[ Le Suquet, Cannes – França]
Camila Vasquez | 00:45 AM
O som suave dos meus saltos ecoava pelo saguão vazio enquanto eu caminhava em direção ao elevador. A noite no Chateau Du Soleil tinha sido longa, mas infrutífera. Tudo que consegui foi um aviso velado de Giovanna e um vislumbre dos homens com quem Nicolas parecia estar conspirando em um canto discreto. A expressão deles — sorrisos calculados e olhares de quem sempre tem algo a esconder — ainda estava gravada na minha mente.
Quem eram eles? E por que Nicolas parecia tão à vontade naquela companhia?
A viagem de carro até em casa foi silenciosa, mas minha mente estava inquieta. Revi cada detalhe da noite: o tom de Giovanna, os sorrisos de Nicolas, a tensão no ar. Algo estava fora do lugar, mas eu não tinha informações suficientes para juntar as peças.
Assim que cheguei ao meu prédio, soltei um suspiro cansado e subi até o apartamento. A chave girou na fechadura, e o cheiro familiar de café recém-passado e lavanda me recebeu.
Sasha: Finalmente! — gritou Sasha, deitada no sofá, com as pernas cruzadas e um balde de pipoca no colo. Seus cabelos castanho-escuros estavam presos em um coque desleixado, e ela me olhou com curiosidade. — Como foi? Descobriu algo?
Yara, que estava sentada no chão com um notebook no colo, olhou para mim com as sobrancelhas erguidas.
Yara: Você está com uma cara péssima, Camila — comentou, franzindo o nariz. — Foi tão ruim assim?
Deixei minha bolsa sobre o balcão da cozinha e soltei os saltos com um suspiro aliviado.
Camila: Foi pior do que ruim, foi um desperdício de tempo. Giovanna é tão venenosa quanto parece, mas não deixa escapar nada além de frases enigmáticas. E Nicolas... — hesitei, relembrando o brilho de seus olhos enquanto conversava com os empresários. — Nicolas estava com um grupo de homens, discutindo algo que parecia importante. O tipo de conversa que você só tem quando tem muito a esconder.
Sasha ergueu uma sobrancelha, interessada.
Sasha: Que tipo de homens?
Camila: Antoine Roux e Javier Delgado — respondi, me jogando no sofá ao lado dela. — Ambos conhecidos pelo gosto por apostas altas e, aparentemente, por negócios escusos.
Yara: Antoine? — Yara arregalou os olhos. — Ele é uma figura perigosa, Camila. Meu pai mencionou uma vez que ele tem conexões com corridas ilegais.
Sasha estendeu a mão para pegar um bloco de anotações na mesinha de centro e começou a rabiscar algo.
Sasha: Corridas ilegais, então? Interessante. E Nicolas estava com eles?
Assenti, inclinando a cabeça para trás e fechando os olhos.
Nicolas: Sim, mas o que mais me incomoda é que ele parecia confortável demais. Como se estivesse totalmente no controle. Giovanna até deu um show de poder, mas acho que ela está em um nível diferente desse grupo.
Yara fechou o notebook e cruzou as pernas, encarando-me com seriedade.
Yara: E você, o que pretende fazer agora?
Camila: Não sei ainda — confessei, encarando o teto. — Estou começando a pensar que talvez eu tenha me envolvido em algo muito maior do que imaginava. Mas tem algo nesse grupo, nessa... atmosfera. Eu preciso descobrir mais.
Sasha me deu um tapinha no ombro e sorriu.
Sasha: Bem, pelo menos você tem a gente. Não importa o quão grande seja o problema, juntas damos um jeito.
Yara concordou com um aceno, e por um momento, senti um calor reconfortante no peito.
Elas estavam certas. Eu não precisava enfrentar tudo sozinha.
Camila: Obrigada, meninas — murmurei, com um sorriso cansado. — Amanhã é outro dia. E com sorte, uma nova chance de conseguir respostas.
Enquanto a noite avançava e as luzes da cidade iluminavam o quarto, uma coisa era certa: o jogo estava longe de acabar. E, se dependesse de mim, eu encontraria as respostas – custasse o que custasse.
