Você é virgem?

    Naquela noite, enquanto o silêncio da cabana era quebrado apenas pelo som distante do mar, decidi que não dava mais para adiar. Eu não podia mais fingir que Belinda era apenas uma mulher que o destino jogou no meu caminho. Ela era mais. Algo dentro de mim já sabia disso.

— Belinda... — comecei, minha voz mais baixa que o habitual. Ela levantou os olhos para mim, curiosa, e senti meu coração acelerar. — Eu não vou dizer que te amo. Amar é uma palavra séria demais, e... eu nunca soube o que realmente é isso. Mas eu me importo com você. Muito mais do que achei que pudesse me importar com alguém.

Ela franziu as sobrancelhas, um brilho de decepção passando rapidamente por seus olhos. Antes que pudesse dizer qualquer coisa, continuei:

— O que quero dizer é... quero construir algo com você. Quero... tentar. Quero que a gente descubra o que é isso juntos. Nada mais importa para mim desde que você esteja aqui.

Seu rosto relaxou, e um sorriso tímido apareceu. Não era o sorriso provocador de sempre, mas um que parecia carregar um peso diferente, algo mais profundo. Ela assentiu devagar, mas não falou nada de imediato.

Aproximando-se, sentou ao meu lado na cama, e começamos a conversar. Contei sobre minha infância, histórias simples de antes de descobrir sobre minhas raízes e como minha família foi envolvida em algo que nunca escolheu. Lembrei de tardes preguiçosas com meu pai, que adorava cozinhar, e como minha mãe ria das tentativas desastrosas dele na cozinha.

— E você? — perguntei, minha voz suave. — O que você gosta de fazer? Comer? Alguma lembrança boa da sua família?

Ela hesitou, talvez escolhendo as palavras.

— Gosto de música — respondeu, com um pequeno sorriso. — Piano, especialmente. Aprendi com a minha mãe, e gosto de doces. Chocolates, na verdade. — Seus olhos brilharam enquanto falava. — Quando penso no futuro, quero liberdade, Alessandro. Quero viver sem olhar por cima do ombro ou me sentir presa ao que esperam de mim, sei que na minha família sempre corremos riscos, mas mesmo assim quero enfrentar ao lado do meu marido o que vier..

Assenti, absorvendo cada palavra.

— Você já... ficou com alguém antes? — perguntei, talvez sem pensar, mas a curiosidade me corroía.

Ela balançou a cabeça.

— Não. Nunca.

Fiquei surpreso, incapaz de disfarçar.

— Como assim, nunca? Você tem... quantos anos mesmo?

— Vinte e quatro — respondeu com naturalidade.

Eu pisquei, tentando assimilar.

— E nunca se relacionou? Como isso é possível?

Belinda deu de ombros, uma pontada de humor no olhar.

— Na máfia, só se transa depois de casar. É tradição.

Aquilo me pegou de surpresa. Assenti lentamente, tentando processar o que ela dizia. Ela, com toda sua provocação e charme, era completamente intocada. Não porque não pudesse, mas porque escolhera respeitar um código de honra que, francamente, eu nunca entendia.

— Então, você nunca... — Comecei, mas ela me interrompeu.

— Não. Nunca.

Ela riu do meu espanto e me encarou com sinceridade.

— Eu sei que parece estranho, mas... sabe o que eu quero? — Ela respirou fundo, me olhando nos olhos. — Quero que aqui, esse lugar, essa cabana, seja o palco do momento perfeito. Algo que eu nunca esqueça.

Eu respirei fundo, sentindo o peso do que ela estava dizendo. Passei os dedos pelo meu cabelo, tentando achar as palavras certas.

— Belinda, eu não sou seu marido... ainda. — Acrescentei a última palavra, quase sem perceber.

— Mas é como se fosse — ela retrucou com firmeza.

Aquela frase, simples e direta, fez algo se quebrar dentro de mim. Ela não precisava de papéis, de tradições, de rituais. Ela só queria a gente. E eu não podia negar que também era isso o que eu queria.

Mais tarde, quando a noite caiu sobre a cabana e o calor da fogueira afastava o frescor úmido do ar, decidimos nos sentar para comer. O peixe assado que eu havia pescado mais cedo estava suculento, temperado com ervas que encontramos perto do riacho. Belinda pegou um pedaço com as mãos, sem cerimônias, o sorriso dela iluminado pelas chamas.

— Acho que estou me acostumando com isso. — Ela riu, mordendo o peixe. — Não é a vida que imaginei, mas... gosto da simplicidade.

