A despedida.

    A notícia veio como um trovão, cortando o caos na sala. O tiro disparado pelo soldado não era uma ameaça; era um anúncio.

Rafael havia partido.

Fiquei paralisada, com o coração acelerado e o estômago revirado. Eu já havia sentido a dor da perda anos atrás, quando minha bisavó morreu, mas aquilo parecia diferente. Mais intenso. Mais real. Lágrimas escorreram sem permissão pelos meus olhos enquanto eu olhava para o rosto pálido e sereno de meu bisavô.

— Agora vocês estão juntos novamente — pensei, imaginando os dois se reencontrando na eternidade. Minha bisavó, com seu sorriso caloroso, acolhendo Rafael com um abraço, como fazia em vida.

Enquanto o luto preenchia a sala, não pude deixar de reparar nos filhos de Rafael, todos fingindo um pesar que não enganava ninguém. Andreas era o pior. Suas palavras calculadas, o tom melodramático, tudo era uma farsa. Ele não estava triste pela perda; estava revoltado por não conseguir o que queria.

Giulia apertou minha mão, enxugando discretamente uma lágrima.

— Eles não conseguem nem disfarçar — sussurrou.

Concordei em silêncio, apertando os lábios. Cesare e Enzo permaneceram perto de mim, Giulia e de minha mãe, como muralhas, enquanto Pietro cuidava de acalmar Adriane e Felícia, ambas visivelmente emocionadas.

— Quero cuidar das roupas dele, arrumar tudo, falamos muito sobre isso — falou minha mãe.

— Ele falou? Nunca vi meu pai planejando a morte — respondeu sua tia Talita.

— Talvez os assuntos que falavam era voltado a futilidades, mas meu avô sempre disse o quanto tinha desejos e sonhos — falou minha mãe incomodada com as indiretas.

Seguimos aquele dia com lágrimas e dores, meu pai achou prudente que ficássemos todos em um único quarto, eu entendia sua prudência, afinal ficou claro que o único que de fato queria nossa companhia era o Sr Rafael, nós dormimos o que deu, com colchões no chão e juntas enquanto os três não fechavam os olhos um só minuto.

O dia do funeral de meu bisavô Rafael chegou com um peso que parecia afundar cada um de nós. A villa, geralmente tão cheia de vida, estava envolta em um silêncio solene. Cada passo que eu dava no chão de pedras ecoava, como se até mesmo as paredes estivessem lamentando sua perda.

Fiquei parada ao lado do caixão, observando o rosto sereno dele, agora em paz. As memórias surgiam em minha mente, cada uma trazendo um aperto no coração. Ele sempre teve uma presença forte, e era difícil acreditar que não estaria mais ali para nos guiar.

Quando chegou a minha vez de falar, senti um nó na garganta, mas sabia que precisava honrar sua memória. Caminhei até o centro da sala, segurando a pequena caixa de madeira que ele tanto prezava. A sala estava cheia de rostos familiares, todos olhando para mim com expectativa. Inspirei fundo, tentando encontrar forças nas palavras que havia preparado.

— Meu bisavô Rafael sempre foi uma rocha para nossa família. — Minha voz tremia levemente, mas continuei. — Ele não era apenas um homem de grandes feitos, mas de pequenos gestos que tocavam a todos nós de maneiras profundas.

Abri a caixa e segurei o medalhão dourado, que parecia mais pesado do que nunca.

— Este medalhão foi passado de geração em geração, e Rafael costumava dizer que ele carregava a força e a coragem de nossos antepassados. Hoje, quero compartilhar essa força com todos vocês.

Me aproximei da lareira e coloquei o medalhão no centro da prateleira. Peguei uma vela, acendendo-a com cuidado, e a coloquei ao lado do medalhão. A chama dançou suavemente, lançando sombras tênues nas paredes.

— Que esta chama nos lembre de sua luz e de sua sabedoria. Que, mesmo na sua ausência, ele continue a nos guiar e proteger.

