Abrindo o coração.

    Pela manhã, já me sentia melhor, a febre havia cedido e a mente estava mais clara. As memórias da noite anterior vinham em flashes: Belinda me beijando, cuidando de mim, a medicação... e depois, o vazio. Olhei ao redor, a cama estava vazia e a cabana em completo silêncio. Um frio na espinha me fez levantar rapidamente.

Abri a porta e, ao vê-la do lado de fora, não disfarcei o alívio. Mas algo estava diferente. Ela estava distante, o olhar fixo no horizonte, os olhos brilhando com uma emoção que não consegui identificar de imediato.

Caminhei até ela e me sentei ao seu lado. Belinda não me encarou, não soltou uma piada, não me provocou com seu humor habitual. A tensão entre nós era palpável.

— Belinda... o que aconteceu? — tentei puxar assunto, mas ela apenas balançou a cabeça, como se não quisesse falar. Quando começou a se levantar, segurei sua mão suavemente.

— Espera... por favor. Me diz o que houve — insisti, tentando entender aquela mudança.

Ela parou, respirou fundo e, com uma lágrima escorrendo pelo rosto, respondeu:

— Não é dor física... é no coração. Alessandro, eu sinto muito... pelo que aconteceu com a sua família. Sinto muito por ter nascido na máfia, por ser quem sou... mas não posso mudar isso.

Meu corpo gelou. As palavras dela confirmaram o que eu temia: eu havia dito algo durante a febre. Dei um passo para trás, tentando processar o que fazer a seguir.

— Belinda... eu... — comecei, mas ela me cortou.

— Eu sei que não sou igual aos russos, Alessandro. Minha família não é como eles. Mas se isso te atinge ao ponto de me ignorar ou me maltratar, então... talvez seja melhor eu me afastar.

O peso das palavras dela me atingiu como um soco. Não queria que ela se afastasse, mas também não sabia como lidar com tudo isso. Respirei fundo e tomei coragem para finalmente abrir meu coração.

— Não quero que você se afaste, Belinda. Vou te contar tudo... — comecei, tentando controlar a voz. — Meus pais eram contadores, pessoas simples. Mas mais tarde descobri que eles tinham ligações com a máfia russa. Quando isso veio à tona, tudo desmoronou. Perdi tudo... minha família foi destruída por eles.

Ela me olhava, as lágrimas escorrendo silenciosamente.

— Sei que você nunca seria como os malditos russos, Belinda, sei que seu pai e sua família são honrados, reconheci isso, mas... tenho medo. Medo de sentir algo por alguém que pode ser tirado de mim, assim como meus pais foram.

Ela não disse nada. Apenas se aproximou e me envolveu em um abraço apertado. Ali, naquela troca silenciosa, senti que, apesar das barreiras, ela entendia minha dor. E, pela primeira vez, senti que não estava sozinho.

Nosso abraço se transformou em algo mais. Quando nossos lábios se encontraram novamente, o mundo ao nosso redor pareceu desaparecer. O beijo era suave, mas cheio de emoção, como se estivéssemos finalmente encontrando um ponto de equilíbrio em meio ao caos. Ficamos assim por um tempo, apenas sentindo a conexão que cresceu entre nós, deixando as palavras de lado.

Depois de alguns minutos, Belinda se afastou um pouco, mas manteve seus braços ao redor de mim, o olhar cheio de curiosidade.

— Me conta mais sobre você... — ela pediu, a voz suave, quase como se tivesse medo de quebrar o momento.

Eu respirei fundo, sabendo que não podia mais esconder quem eu era.

— Eu morava em outro lugar antes... mas vim para esta ilha quando tinha 18 anos. Precisava de um recomeço, longe de tudo o que aconteceu com minha família. Desde então, esta ilha se tornou minha lar, a ilha mesmo sendo um ponto histórico e turístico tem seu lado pobre e doloroso, isso seu bisavô sempre cuidou, o povo amava ele, por isso tem tanto medo de Andreas assumir, ele vai destruir as riquezas da ilha.

— Eu odeio meu tio, meu pai, meu avô e meu irmão odeiam a forma como ele força contato físico com as meninas, meu bisavô deixou o comando da ilha e da região assim como a mansão e as riquezas para mim e meu irmão, mas não queremos — respondeu.

— Deveria aceitar, ter alguém com mãos firmes e amor cuidando do nosso povo seria uma grande benção — respondi reconhecendo finalmente que ela tinha um bom coração.

Ela assentiu, ouvindo atentamente, os olhos nunca desviando dos meus.

— Rafael... ele era um homem bom. Cuidava da ilha e das pessoas aqui como se fossem sua própria família. Todos o respeitavam, e ele sempre fazia o possível para manter a harmonia. Antes que ele partisse o medo de que Andreas e os outros assumisse o controle era grande, e as coisas começaram a desmoronar. Eles não têm o mesmo cuidado, o mesmo respeito pelas pessoas ou pela ilha.

Belinda franziu a testa, absorvendo minhas palavras.

— Parece que você realmente se importa com este lugar... e com as pessoas aqui.

— Sim, me importo. Não queria ver tudo o que Rafael construiu ser destruído por ganância e descaso. Mas é difícil lutar contra isso sozinho e não é uma luta minha.

Ela apertou minha mão com carinho, um leve sorriso se formando em seus lábios.

— Você não está mais sozinho, Alessandro. Talvez eu não seja o que você esperava, mas estou aqui. E juntos, podemos encontrar uma forma de fazer a diferença, mesmo que seja pequena.

Aquelas palavras tocaram algo profundo em mim. Pela primeira vez em muito tempo, senti que talvez não precisasse carregar esse fardo sozinho. Belinda não era apenas uma presença temporária; ela era alguém que, de alguma forma, entendia minhas lutas e estava disposta a ficar ao meu lado.

— Obrigado, Belinda... — murmurei, sentindo uma gratidão genuína. — Ter você aqui faz mais diferença do que você imagina.

— Mas não se iluda Sr. Alessandro, não quero casar com você — falou sorrindo e fiquei feliz por isso, a ver rindo depois de pisar tanto na bola com ela.

Ela apenas sorriu, e ficamos ali, abraçados, enquanto a tempestade começava a enfraquecer em nós. Naquele momento, senti que estávamos prontos para enfrentar qualquer coisa juntos.

Mais populares

Comments

Cleise Moura

Cleise Moura

O Alessandro perdeu todos da família só não foi encontrado o corpo da irmã dele, isso significa que ela pode está viva em algum lugar, eu aqui pensando será a mulher do Pietro a irmã dele?

2025-03-21

0

Maria Ines Santos Ferreira

Maria Ines Santos Ferreira

a irmã dele deve estar viva

2025-03-14

0

Ely Ana Canto

Ely Ana Canto

pode ser a Giulia 🤔🤔🤔🤔🤔

2025-03-05

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!