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[Chateau Du Soleil, Cannes – França]
Nicolas Stark | 00:30 AM
A festa finalmente se dissipava, deixando para trás os rastros de um espetáculo cuidadosamente encenado. Olhei ao redor, vendo os últimos convidados se retirarem, sorrisos vazios e promessas inúteis trocadas como brindes. Antoine e Javier haviam desaparecido, provavelmente conspirando em algum canto escuro, e eu me senti aliviado por não ter que lidar mais com as mesmas conversas cansativas.
Giovanna, no entanto, ainda estava lá. Ela pairava no salão como uma sombra elegante, sua presença impossível de ignorar. Não importava onde eu fosse, sempre havia algo nela que atraía minha atenção – como uma tempestade prestes a desabar, mas que nunca revelava sua direção.
Enquanto saía para o pátio, o ar da noite era frio e reconfortante. Eu precisava de espaço, longe das máscaras e dos jogos. Acendi um cigarro, algo que raramente fazia, mas que sempre parecia adequado depois de noites como essa.
Minutos depois, ouvi passos atrás de mim. Não precisei me virar para saber quem era.
Giovanna: Achei que já tivesse ido embora.
A voz dela era como sempre – controlada, carregada de segundas intenções. Ela parou ao meu lado, os braços cruzados, com um olhar curioso.
Nicolas: Quase fui. Mas o silêncio aqui fora é mais interessante do que qualquer coisa lá dentro.
Ela riu baixo, aquele tipo de riso que dizia mais do que palavras poderiam. Giovanna era um enigma que eu nunca tive a paciência de decifrar completamente.
Giovanna: Você está fugindo de algo, Nicolas? Ou apenas adiando o inevitável?
Nicolas: Talvez os dois. E você? Está aqui porque quer ou porque precisa?
Ela inclinou a cabeça, como se ponderasse minha pergunta.
Giovanna: Digamos que gosto de manter um olho no tabuleiro. Principalmente quando algumas peças estão começando a se mover de forma... interessante.
Ela sempre tinha uma resposta enigmática pronta, como se o simples ato de falar fosse parte de um jogo que só ela conhecia as regras.
Nicolas: Sempre tão dramática, Giovanna. Não cansa?
Giovanna: E você, sempre tão cético. Não se cansa de ser previsível?
Dei uma tragada longa no cigarro, sem responder. Havia uma tensão constante entre nós, uma linha tênue entre aliança e rivalidade que nunca parecia se resolver.
Giovanna: Vou para meu apartamento. Acho que é tarde demais até mesmo para nós. Mas, Nicolas... cuidado com Camila. Ela tem um jeito interessante de se colocar onde não foi convidada.
O nome dela fez minha mente voltar para o salão. Camila. Ela não era como o resto das pessoas ali. Seu olhar tinha um brilho diferente – não de ambição, mas de curiosidade. E isso era tão perigoso quanto.
Nicolas: Não se preocupe comigo, Giovanna. Sei exatamente como lidar com ela.
Ela sorriu de lado, dando um passo para trás.
Giovanna: Espero que sim. Porque, às vezes, não é o que você sabe, mas o que você não vê que te destrói.
Com essas palavras, ela se afastou, desaparecendo no corredor que levava à saída. Permaneci ali por mais alguns minutos, tentando organizar meus pensamentos.
Quando finalmente deixei o Chateau, minha mente estava mais carregada do que antes.
Minha cobertura em Cannes era um refúgio, um lugar onde as paredes altas e o isolamento me protegiam do mundo. Fechei a porta atrás de mim, o silêncio sendo uma bem-vinda mudança do caos do evento.
Ainda assim, minha mente não descansava. Pensei em Antoine e Javier, nos negócios arriscados que se desenrolavam diante de mim. Pensei em Giovanna, sempre com um passo à frente, mas nunca revelando suas intenções por completo.
E, inevitavelmente, pensei em Camila.
Ela era diferente, isso era claro. Enquanto todos jogavam o mesmo jogo, ela parecia estar tentando aprender as regras. Havia algo de intrigante nela, algo que eu não conseguia ignorar, por mais que tentasse.
Caminhei até a varanda, a vista de Cannes iluminada como um mapa vivo à minha frente. Peguei meu celular, rolando distraidamente pelos contatos, como se procurasse por alguém ou algo que pudesse trazer clareza.
Mas não havia respostas ali. Apenas mais perguntas.
E, no fundo, eu sabia que a maior de todas era: até onde eu estava disposto a ir para proteger o que era meu?
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Atualizado até capítulo 40
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