Eu ri, apontando o espeto de madeira para ela.

— É mesmo? Você, a garota da máfia, acostumada com luxo, dizendo que prefere uma fogueira e peixe assado?

Ela estreitou os olhos, brincando de me fuzilar.

— Eu não disse que prefiro! Só que não é tão ruim quanto imaginei. — Ela deu de ombros e olhou ao redor, como se absorvendo o ambiente. — Além disso, esse lugar tem algo... mágico.

Assenti, encarando a escuridão lá fora.

— Algarve é assim. Selvagem, imprevisível. Rica e difícil ao mesmo tempo. A ilha é cheia de contrastes. — Fiz uma pausa, lembrando das histórias que Rafael me contava. — Você sabia que essa região já foi um refúgio para piratas? O litoral tem enseadas escondidas, perfeitas para esconder navios e tesouros.

— Então você me trouxe para o território dos piratas? — Belinda arqueou uma sobrancelha, provocativa.

— Os piratas de verdade já se foram, mas os "piratas modernos" ainda aparecem. Mercenários, contrabandistas... como os que vimos hoje. A verdade é que Algarve é uma terra de oportunidades. Quem sabe aproveitá-la, prospera. Quem não entende as regras daqui, é engolido. — Suspirei, mexendo o carvão da fogueira com um galho. — Foi isso que Rafael me ensinou quando cheguei.

Belinda apoiou o queixo na mão, os olhos brilhando de curiosidade.

— Me fala mais sobre ele. Você parecia admirar muito Rafael.

— Ele era... diferente. Justo. Cuidava das pessoas da ilha como se fossem sua família. Foi ele quem organizou as coisas aqui, colocou ordem no caos. Mas não era só isso. Ele também sabia que Algarve não é para qualquer um. Você precisa ter respeito pela terra. — Sorri, lembrando de algo. — Rafael sempre dizia que Algarve te dá tudo o que você precisa, mas nunca o que você quer. É como um teste constante.

Belinda franziu a testa, pensativa.

— Isso faz sentido. Essa ilha é linda, com suas praias e falésias... mas, ao mesmo tempo, parece implacável. É como se a natureza aqui fosse ao mesmo tempo, uma aliada e uma inimiga.

— Exatamente. — Peguei um pedaço de peixe e continuei. — Não é só a natureza. O povo daqui também é assim. Forte, resiliente, mas desconfiado. Você tem que ganhar a confiança deles. E isso leva tempo.

Ela me olhou por um momento, como se algo tivesse passado pela mente dela.

— Acho que entendo porque você gosta daqui. É como você. Duro por fora, mas... com algo mais por dentro.

Fiquei em silêncio, deixando as palavras dela ecoarem. Não sabia como responder, então apenas ofereci um pequeno sorriso.

— E você? — perguntei, mudando de assunto. — Se pudesse escolher, onde gostaria de viver?

Belinda pareceu surpresa com a pergunta, mas respondeu sem hesitar.

— Em algum lugar onde eu não precise me esconder. Onde as pessoas não me julguem pelo meu sobrenome ou pelo meu passado. Talvez... em um lugar como este, mas com menos armas e mercenários.

Ri, mas entendi o que ela queria dizer.

— Algarve pode ser isso para você. Mas precisaremos de tempo para limpar o território dos problemas. — Olhei para o horizonte escuro. — E se a gente ficar aqui tempo suficiente, quem sabe? Talvez seja nosso refúgio.

Ela sorriu, balançando a cabeça.

— Você está mesmo falando como se já tivéssemos um futuro juntos, hein?

— Temos, Belinda. — Respondi firme. — Agora é só decidir como vamos escrevê-lo.

A conversa fluiu, leve e sincera, enquanto a fogueira queimava ao nosso lado. O céu acima era um espetáculo de estrelas, e, por um breve momento, o mundo parecia ser apenas nosso.

— Vamos para dentro, não posso mais evitar, quero que me faça sua de corpo e alma — ela falou e nublado pelo tesão que irradiava de nós assenti.

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Comments

Cleise Moura

Cleise Moura

A Belinda quando quer não deixa pra depois ela vai pra cima mesmo uma mulher totalmente segura do que quer kkk

2025-03-21

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Dulce Rodrigues

Dulce Rodrigues

ESA garota é decidida, firme, sabe perfeitamente bem o que quer e corre atrás. Toma as rédeas da situação,👏👏

2025-03-26

0

Carolaine Teixeira

Carolaine Teixeira

eita porreta essa garota e a tacante concerteza 🫶🫶🤣🤣

2025-01-23

1

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