[ Le Suquet, Cannes - França ]
Camila Vasquez | 09:00 AM
A manhã começou como tantas outras, mas minha mente estava longe da rotina. O relatório que recebi na noite anterior do hacker, "H", continuava ecoando em minha cabeça. Giovanna Lacroix. Um nome que antes era apenas uma peça no tabuleiro, mas agora parecia ter mais peso do que eu imaginava. Consultora externa, ele dissera. Transações financeiras suspeitas, vínculos com Nicolás. Quem ela era, afinal? E, mais importante, por que ele a mantinha tão próxima?
De pé diante da janela do meu quarto, com o sol de Cannes entrando pelas cortinas leves, senti o frio do chão sob meus pés descalços. Era irônico, na verdade. O calor lá fora contrastava com a frieza que crescia dentro de mim. Algo me dizia que eu estava chegando perto de algo perigoso, mas recuar não era uma opção.
Com um suspiro, voltei para minha escrivaninha. O laptop estava aberto, o relatório detalhado piscando na tela. Precisei reler algumas linhas para me convencer de que nada havia sido um engano. H mencionou um padrão claro: Giovanna recebia pagamentos logo após reuniões importantes com Nicolás. Não havia dúvidas de que ela era mais do que uma consultora.
Pensei por alguns minutos antes de pegar meu celular e procurar contatos que poderiam me ajudar. Não era fácil entrar em círculos onde ela provavelmente se movia, mas, para minha sorte, o destino parecia conspirar ao meu favor. Uma notificação discreta piscou no meu celular:
"Evento beneficente em Cannes – Chateau Du Soleil – Convidados confirmados: Giovanna Lacroix, Nicolás Stark..."
Meu coração bateu mais forte. Era minha chance. Se eu quisesse respostas, teria que ir até lá.
Levantei-me, abrindo meu armário e analisando os vestidos que tinha. Nada parecia bom o suficiente. Giovanna era do tipo que atraía atenção por onde passava, disso eu tinha certeza. Precisaria estar impecável, mas sem exageros. Elegante e estratégica, assim como ela provavelmente era.
Enquanto me arrumava, minha mente fervilhava com possibilidades. O que eu diria? Como me aproximaria sem levantar suspeitas? Havia tantas variáveis, mas uma coisa era certa: eu não sairia daquele evento sem alguma resposta.
Quando olhei para o reflexo no espelho, quase não me reconheci. O vestido preto justo era clássico e refinado, e os brincos de pérola adicionavam um toque de sofisticação. A maquiagem estava impecável, destacando meus olhos, mas sem exageros. Eu estava pronta.
Pronta para encarar Giovanna. Pronta para enfrentar Nicolás.
Ou, ao menos, era isso que eu tentava convencer a mim mesma.
[ La Croisette, Cannes - França ]
Nicolás Stark | 09:30 AM
O telefone tocou novamente. Era Giovanna, e, como sempre, eu sabia que ela tinha algo em mente. Descansei o braço no sofá enquanto atendia, já imaginando o tom casual que ela usaria. A conversa sobre negócios poderia ser feita a qualquer momento, mas ela gostava de brincar com isso.
Giovanna: Nicolas, já ouviu falar do evento beneficente em Cannes? — a voz dela soou do outro lado, suave e envolvente, como sempre.
Nicolas: Sim, ouvi. O Chateau Du Soleil, não é?— respondi, já sabendo aonde ela queria chegar. Não era exatamente novidade. Mas o jeito como ela falava me deixava alerta. Sabia que ela sempre tinha algo por trás.
Giovanna: Exatamente. Aquele evento chique... você deveria aparecer, claro. Vou estar lá, e também a maioria dos nossos contatos.
Eu podia sentir o sorriso dela através da voz. Ela sabia que eu estava relutante, mas eu também sabia que ela tinha razão. Se eu quisesse continuar mantendo o controle sobre tudo, era necessário estar lá. Cenas como aquela, em um evento repleto de alta sociedade, eram um campo fértil para consolidar alianças. Mais uma vez, ela estava no controle.
Nicolas: Vou, claro. Não podemos perder a chance de estreitar os laços. Afinal, há negócios importantes envolvidos. — disse, tentando manter o tom profissional, mas sabia que era mais do que isso. Ela também sabia. E isso só tornava tudo mais interessante.