As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto, mas não tentei escondê-las. Era uma despedida, mas também uma celebração da vida que ele viveu e do legado que deixou. Voltei ao meu lugar, sentindo o peso da perda, mas também um estranho consolo ao ver a chama tremeluzente, sabendo que, de alguma forma, ele ainda estava conosco.

A sala permaneceu em silêncio por alguns momentos, antes que os murmúrios suaves das pessoas começassem novamente. Cada um de nós estava perdido em nossos pensamentos, lidando com a perda de nossa própria maneira. E ali, em meio a tudo, senti a presença de Rafael, forte e constante, como sempre havia sido.

Meu avô Pietro se destacou como o líder que sempre foi, cuidando para que tudo fosse perfeito. Meu pai e Enzo não saíam do lado de minha mãe, enquanto Giulia e eu recebíamos os olhares de solidariedade com um misto de dor e cansaço.

Uma das senhoras mais velhas, uma amiga de longa data da família, segurou minha mão e disse:

— Seu bisavô falava de você com tanto orgulho, Belinda. Ele sempre dizia que você era uma luz na vida dele.

Meus olhos marejaram novamente, e Enzo colocou a mão em meu ombro, um gesto silencioso, mas cheio de conforto.

Quando voltamos à mansão, exaustos e emocionalmente drenados, meu avô Pietro nos reuniu na sala de estar.

— Antes de Rafael partir, uma senhora mencionou que ele tinha uma tradição. Um passeio, algo que ele sempre fazia para se sentir mais leve. Era uma ideia dela, mas ele a abraçou. Achei que seria uma boa homenagem, e organizei tudo.

Minha mãe balançou a cabeça, ainda abatida.

— Não sei, Pai. Não parece o momento certo.

Andreas, sempre com sua teatralidade, interrompeu com um tom melodramático.

— Duda, acho que você está enganado. Se fosse o contrário, Rafael insistiria que fossem. Ele adoraria saber que estamos mantendo suas tradições vivas.

Olhei para ele de soslaio, desconfiada. Mesmo quando suas palavras são apenas corretas, algo em sua postura e olhar nunca me transmite sinceridade. Antes que a mamãe pudesse recusar novamente, decida intervir.

— Eu acho que deveríamos ir — disse, com mais verdades do que esperava. — Por medo ou por insegurança, eu nunca participei dessas tradições. Mas, se era algo que ele amava, acho que seria a melhor forma de homenageá-lo.

Mamãe me encarou por alguns segundos, como se tentasse decifrar meu pensamento. Então Pietro interveio novamente, um sorriso calmo no rosto.

— Podemos a partir das 19 horas. Será um passeio tranquilo, e prometo que organizarei tudo para que vocês se sintam confortáveis.

Olhei para papai, que permaneça em silêncio, como se avalia o impacto da decisão sobre todos. Quando ele finalmente concordou, um leve rompimento percorreu a sala.

— Se Belinda está de acordo — Cesare finalmente disse —, então acho que devemos ir. Rafael ficaria feliz em saber que estamos fazendo isso por ele.

Mais populares

Comments

Dulce Rodrigues

Dulce Rodrigues

DESCULPA!!! FIZ CONFUSÃO. MIKAILL É O HOMEM QUE ALESSANDRO NAVARRO ACREDITA TER MATADO SEUS PAIS E IRMÃOS, A IRMÃ NÃO FOI ENCONTRADA, MAS NÃO CITA NOMES .😁🤭

2025-03-26

0

Dulce Rodrigues

Dulce Rodrigues

ACHO QUE ESSA HISTÓRIA DESSA SENHORA, TEM O DEDO PODRE DO ANDRÉAS ..QUE NADA DE RUIM ACONTEÇA COM A FAMÍLIA DA DUDA!!

2025-03-26

0

Dulce Rodrigues

Dulce Rodrigues

Fiquei curiosa. Michael comentou que sua família fora assassinada e que o único corpo que não fira encontrado era de sua irmã Thalita.

Essa a qual Duda se refere é irmã da mãe dela( Belinda)...?

2025-03-26

0

Ver todos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!