====== CAPITULO 11 ======

Dois dias depois

Eu estava em mais uma reunião importante, cercado por meus conselheiros e ministros. O salão do palácio estava iluminado pela luz do sol que entrava pelas grandes janelas, mas o clima no ambiente era pesado. Os problemas não paravam de surgir, e cada decisão que eu tomava parecia gerar mais conflitos.

— Majestade, a situação no porto está crítica — disse o ministro de infraestrutura, com um tom de urgência. — Os atrasos na construção do novo terminal estão custando milhões. Precisamos tomar uma decisão rápida.

— E os trabalhadores? — perguntei, cruzando os braços. — Eles estão satisfeitos com as condições?

— Não exatamente — respondeu ele, hesitante. — Há reclamações sobre as horas extras e a falta de equipamentos de segurança.

— Então resolva isso — ordenei, minha voz firme. — Não podemos permitir que o progresso do Catar seja manchado por negligência. Contrate mais trabalhadores, compre os equipamentos necessários e garanta que as condições sejam adequadas. Não quero mais atrasos.

Os conselheiros assentiam, anotando minhas instruções. A reunião continuou com discussões sobre alianças comerciais e investimentos estrangeiros, mas minha mente estava dividida. Em alguns dias, eu me casaria com Layla, e aquela decisão pesava mais do que eu gostaria de admitir.

Após a reunião, saí do salão e fui para outro compromisso importante. Minha vida era uma sucessão interminável de reuniões, eventos e decisões. Cada minuto do meu dia era planejado com precisão, e não havia espaço para erros.

Enquanto caminhava pelos corredores do palácio, minha mãe apareceu, com um sorriso satisfeito no rosto.

— Amir, os preparativos para o casamento estão quase concluídos — ela disse, acompanhando meu passo. — Tudo está sendo feito com o maior cuidado. Layla será uma esposa digna do trono.

— Espero que sim — respondi, sem olhar para ela. — Mas não se esqueça de que isso é temporário. Não quero que ela se sinta presa.

Minha mãe riu baixinho, como se minha preocupação fosse ingênua.

— Ela será tratada com todo o respeito, meu filho. Mas não se preocupe, Layla é forte. Ela saberá cumprir seu papel.

Eu não respondi. Sabia que minha mãe estava manipulando tudo por trás dos panos, mas, no momento, não havia como escapar daquela situação. O Catar precisava de um herdeiro, e eu precisava cumprir meu dever.

A brisa fresca da tarde soprava suavemente, balançando meu hijab enquanto eu caminhava ao lado de minha mãe pela Corniche de Doha. O céu tinha um tom dourado à medida que o sol começava a se pôr, refletindo nas águas calmas do Golfo Pérsico.

Minha mãe parou, olhando para mim com uma expressão aflita.

— Não consigo acreditar que você vai mesmo fazer isso… Layla, deixe-me levá-la de volta para a Inglaterra. Seu lar é lá, não aqui.

Suspirei, sentindo um nó apertado em minha garganta.

— Mãe, já disse… É a vida do meu pai que está em jogo. Além disso, só Deus sabe o que farão com minhas irmãs depois.

Ela passou a mão pelo rosto, frustrada.

— Eu vivi um inferno ao lado do seu pai por causa das nossas diferenças culturais. Eu vi o que significa ser uma estrangeira nesse mundo… Não consigo imaginar você vivendo isso, Layla.

Engoli em seco, meus olhos fixos no horizonte.

— Eu já decidi. Não tem volta.

Ela me puxou para um abraço apertado, e senti seu corpo tremer com um soluço silencioso.

— Minha filha… você sempre foi tão forte. Mas dessa vez… não quero que seja forte. Quero que seja livre.

Fechei os olhos, deixando uma lágrima escorrer.

Eu queria isso mais do que qualquer coisa.

Mas já era tarde demais.

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Três dias depois

A noite estava insuportavelmente quente, e o ar era carregado com o perfume de incensos e flores.

Vesti um longo vestido vermelho, cravejado de pedras preciosas, refletindo o luxo que me cercava, mas sem carregar nenhuma alegria. Meus dedos tremiam levemente enquanto minhas irmãs terminavam de ajustar meu véu.

Aysha sorriu para mim, sua expressão carregada de emoção.

— Você está linda, Layla.

Meu reflexo no espelho mostrava uma mulher adornada como uma rainha, mas com olhos que carregavam o peso de uma prisão invisível.

A batida dos daffs, os tradicionais tambores de mão, ecoou pelo salão.

Era hora de entrar.

A cerimônia de Noite da Hena começava. E, com ela, o último vestígio da minha liberdade desaparecia.

A música ecoava pelo ambiente, e eu sentia o peso de todos os olhares sobre mim. Minha madrasta, minha mãe, Amal e ela, Khalida, estavam ali, observando cada movimento.

Sentei-me em uma cadeira decorada com flores e tecidos luxuosos, enquanto uma mulher começava a pintar minhas mãos com hena. Os desenhos intricados eram uma tradição antiga, mas, naquele momento, pareciam apenas mais uma corrente me prendendo a um destino que eu não escolhi.

Minha mãe me olhava com preocupação, seus olhos cheios de lágrimas. Eu sabia que ela queria gritar, queria confrontar Khalida, mas se segurava, sabendo que qualquer atitude impulsiva só pioraria as coisas.

Após a pintura, as mulheres começaram a se aproximar, colocando ouro em minhas mãos. Era um gesto simbólico, uma bênção para o casamento, mas cada pedaço de ouro que tocava minha pele parecia pesar mais do que o anterior.

— Que Alá abençoe sua união — disse uma das mulheres, colocando um bracelete de ouro em meu pulso.

Eu agradeci com um aceno de cabeça, mas meu coração estava pesado. Naquele momento, eu sabia que minha vida nunca mais seria a mesma. E, por mais que eu tentasse me convencer de que estava fazendo a coisa certa, uma parte de mim ainda se perguntava se havia alguma saída.

Mas, no fundo, eu sabia que não havia. O destino estava traçado, e eu teria que seguir em frente, não importando o custo.

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