Giovanna: Isso mesmo. E quem sabe, talvez possamos conversar sobre algumas coisas... privadas? — Ela riu suavemente. A maneira como ela usava as palavras me deixava ciente de que as intenções dela estavam bem além de um simples evento social.
Fechei os olhos por um instante. Não era só sobre o evento. Sabíamos ambos o que estava em jogo. Não era só caridade. Aquelas festas eram mais uma fachada. Um lugar onde as negociações tomavam outro formato. Onde o dinheiro fluía de maneiras que ninguém jamais veria.
Nicolas: Eu te encontro lá, então.
O tom dela ficou mais grave, algo mais focado.
Giovanna: Nos vemos lá, Nicolas. E lembre-se, esse evento... tem muito mais do que você imagina.
Suspirei, deixando o celular cair na mesa. O jogo entre nós era inegavelmente fascinante, mas também estava ficando cada vez mais perigoso. A tensão, as palavras veladas, o que realmente acontecia nas sombras desse mundo, tudo isso estava me puxando para algo do qual eu não poderia me desvincular.
Levantei-me, indo até a janela e observando a vista da costa. Em um evento como aquele, as máscaras se mantinham no lugar, mas não por muito tempo. O que aconteceria em Cannes poderia ser o ponto de virada. Estava pronto para ver até onde isso iria me levar.
A luz da janela refletia em minha tela, e eu sentia o impulso familiar de pegar o celular. Não era uma distração, nem algo que deveria fazer, mas algo me chamava a atenção. Sem pensar muito, desbloqueei a tela e abri o Instagram. Lá estava ela: Camila.
Havia algo hipnotizante na maneira como ela aparecia nas fotos. Um sorriso leve, mas sempre com uma pitada de mistério. Eu sabia que não era a primeira vez que olhava suas fotos, mas dessa vez, algo parecia diferente. A foto recente, dela em uma viagem para Paris, me prendeu por mais tempo do que eu deveria admitir. Ela estava sozinha, mas o cenário era perfeito. A Torre Eiffel ao fundo, e ela com aquele olhar distante que me fazia questionar o que passava por sua mente.
Deslizei para a próxima imagem, onde ela estava em um evento. Vestido preto, cabelo solto. A elegância dela era quase sufocante. Não era só beleza. Era algo mais. Algo que eu sabia que poderia manipular, mas que ao mesmo tempo me desafiava.
Ela não sabia, mas a cada imagem que postava, a cada movimento que fazia, eu estava lá. Observando. E, de alguma forma, isso me dava poder. Camila, com sua beleza encantadora e postura reservada, era um enigma que eu não conseguia deixar de tentar decifrar. Não era só curiosidade; era um impulso irresistível. Algo dentro de mim queria saber mais sobre ela, sobre sua vida, suas escolhas.
Camila estava longe de ser uma simples distração. Eu sabia que havia algo mais. Algo que ela não mostrava nas redes sociais, algo que estava bem abaixo da superfície. E mesmo que estivesse cercada por uma fachada de normalidade, eu sabia que não poderia confiar totalmente naquilo. Todos jogavam um jogo.
Dei um zoom em uma das fotos dela, me aproximando da imagem, como se isso me aproximasse dela também. Não era apenas o que ela mostrava, mas o que ela não dizia que me atraía. Aqueles olhos... eu já os conhecia. Não fisicamente, mas em uma lembrança distante que se formava dentro de mim. Algo relacionado a negócios, algo que ainda não consegui entender totalmente.
Será que ela sabe do que está por trás dessas imagens? pensei, e logo percebi que não me importava se soubesse ou não. A verdade era que estava obcecado, e não conseguia parar de olhar. A ideia de controlá-la, de fazer com que ela visse o mundo da minha maneira, era... tentadora.
Fechei o Instagram por um instante, mas o pensamento de Camila não me deixou. Uma parte de mim sabia que eu deveria ser mais cauteloso, que deveria focar em outras prioridades, como o evento em Cannes, mas o fascínio por ela não ia embora.
Poderia ser apenas mais um jogo. Mais uma peça para mover no tabuleiro. Mas, naquele momento, algo me dizia que Camila poderia ser a chave para algo que eu ainda não compreendia completamente. Algo que faria com que até mesmo os meus próprios jogos de poder se transformassem.
Suspirei, jogando o celular na mesa.
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Atualizado até capítulo 40
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