[ Nice, Cannes - França ]
Camila Vasquez | 23:10 PM
O silêncio entre nós era sufocante, mas minha mente estava um turbilhão. As palavras de Nicolas ainda ecoavam, me deixando mais irritada a cada segundo. Ele tinha cruzado a linha. Não era só sobre o beijo, era sobre o controle, a mentira, e essa pretensão de saber o que era melhor para mim.
Respirei fundo e finalmente quebrei o silêncio, encarando-o.
Camila: Isso tudo… não vai funcionar, Nicolas. Você acha que pode aparecer na minha vida, fazer o que bem entende, e depois agir como se nada tivesse acontecido?
Ele franziu a testa, a expressão rígida, mas permaneceu em silêncio. Isso só aumentou minha irritação.
Camila: Você mente para mim, me beija como se isso fosse algum tipo de solução, e espera o quê? Que eu fique aqui, que aceite isso como se fosse normal?
Nicolas: Eu fiz o que achei necessário, Camila. E o beijo… foi um erro.
Eu ri, mas era um riso vazio, cheio de incredulidade.
Camila: Um erro? Isso é tudo que você tem a dizer? Você está certo, Nicolas. Foi um erro. Um erro que não vai se repetir.
Ele deu um passo em minha direção, mas eu ergui a mão, parando-o.
Camila: Não. Fique onde está. Eu quero que você fique longe de mim, Nicolas. O mais longe possível. Isso não vai acontecer de novo.
Nicolas: Você está exagerando.
Camila: Exagerando? — Minha voz subiu, a raiva transbordando. — Você acha que pode me beijar, me manipular e depois me dizer que estou exagerando? Eu trabalho para você, Nicolas! Você é meu chefe! Ou já se esqueceu disso também?
Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos, claramente frustrado, mas eu não me importava.
Camila: Eu quero uma coisa clara entre nós: isso foi longe demais. Eu não sou uma das suas conquistas fáceis, e definitivamente não sou alguém que você pode controlar. Então, vou dizer mais uma vez: fique longe de mim. E nunca mais me beije.
Eu não esperei por uma resposta. Peguei minha bolsa e fui em direção à porta.
Camila: Ah, e Nicolas… Se isso interferir no trabalho, eu não vou hesitar em tomar as medidas necessárias. Boa noite.
Saí dali antes que ele pudesse dizer qualquer coisa. O ar frio da noite me envolveu, e pela primeira vez naquela noite, consegui respirar fundo.
Enquanto caminhava pela rua deserta, uma coisa era certa: eu não deixaria Nicolas Stark destruir tudo pelo que eu lutei. Não importava o que ele dissesse ou fizesse, eu não estava disposta a deixar minha vida girar em torno dele.
O vento frio da noite tocava meu rosto enquanto eu esperava por um táxi no meio da rua deserta. Minhas mãos tremiam, mas não sabia se era pela raiva, pelo choque ou pela dor. Nicolas Stark era uma equação complicada que eu não queria mais tentar resolver. Ele podia guardar seus segredos, suas mentiras, e aquela arrogância insuportável.
Quando o táxi finalmente parou, entrei sem hesitar, evitando o olhar curioso do motorista.
Motorista: Para onde?
Camila: Rue d'Antibes, 53.
A voz saiu firme, mas minha mente estava longe. O caminho até meu apartamento foi silencioso, a não ser pelo som do rádio baixo tocando uma música francesa melancólica. Olhei pela janela, observando as luzes de Cannes piscarem como uma lembrança constante de onde eu estava: sozinha, em um país estrangeiro, cercada por problemas que nunca imaginei enfrentar.
Ao chegar, paguei o motorista e subi as escadas com passos leves, tentando não fazer barulho. Quando abri a porta, encontrei Sasha e Yara já dormindo no sofá-cama improvisado. Uma onda de alívio percorreu meu corpo. Elas eram o meu porto seguro, meu lembrete de por que eu precisava manter tudo sob controle.
Caminhei até o banheiro, evitando qualquer reflexão no espelho, e lavei o rosto. A água fria fez pouco para acalmar a tempestade dentro de mim. As palavras de Nicolas ecoavam na minha mente como um disco arranhado.
"Você não pode saber, Camila! Quanto menos souber, melhor para você."
