Ódio ou proteção.

    O sol já estava alto no céu, sua luz forte queimando sobre nós, tornando a situação ainda mais urgente. Belinda passou a mão pelo rosto, tentando afastar o cansaço.

— Pelo menos estou de biquíni — disse com um suspiro, tentando encontrar algum lado positivo em meio ao caos. — Não quero imaginar como seria pior com roupas pesadas nesse calor. — ela falou e me amaldiçoei por imaginar ela sem aquilo.

Acabei concordando, mas minha mente já estava focada no próximo passo.

— Precisamos procurar destroços, ver se encontramos bolsas ou qualquer coisa útil. E, o mais importante, precisamos de água — respondi, tentando soar prático apesar do cenário desolador.

Ela assentiu, determinada.

— Vou ajudar. Uma Mansur nunca desiste.

Aquela frase me atingiu como um soco no estômago. "Mansur". A palavra ecoou na minha mente, trazendo lembranças que preferia esquecer. Aquele nome estava gravado em um dos momentos mais dolorosos da minha vida. A lembrança do dia fatídico em que meus pais foram assassinados por causa de negócios da máfia voltou com força total, não foram eles, mas é tudo farinha do mesmo saco.

Olhei para ela por um momento, perdido em seus olhos, a beleza dela se destacando até mesmo em meio a toda a miséria ao nosso redor. Mas imediatamente me repreendi por deixar minha guarda baixar. Não podia me permitir isso. Não com alguém que carregava aquele nome.

Belinda notou minha hesitação, mas não comentou. Em vez disso, voltou a focar no que precisava ser feito. Seu espírito determinado acendia algo dentro de mim, algo conflitante. De um lado, o ódio que eu sentia pela máfia, pelo que tinham feito à minha família. De outro, o instinto de protegê-la, de mantê-la segura a qualquer custo.

Enquanto começávamos a caminhar pela praia, vasculhando por qualquer sinal de destroços ou suprimentos, me vi dividido. Belinda era uma Mansur, parte de tudo que eu desprezava. E ainda assim, não conseguia ignorar o desejo crescente de garantir que ela sobrevivesse. A dualidade me consumia, cada passo me levando mais fundo em um dilema que não sabia como resolver.

Caminhava rápido, o calor me queimando, a mente ainda presa na confusão de sentimentos. Belinda tentava acompanhar meu ritmo, mas eu estava decidido a encontrar algo útil, algo que nos ajudasse a sair dali. Não conseguia encará-la sem sentir o peso do nome que carregava, e isso me deixava ainda mais inquieto.

Foi então que ouvi o grito. Um som agudo e de puro pânico que me fez parar imediatamente. Virei-me a tempo de vê-la segurando a perna, o rosto pálido e a respiração acelerada. No chão, uma cobra esguia e de coloração marrom-acinzentada se contorcia. Reconheci imediatamente: víbora-lusitana, uma espécie venenosa.

Sem pensar, peguei a faca presa na cintura e a lancei. A lâmina encontrou seu alvo com precisão, cravando-se no corpo da cobra, que cessou os movimentos imediatamente. Corri até Belinda, meu coração disparado.

— Onde ela te picou? — perguntei, tentando manter a calma.

Ela apontou para a perna, o local já começando a inchar. Precisava agir rápido.

— Vai ficar tudo bem — murmurei, mais para mim mesmo do que para ela.

Com rapidez, usei a faca para fazer um pequeno corte em formato de "X" sobre a marca da mordida, pressionando para tentar extrair o máximo de veneno possível. Em seguida, rasguei um pedaço da minha camisa, amarrando firmemente acima da mordida para retardar a propagação do veneno.

— Não durma, Belinda. Fique comigo — falei, mas ela já começava a delirar.

Seus olhos se fecharam por um momento, e quando voltaram a se abrir, estavam vidrados.

— Alessandro... você... prometeu — ela sussurrou, a voz fraca e desconexa. — Não me deixe... não como eles...

Ela falava coisas sem sentido, misturando palavras e frases que não se conectavam. Eu segurei sua mão, o pânico crescendo dentro de mim. Cada segundo parecia uma eternidade.

