O jato pousou suavemente na pista particular, mas a tensão no ar parecia palpável. Quando descemos, fui a última a sair, observando os outros caminharem à minha frente. Lá estava Andreas, parado ao lado de um carro luxuoso, com as mãos nos bolsos e um sorriso que parecia mais uma máscara do que um gesto genuíno.
Ele abriu os braços, teatral, enquanto nos aproximávamos.
— Finalmente! A família está completa. Que honra recebê-los!
Senti um arrepio desagradável ao ouvir sua voz. Havia algo nele que sempre me incomodou, uma vibração errada que nunca consegui ignorar. Olhei de lado para Giulia, que retribuiu o olhar com uma expressão preocupada.
— Não gosto dele — murmurei para ela.
Giulia inclinou-se um pouco em minha direção, como se conspirássemos.
— Nem eu. Não sei por quê, mas o olhar dele... é como se ele estivesse sempre tramando algo.
Antes que eu pudesse responder, senti o braço de Enzo ao redor da minha cintura. Meu irmão, sempre protetor, apertou-nos levemente contra ele, como se quisesse reforçar que estava ali para nos defender de qualquer coisa.
Andreas não perdeu a chance de se aproximar. Ele fez questão de abraçar minha mãe primeiro, exagerando no gesto ao ponto de parecer falso.
— Eduarda, sempre tão encantadora — ele disse, segurando suas mãos por mais tempo do que o necessário.
Meu pai não disse nada, mas o olhar que lançou a Andreas foi suficiente para que ele soltasse minha mãe imediatamente.
Quando Andreas tentou repetir o gesto comigo, dei um passo para trás antes que ele pudesse me alcançar. Ele riu, mas havia algo em seus olhos que mostrava que não gostou da rejeição.
— Ainda tão reservada, Belinda? — ele comentou, tentando transformar o momento em algo leve.
Pietro, meu avô, interveio vindo para minha frente antes que a situação ficasse mais desconfortável.
— Andreas, isso já é suficiente. Vamos direto ao ponto.
— Claro, claro — Andreas respondeu, levantando as mãos como se estivesse se rendendo.
Ele ainda tentou abraçar Giulia, mas Enzo veio para frente dela.
— Não precisamos dessa proximidade Andreas, minha noiva não quer abraços, nem minha prima, enfim, deixe nossas mulheres longe das suas mãos.
— Vamos para os carros — Pietro anunciou, ignorando completamente Andreas enquanto fazia um sinal para que os motoristas preparassem os veículos.
Enquanto caminhávamos para os carros, Andreas continuava insistindo em sua simpatia forçada. Ele fazia perguntas triviais, tentava brincar com Felícia, minha prima, e até ofereceu ajuda para carregar uma mala que já estava sendo levada por um dos seguranças.
— Andreas, basta — Cesare disse de forma direta, parando abruptamente e olhando nos olhos dele. — Estamos aqui por Rafael, não para lidar com você.
Andreas fez uma expressão teatralmente ofendida, mas recuou.
— Só estou tentando ser um bom anfitrião — ele murmurou.
Quando entramos nos carros, percebi que ninguém além dele parecia confortável. Giulia segurava minha mão com força, Enzo estava mais quieto do que o normal, e até minha mãe, geralmente tão afável, estava séria e distante.
No banco de trás, observei Andreas pelo retrovisor. Algo nele me incomodava profundamente. Sua presença parecia uma ameaça velada, como uma sombra que pairava sobre nossa família.
Enquanto o carro avançava pelas estradas sinuosas rumo à ilha, um pensamento passou pela minha mente: será que meu avô sabe exatamente quem Andreas é para mantê-lo por perto todos esses anos?
Eu sabia que, cedo ou tarde, descobriríamos. E temia que a resposta não fosse nada boa.
A sala estava carregada de tensão. Cada um dos filhos de Rafael ocupava um lugar ao redor da longa mesa de madeira escura, enquanto o patriarca, frágil e deitado em uma cama hospitalar, observava todos com olhos cansados, mas determinados.
