Os dias passaram, e Alessandro começou a mostrar sinais de mal-estar. Eu percebia as mudanças sutis: seu rosto mais pálido, movimentos mais lentos e, por fim, a febre que o deixava suando e inquieto, aquele teimoso não tomava um remédio, maldito sentimento pré-histórico do homem em achar que mostrar doença é fraqueza. Era provavelmente resultado da chuva que tomou quando saiu para pegar um animal que apareceu na porta da cabana.
Preocupada, revirei a bolsa de remédios, buscando algo que pudesse ajudar. Finalmente, me aproximei dele com uma expressão determinada.
— Você está com febre, Alessandro. Precisa de cuidados — declarei, segurando os remédios nas mãos.
Ele balançou a cabeça, a teimosia brilhando em seus olhos.
— Não preciso de nada, Belinda. Estou bem, guarde os remédios para quando precisar, não saberemos quanto tempo ficaremos — ele respondeu.
Suspirei, exasperada, e antes que ele pudesse continuar sua negação orgulhosa, me inclinei e o calei com um beijo. Foi rápido, mas firme, o suficiente para cortar sua teimosia no meio e matar a saudade que fiquei.
Quando nos separamos, ele me olhou surpreso, e logo uma expressão de repreensão surgiu em seu rosto.
— Você não pode simplesmente fazer isso — ele começou, mas eu o interrompi, sem paciência para suas recusas.
— Você tem que se calar e deixar que eu cuide de você. Assim como você cuidou de mim quando fui picada pela cobra.
Ele me observou por um instante, ainda tentando processar o que acabara de acontecer, mas antes que pudesse retrucar, soltou um suspiro pesado. Finalmente, parecia ceder, mas não sem uma última tentativa de manter sua distância.
— Eu não quero... e não posso... casar com uma menina da máfia — ele disse, o tom meio ríspido, como se aquelas palavras fossem um escudo para proteger algo mais profundo.
Minha mente girou com essa revelação. Então era isso? Toda a tensão, os olhares desviados, o distanciamento... tudo por medo de ser forçado a um casamento? Meu coração se apertou com a ideia, mas rapidamente decidi confrontá-lo.
— Eu não quero casar, Alessandro — respondi, a voz firme, mas sem raiva. — Eu quero transar e não se preocupe que acredito que não será você o contemplado.
Minhas palavras o pegaram completamente de surpresa. Ele piscou algumas vezes, parecendo processar o que eu havia dito, enquanto uma mistura de choque e algo mais passava por seu rosto. O silêncio que se seguiu foi quase palpável, e eu me mantive firme, esperando sua reação, enquanto a tensão no ar aumentava novamente, de uma forma completamente diferente desta vez.
Naquela noite, Alessandro não me encarou. Ele estava febril, a testa coberta de suor, e seus delírios começaram a se manifestar enquanto o sono o envolvia.
Fiquei ao seu lado, observando-o com preocupação, o calor de seu corpo irradiando como uma fornalha.
Entre murmúrios e palavras desconexas, ele começou a falar, sua voz rouca e quebrada pelos efeitos da febre. Era como se, mesmo em seu estado de fragilidade, seu subconsciente quisesse desabafar o peso que carregava.
— Eles... os russos... tiraram tudo de mim... — ele murmurou, a dor transbordando em suas palavras. — Minha família... minha mãe... meu pai... todos... morreram por causa deles, por causa da máfia...
Eu senti um nó se formar em minha garganta enquanto ouvia suas palavras. O sofrimento que ele carregava, o peso do passado que nunca o deixou, estava agora exposto diante de mim. Ele estava perdido em suas memórias, os horrores que vivera revivendo diante dos meus olhos.
— Nunca mais... não posso perder mais ninguém... — ele continuou com sua voz tremendo.
Eu não conseguia conter as lágrimas. As peças do quebra-cabeça começaram a se encaixar. Sua dor, sua resistência, sua luta interna ao meu redor... tudo fazia sentido agora. Alessandro não estava apenas lutando contra o desejo ou a atração, ele estava lutando contra um passado sombrio que o havia deixado sozinho e marcado.
A menção aos russos, aos seus inimigos que haviam destruído sua vida, me fez entender porque ele me ligava aos Mansur, porque ele me afastava. Mesmo que minha família fosse oposta a tudo isso, éramos o ápice da máfia, e isso, para ele, era insuportável.
Eu chorava silenciosamente ao lado dele, sentindo sua dor como se fosse minha. Naquele momento, percebi que não se tratava apenas de nós, mas de cicatrizes profundas que precisavam ser curadas. E eu estava determinada a ajudá-lo a enfrentar esses demônios, mesmo que isso significasse enfrentar o peso de nosso passado e as barreiras que ele havia erguido ao nosso redor, ou me afastar definitivamente.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Maria Serra Aragao
adoro mulheres que sabe lutar pelo que querem
2025-03-06
0
Ana Celia Pereira
Sua família é linda Belinda
2025-02-15
0
Andrea Freire
Ainda não vi a foto dele
2025-01-25
0