A noite caía sobre o palácio, e o céu estava tingido de tons de laranja e roxo, como se o deserto estivesse se despedindo do sol com uma última explosão de cores. Eu estava em pé diante da enorme janela do meu quarto. O vento soprava suavemente, trazendo consigo o aroma do mar e das flores que adornavam os jardins do palácio. Era um momento raro de quietude, mas minha mente estava longe de estar em paz.
Os jornais haviam sido implacáveis nos últimos dias. Manchetes gritavam sobre a falta de um herdeiro, questionando minha capacidade de liderar e sugerindo que minha autoridade estava em jogo. "Amir Al-Fayad: Um trono sem sucessor?"; "O futuro do Catar em risco?"; "A linha de sucessão ameaçada pela ausência de um herdeiro". Cada palavra era uma facada, um lembrete constante de que, por mais que eu governasse com mão firme, minha posição não era inabalável. O povo esperava um herdeiro, e a corte exigia um. A pressão era insuportável.
Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. O peso da coroa nunca havia sido tão pesado.
Foi então que minha mãe entrou no quarto. Ela caminhou silenciosamente até ficar ao meu lado, também olhando para a vista noturna. Por um momento, nenhum de nós falou. O silêncio entre nós era carregado de significados não ditos.
— O que temíamos aconteceu — ela finalmente disse, sua voz suave, mas firme. — Os jornais, os rumores, a pressão... Tudo está se acumulando, Amir. Você não pode mais ignorar isso.
Eu olhei para ela, sentindo um nó se formar no meu estômago. Minha mãe sempre foi uma mulher de poucas palavras, mas quando falava, suas palavras carregavam o peso de séculos de tradição e poder. Eu sabia que ela estava certa, mas admitir isso era como admitir uma derrota.
— O que você sugere? — perguntei, minha voz mais baixa do que eu gostaria.
Ela virou-se para mim, seus olhos escuros e penetrantes fixos nos meus.
— Escute, se você não quer se casar novamente de forma permanente, podemos fazer um contrato. Algo temporário, discreto. Uma moça de boa família, alguém que entenda a importância disso. Após ela dar à luz um herdeiro, vocês se separam. Ninguém precisa saber dos detalhes. Faisal com certeza concordará com o acordo. Ele sempre foi leal a nossa família, ao reino. Para ele, seria uma honra entregar uma de suas filhas para gerar o futuro governante do Catar.
Eu franzi a testa, sentindo um misto de repulsa e consideração pela ideia. Era uma solução prática, mas ao mesmo tempo me parecia uma traição aos princípios que eu havia jurado seguir.
— Você está sugerindo que eu use uma mulher como instrumento? — perguntei, minha voz carregada de ceticismo.
Minha mãe não vacilou.
— Estou sugerindo que você faça o que precisa ser feito para garantir o futuro do nosso reino. Zafira... — ela hesitou por um momento, como se medindo as palavras. — Zafira não pode mais cumprir seu papel. Você sabe disso. E você não pode continuar vivendo no passado.
Eu olhei para longe, sentindo o peso das palavras dela. Ela estava certa, mas isso não tornava a decisão mais fácil.
— Faça como preferir, mas faça — ela finalizou, sua voz suave, mas implacável. — O Catar depende de você.
Ela deixou o quarto, deixando-me sozinho com meus pensamentos. O vento continuava a soprar, mas agora parecia carregar um peso adicional, como se o próprio deserto estivesse sussurrando que eu não tinha escolha.
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Um tempo depois, decidi visitar Zafira. Seu quarto era silencioso, iluminado apenas pela luz suave de um abajur. Ela estava deitada na cama, tão frágil quanto sempre parecia desde que entrou em coma. Ao seu lado estava sua mãe, Soraia, uma mulher de cabelos grisalhos e olhos cansados, mas cheios de amor pela filha. Soraia vivia no palácio desde o acidente, dedicando cada momento ao cuidado de Zafira.
— Majestade — Soraia disse com um aceno de cabeça respeitoso ao me ver entrar.
— Soraia — respondi, retribuindo o gesto. — Como ela está?
— A mesma de sempre — ela respondeu, sua voz carregada de uma tristeza que nunca desaparecia. — Mas ela está confortável.
Eu acenei com a cabeça e me aproximei da cama. Zafira parecia estar em paz, seu rosto sereno, como se estivesse apenas dormindo. Segurei sua mão, sentindo a frieza de sua pele. Passei um longo momento ali, em silêncio, olhando para ela.
Eu sempre respeitei Zafira. Quando a escolhi como minha esposa, acreditava que poderíamos construir algo além de uma união estratégica. Mas os anos passaram, e embora eu a respeitasse e a considerasse, nunca houve verdadeiros sentimentos entre nós. Ainda assim, eu havia feito uma promessa. E agora, estava prestes a quebrá-la.
Antes de sair, olhei para ela mais uma vez.
— Eu não posso cumprir minha promessa — murmurei, minha voz quase um sussurro. — Sinto muito.
Meu tom era decidido, mas havia uma frustração profunda em mim. Eu estava traindo não apenas Zafira, mas a mim mesmo. No entanto, o reino da minha família estava acima de qualquer coisa. Acima de promessas, acima de sentimentos, acima de tudo.
Saí do quarto com o coração pesado, mas com a mente clara. Eu tinha um dever a cumprir, e não havia mais espaço para hesitações.
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Atualizado até capítulo 52
Comments
Selma
Deve ser horrível para ele comandar um país e, não ter autonomia de viver sua vida livre para suas escolhas.
2025-02-27
6
Euridice Neta
Diante da insistência e de não gostar da Zafira, será que ela está mesmo em coma ou tem dedo da mãe de Amir? Sei lá acho ela muito fria e arrogante...
2025-03-22
0
Quase cinquentona🥴🥺😔😩
Misericórdia, a mulher séria apenas uma encubadora! Quanta falta de amor nessa sugestão , principalmente, partindo de outra mulher ! 🤮
2025-03-03
11