia incerto se deveria se orgulhar ou me repreender.
— Layla estuda Relações Internacionais… — disse ele, como se precisasse justificar o que acabara de acontecer.
O sheik manteve os olhos em mim por mais um instante antes de acenar com a cabeça.
— Você pode se retirar.
Fiz um gesto respeitoso, recuando alguns passos antes de virar e sair do salão.
Enquanto eu me dirigia para a saída do palácio, uma figura imponente surgiu à minha frente.
Uma mulher, vestida com um abaya elegante de tecido fino, adornado com detalhes dourados. Seu rosto era marcado pela experiência, mas havia uma beleza atemporal em seus traços. Os olhos, tão negros quanto os de Amir, me encaravam com um interesse silencioso.
— Deixe-me adivinhar… você é Layla, certo?
Sua voz era firme, mas não hostil.
Assenti, mantendo a postura.
Ela sorriu de leve, avaliando-me com um olhar demorado.
— Como você cresceu… O Ocidente fez bem a você.
Havia um tom implícito naquela frase. Algo que não era exatamente uma crítica, mas também não era um elogio.
— Crescer é inevitável — respondi, mantendo minha voz calma.
Ela ergueu uma sobrancelha.
— Você é corajosa. Isso é bom… e perigoso.
Eu sabia quem ela era.
A Rainha-Mãe, Khalida Al-Fayad.
Mãe de Amir.
Uma mulher poderosa, influente, e acima de tudo, estrategista.
— Venha, vamos tomar um chá — disse ela, e apesar de soar como um convite, era uma ordem.
Caminhamos até um pátio reservado, onde serviçais preparavam um chá de cardamomo. O aroma era rico, familiar.
Nos sentamos, e após alguns momentos de silêncio, outra mulher se juntou a nós.
— Minha filha, Amal — disse Khalida, apresentando-a.
Amal era mais jovem. Seus olhos eram avaliadores, como os da mãe.
— Como andam as coisas na Inglaterra? — perguntou ela, casualmente.
— Normais. Estou prestes a me formar em Relações Internacionais e estou noiva.
Levantei minha mão, mostrando o anel.
Khalida observou a joia por um longo segundo antes de tomar um gole do chá.
— Noiva?
Amal franziu a testa.
— Ele é… britânico?
O tom de reprovação era evidente.
Suspirei, já esperando aquela reação.
— Sim, ele é britânico. Assim como uma parte de mim.
Meu tom era educado, mas firme.
Khalida sorriu de canto, como se tivesse acabado de confirmar algo que já suspeitava.
O assunto mudou para trivialidades depois disso.
E quando a conversa terminou, eu sabia que aquele chá não tinha sido apenas um gesto de cortesia.
Foi um teste.
Ao sair do pátio e caminhar pelos corredores do palácio, me direcionando à saída, me deparei com uma cena inesperada.
O Sheik vinha na direção oposta, acompanhado por meu pai e outros homens.
Nossos olhares se cruzaram.
Foi apenas um instante.
Mas foi o suficiente para me fazer sentir um frio na espinha.
Desviei o olhar rapidamente, mantendo minha expressão impassível, e continuei andando.
Sem olhar para trás.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Selma
Gostei da postura dele com ela, respeita ela e, ainda lhe deu direito de explanar sua opinião sem preconceito.
2025-02-27
23
Celia Teotônio
adoro estórias de Sheiks dominadores, machos alfa que depois viram cadelinhos nas mãos das mulheres kkkkkkkkkk
2025-03-20
0
Rosemeire Ramos
está interessante a história ela não é submissa mulher forte corajosa e esperta boa história ansiosa pra desenrolar
2025-02-03
13