Você cuidou de tudo?

    Acordei com uma dor latejante na perna, uma lembrança vívida da mordida da cobra invadindo minha mente. Olhei ao redor, tentando me situar, e percebi que estava em uma casa pequena, de madeira, completamente desconhecida.

Quando tentei levantar, a dor aumentou, e notei que minha perna estava inchada. O choque da lembrança me fez prender a respiração, mas logo a porta se abriu, e lá estava Alessandro, entrando com um feixe de lenha nos braços.

Ele estava sem a parte de cima da roupa, o suor escorrendo pelo peito, cada movimento revelando a força contida em seu corpo. Por um momento, me peguei admirando a cena, mas logo sacudi a cabeça, repreendendo meus pensamentos. Não era hora para isso.

Ele me viu acordada e, com uma expressão de alívio, veio até mim.

— Como você se sente? — perguntou, os olhos avaliando cada detalhe do meu estado.

— Com dor — admiti, tentando forçar um sorriso. — Minha perna... ainda dói.

— Você dormiu o dia todo — ele disse, puxando uma cadeira para se sentar ao meu lado. — Graças à bolsa de remédios do seu pai, consegui tratar o veneno a tempo.

Minha mente se encheu de gratidão e alívio.

— Você me salvou... de novo.

Ele deu de ombros, como se não fosse grande coisa.

— Eu deveria ter sido mais cuidadoso. Desculpe por ter te deixado para trás. Não vai acontecer de novo.

Balancei a cabeça, sentindo um calor estranho em seu cuidado.

— Estou suada e nojenta, provavelmente tive febre... preciso de um banho urgente. — falei e ele confirmou.

— Você cuidou de tudo? — questionei surpresa vendo as frutas sobre a mesa.

Um leve sorriso apareceu no rosto dele.

— Tem uma cachoeira aqui perto. Posso te ajudar a chegar lá, se quiser.

A ideia de um banho era tentadora, mas a proximidade dele me deixou nervosa. Ainda assim, assenti.

— Isso seria ótimo. Obrigada.

Ele se levantou e me ofereceu a mão. Quando nossos dedos se tocaram, um arrepio percorreu meu corpo. Alessandro parecia perceber, mas não disse nada, apenas me ajudou a me levantar com cuidado.

— Também encontrei uma bolsa com algumas roupas e alimentos — comentou, tentando aliviar a tensão no ar.

Fiquei surpresa.

— Em um dia, você fez tudo isso enquanto eu dormia?

Ele sorriu de canto, aquele sorriso discreto que começava a me cativar.

— Foi um dia longo.

Enquanto caminhávamos lentamente até a cachoeira, cada toque dele parecia carregar uma corrente elétrica, faíscas invisíveis que nos conectavam.

A cachoeira surgiu diante de nós, a água cristalina caindo em cascata sobre as pedras, criando uma neblina refrescante que parecia aliviar a tensão do momento. Alessandro me ajudou a chegar até a beira, sua mão firme em meu braço enquanto eu tentava manter o equilíbrio.

O som da água caindo trouxe um alívio imediato, mas meu coração estava acelerado por um motivo completamente diferente, não era possível que meu desespero por encontrar alguém me levaria direto a uma pessoa que conheci ontem e claramente tem problemas com bipolaridade.

— Devagar — ele murmurou, seus olhos sempre atentos aos meus movimentos. Com cuidado, ele me ajudou a entrar na água, o frescor imediato trazendo um suspiro de alívio.

A água envolveu meu corpo, limpando a sujeira e o suor dos últimos dias. Senti-me um pouco mais revigorada, e, aproveitando o momento, puxei assunto.

— Você sempre foi tão reservado, ou é algo recente? Me diz alguma coisa Alessandro, quero conhecer mais do meu herói.

Ele desviou o olhar, o rosto ficando sério.

— Não sou muito de falar e não sou herói — respondeu, sua voz era baixa, quase como se quisesse encerrar a conversa ali.

Tentei insistir, buscando alguma conexão.

— É que... é estranho. Passamos por tanto, e você mal diz uma palavra, se não tivesse me ajudado ok, mas você me salvou mais de uma vez.

Ele balançou a cabeça, interrompendo-me.

— Melhor assim, e eu salvaria qualquer pessoa na mesma situação, mas não escolhi estar aqui.

A resposta cortante me atingiu de uma maneira inesperada, como se ele estivesse tentando criar uma barreira que eu não podia atravessar. Senti um aperto no peito, a sensação de ser um incômodo crescendo rapidamente.

Não queria ser um estorvo, uma carga para ele.

— Se é assim, não quero atrapalhar — murmurei, virando-me para sair da água. Mesmo com a perna ainda doendo, forcei-me a andar, afastando-me dele.

— Belinda, espera — ele chamou, sua voz carregando uma mistura de urgência e frustração.

Mas eu não parei. Não queria mais depender de ninguém, especialmente de alguém que claramente não queria minha presença.

— Estou bem. Posso me virar sozinha — respondi, sem olhar para trás, determinada a seguir meu próprio caminho, mesmo que estivesse cambaleando.

Ele correu e me alcançou, me puxou pelo braço e falou:

— Desculpe, não queria falar daquele jeito, não é um estorvo nunca, calma vai, você ta ferida e recém se recuperando — ele falou.

— Você tem que decidir que versão vai usar, o grosso ou bonzinho, sinceramente não dá. — reclamei cruzando os braços.

— Não é você — ele falou, mas o cortei.

— Já sei, não é você, sou eu, ah corta essa né, está claramemente colocado que aqui rolou uma tensão e o pior, eu nem sei o motivo — finalizei me afastando e ele me puxou, mas no embalo acabei cambaleando e ele me segurou contra seu peito, ali tive certeza que mexia muito com ele, só precisava saber o porquê de mentar tanto me afastar.

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Comments

Márcia Jungken

Márcia Jungken

Alessandro está dividido entre a raiva que tem pela máfia e os sentimentos que nutre pela Belinda 🤔👏👏

2025-04-05

0

Maria Serra Aragao

Maria Serra Aragao

agora rolou a química..

2025-03-05

0

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

ELES TEM A QUÍMICA

2025-02-17

0

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