— Belinda, olha para mim. Fica comigo — insisti, tentando mantê-la acordada.

Ela sorriu levemente, mas os olhos estavam perdidos em um mundo que eu não conseguia alcançar.

— Estrelas... tantas estrelas... como na noite em que...

Suas palavras iam e vinham, deixando-me cada vez mais preocupado. Precisávamos de ajuda, de água, de algo que pudesse estabilizá-la. O medo de perdê-la apertava meu peito, mas sabia que desistir não era uma opção.

Belinda continuava a murmurar, sua mão apertando a minha com uma força surpreendente para alguém que parecia tão fraca. Com cada palavra incoerente, minha determinação só crescia. Eu a protegeria, não importava o que fosse necessário.

Enquanto Belinda continuava a delirar, sabia que precisava encontrar algo para neutralizar o veneno. Resolvi deixar ela ali por um momento, protegida por uma sombra que consegui improvisar com alguns galhos. Respirei fundo, observando a vegetação ao redor, buscando desesperadamente por alguma planta que pudesse ajudar.

Minutos depois, encontrei um pequeno arbusto de folhas longas e estreitas. Reconheci as características: erva-serpentina, conhecida por ajudar a reduzir os efeitos do veneno de cobras. Com cuidado, colhi algumas folhas e voltei rapidamente para onde Belinda estava.

De volta ao seu lado, mastiguei as folhas para liberar os óleos naturais, criando uma pasta que apliquei cuidadosamente sobre a mordida. Amarrei outra tira da minha camisa ao redor da perna dela, segurando a pasta no lugar.

— Isso vai ajudar, Belinda, só aguenta mais um pouco — murmurei, tentando passar uma confiança que eu mesmo não sentia totalmente.

Lembrei da bolsa do pai, corri para pegar e abri, se ele trouxe remédios pode ter lembrado que aqui na região essa cobra é vista com frequência, abri a bolsa e para meu alívio tinha antidoto e outros remédios fortes.

— Você vai sair dessa meu bem, segura aí — falei sem reparar na doçura em minha voz, logo apliquei o antídoto e torci para que resolvesse junto com a pasta natural que havia aplicado.

O sol já estava alto, e o calor era implacável. Enquanto Belinda lutava contra o veneno, eu a observava atentamente. Cada respiração sua era uma batalha, mas ela era forte. No entanto, sabia que precisava encontrar um lugar melhor para cuidá-la.

Foi então que, ao olhar para o horizonte, avistei algo que me trouxe esperança: uma pequena casa de madeira, desgastada pelo tempo, mas ainda de pé. Sinal de que, em algum momento, houve vida ali.

Levantei-me, determinado. Peguei Belinda nos braços, ignorando o cansaço e a dor. Cada passo até a cabana era difícil, mas necessário. Ao chegar, empurrei a porta de madeira, que rangeu ao abrir, revelando um interior simples, mas suficiente. Havia uma velha cama de palha, uma mesa, e prateleiras com alguns utensílios.

Coloquei Belinda na cama com cuidado. Ela ainda estava quente e suando, mas parecia um pouco mais tranquila.

— Estamos em segurança agora, Belinda. Vou cuidar de você — prometi, embora não soubesse ao certo se ela me ouvia.

Passei o restante do dia ao lado dela, monitorando sua febre e buscando mais ervas ao redor da cabana. O abrigo seria nossa salvação, e enquanto o sol começava a se pôr, prometi a mim mesmo que não deixaria nada de ruim acontecer a ela novamente.

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Comments

Maria Ines Santos Ferreira

Maria Ines Santos Ferreira

aí eu acho que eu tô louca que que ele fez com o homem a cena o homem querendo atirar nele ele foi de frente com o homem pronto acabou eu voltei duas vezes eu não sei o que que ele fez com o homem

2025-03-14

1

Fatima Gonçalves

Fatima Gonçalves

TAMBÉM ACHO 😃😃😃😃😃

2025-02-17

0

Ana Celia Pereira

Ana Celia Pereira

/Angry//Angry//Angry/

2025-02-15

0

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