Ele dizia isso como se estivesse me protegendo, mas eu sabia que era muito mais do que isso. Era um jogo de poder, e ele não confiava em mim o suficiente para me deixar ver as cartas que segurava.
Quem ele pensa que é?
Deitei na cama, encarando o teto, mas o sono parecia impossível. Minha mente voltava àquele beijo, um erro que Nicolas tinha coragem de admitir em voz alta, mas que nós dois sabíamos ser muito mais que isso. Não era só um beijo. Era a tensão, a química, e, de alguma forma, o início de algo que nenhum de nós estava pronto para enfrentar.
O som do meu celular vibrando na mesinha ao lado me tirou de um sono inquieto. Peguei o aparelho, os olhos ainda desfocados pela luz do sol. Havia uma mensagem anônima.
"Cuidado com quem confia. Não se aproxime mais dele, ou você vai pagar caro."
Senti o sangue gelar. Meu coração começou a bater rápido, e minha mente girava. Quem era? Quem sabia o que estava acontecendo? Olhei para o celular novamente, procurando rastros, algo que pudesse identificar o remetente. Mas era um número desconhecido.
A primeira pessoa que veio à mente foi Nicolas. Ele sabia mais do que dizia, e agora, essa ameaça anônima me colocava em uma posição que eu nunca imaginei estar: entre a confiança e a traição.
Eu precisava decidir.
Confiar em Nicolas e descobrir toda a verdade, mesmo que isso significasse mergulhar mais fundo em um mundo perigoso.
Me afastar dele de vez e proteger o que restava da minha vida normal.
A escolha não seria fácil. E algo me dizia que, independentemente da decisão, minha vida jamais seria a mesma.
[ La Croisette, Cannes - França]
Nicolas Stark | 00:30 AM
A noite estava inquieta, assim como eu. A brisa marítima entrava pela janela aberta, mas o ar parecia pesado. Eu me sentia preso em um labirinto, um jogo de xadrez no qual cada movimento errado custava caro. E Camila... ela era a peça que eu não podia perder.
Sentado à mesa, com um copo de uísque pela metade, meu olhar estava fixo nos documentos espalhados. Papéis com nomes, transações e evidências. Tudo o que eu precisava para derrubar os homens que controlavam o jogo. Mas não era suficiente. Não enquanto as peças ainda estavam se movendo nos bastidores.
Meu celular vibrou, tirando-me de meus pensamentos. Era uma mensagem de um número familiar.
— Precisamos falar. O tempo está acabando.
Fechei os olhos, tentando manter a calma. O tempo estava contra mim, e cada dia que passava, o risco aumentava. Eles estavam atentos, e qualquer deslize poderia custar vidas — incluindo a de Camila.
Não era para ela estar envolvida nisso. Eu me arrependia do beijo, não pelo ato em si, mas porque foi impulsivo. Uma falha de controle. Ela era diferente de qualquer pessoa que eu já conheci, e, por isso, ela não podia se tornar uma arma nas mãos deles.
Levantei-me e fui até a prateleira onde guardava um dossiê sobre cada peça desse jogo. Puxei o arquivo de Jacques Lemaitre, um dos alvos principais. Ele era o centro da rede, a chave para desmantelar tudo.
Enquanto folheava os documentos, um pensamento me atingiu como um raio. Se eles já estavam atentos a mim, quanto tempo levaria para perceberem que Camila era mais do que apenas uma funcionária? Eu precisava protegê-la.
Você não faz ideia do perigo em que está, Camila. Mas eu vou garantir que nunca descubra.
Peguei o telefone e liguei para meu contato em Paris, a única pessoa em quem eu confiava para cobrir meus rastros.
Nicolas: Preciso de reforço na segurança dela. Não quero que nada aconteça, entendeu?
— Você sabe o que isso significa, Nicolas. Isso vai chamar mais atenção.
Nicolas: Eu não me importo. Apenas faça.
Desliguei, sentindo o peso das escolhas que estava fazendo. O relógio continuava a correr, e eu sabia que não podia adiar o próximo movimento por muito tempo. Se eu quisesse protegê-la, precisaria de um plano sólido — e isso incluía mantê-la à distância.
Eu só não sabia que o perigo já estava mais próximo do que eu imaginava.
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Atualizado até capítulo 40
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