— Meus netos, quanta saudade de vocês, agora posso finalmente morrer em paz — falou ele devagar.
— Oi vozinho, estamos aqui, olha — apontei Giulia que também tinha lágrimas nos olhos — Enzo vai casar, ele foi fisgado como o senhor dizia.
— Que linda moça, se aproxime querida — falou esticando a mão, Enzo a abraçou e ela se aproximou e ficamos ali juntos antes de ser interrompidos.
Todos os filhos estavam próximos a ele, enquanto eu, Enzo, minha mãe, e Giulia permanecíamos um pouco mais afastados, sem querer invadir o espaço dos demais, meu pai e meu avô estavam atrás observando tudo atentos.
Rafael limpou a garganta, quebrando o silêncio:
— Chamamos todos vocês aqui porque quero que saibam, em vida, quais serão as disposições do meu testamento. Não haverá dúvidas ou disputas depois da minha partida.
Os olhos de Andreas brilharam por um momento, e notei que outros filhos de Rafael também trocaram olhares discretos, como se já calculassem o tamanho de suas fatias do bolo. Rafael respirou fundo e continuou.
— Cada um de vocês receberá uma das casas que possuo em Portugal. Elas são propriedades significativas, que podem lhes proporcionar uma vida digna.
Houve murmúrios na sala. Andreas franziu o cenho, já visivelmente insatisfeito.
— O restante dos meus bens — incluindo a mansão, as terras, as empresas e o fundo familiar — será dividido igualmente entre meus dois bisnetos, Enzo e Belinda.
O silêncio na sala foi ensurdecedor, mas durou apenas um segundo antes de explodir em confusão.
— Isso é um absurdo! — exclamou Andreas, levantando-se da cadeira. — Dois jovens que mal viveram sob o teto da família vão ficar com tudo?
— Eu não aceito isso! — outra voz masculina ecoou, seguida de mais reclamações.
Rafael levantou a mão, sua voz fraca, mas ainda autoritária.
— Eu tomei minha decisão, e não serei questionado. Enzo e Belinda têm a capacidade e o caráter para cuidar do que construí.
Aquelas palavras pareciam combustível para a revolta. Andreas virou-se para mim, os olhos quase faiscando.
— É você, garota mimada, acha que merece isso?
Levantei-me, sentindo meu coração bater forte no peito, mas segurei firme.
— Eu não quero nada disso! — respondi, a voz mais alta e clara do que eu esperava. — Não preciso do dinheiro do meu bisavô para ter valor. Mas vocês deviam ter vergonha de transformar o momento de despedida de um homem tão importante em uma briga por herança!
Minha mãe arregalou os olhos e meu pai se aproximou cerrando o punho, mas Andreas não parecia intimidado. Ele deu um passo em minha direção.
— Cale a boca, menina. Você não sabe nada sobre esta família.
Antes que ele pudesse continuar, meu pai se colocou entre nós e, com um movimento rápido e certeiro, acertou um soco no rosto de Andreas.
— Não fale assim com a minha filha!
Andreas cambaleou para trás, segurando o rosto, enquanto Pietro e Enzo correram para segurar Cesare antes que ele fosse além.
— Pai, por favor! — implorei, segurando o braço dele. — Isso não vai resolver nada!
Os gritos se intensificaram, os filhos discutindo entre si, meu pai era forte e ficava tentando se soltar, e eu no meio, tentando restaurar a calma. Então, de repente, um som cortou o caos.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 43
Comments
Lise Borba
Pq Sofia que também é neta não está na despedida?
Lembrando das outras estórias Pietro e Sofia são filhos de Afonso e Duda é filha de Pietro criada como irmã dele.
2025-02-01
0
Cleise Moura
Cesare e sangue quente ninguém tira barato ele mete a porrada 👊👊😂😂
2025-03-21
0
Cleise Moura
Eita essa estória ja começou quente adorando kk
2025-03-21
0