[ Stark Motors, Cannes - França ]
Camila Vasquez | 20:15 PM
O escritório estava quase vazio àquela hora. A maioria dos funcionários já tinha ido embora, deixando apenas o silêncio e o zumbido leve do sistema de ar-condicionado para preencher o ambiente. Eu sempre ficava até mais tarde, aproveitando o momento de calmaria para organizar minha agenda ou revisar documentos com a devida concentração.
Mas aquela noite, algo estava diferente.
Ao passar pela sala de Nicolas, percebi que a porta estava entreaberta, e a luz ainda estava acesa. Estranho, pensei. Ele nunca saía sem trancar tudo. Por um instante, hesitei, mas minha curiosidade falou mais alto.
Com cuidado, empurrei a porta, revelando o ambiente impecável e minimalista de seu escritório. Papéis estavam organizados na mesa, e seu laptop permanecia aberto, a tela iluminada. Não era típico de Nicolas deixar algo sem supervisão, principalmente seu computador pessoal.
Dei um passo à frente, hesitante. Isso não era da minha conta, e eu sabia disso. Mas a tentação era grande. Ele estava sempre tão reservado, tão meticuloso, que ver aquela brecha parecia quase uma oportunidade rara de entender melhor quem era Nicolas Stark.
Aproximei-me da mesa. A tela mostrava uma pasta aberta, com várias imagens em miniatura. Meu coração parou por um segundo quando vi o que estava ali.
Eram fotos minhas.
Algumas antigas, tiradas muitos anos atrás, em momentos que eu sequer lembrava. Eu vi uma de quando tinha uns dez anos, vestida com meu uniforme escolar e segurando uma mochila desgastada. Outra mostrava eu e meus pais em uma viagem que havíamos feito ao interior — minha mãe sorria, meu pai segurava minha mão com firmeza.
Mas como Nicolas tinha aquilo?
Minhas mãos tremiam quando cliquei na próxima imagem. Era uma foto recente, de semanas atrás, tirada na cafeteria em frente ao prédio da Stark Motors. Eu estava sentada sozinha, com meu laptop aberto e um café na mão.
Ele estava me observando? pensei, sentindo um misto de confusão e indignação.
Havia mais arquivos. Notas anexadas a algumas fotos, mencionando datas, lugares, até mesmo pequenos detalhes sobre mim que ele não poderia ter descoberto apenas trabalhando comigo.
De repente, a cadeira atrás de mim rangeu, e meu coração disparou.
Nicolas: Aproveitando sua folga para invadir minha privacidade, Camila?
Virei-me rapidamente, encontrando Nicolas parado na porta. Sua expressão era difícil de decifrar — um misto de provocação e algo mais profundo, algo que parecia quase... culpa.
Camila: O que significa isso, Nicolas? — perguntei, apontando para a tela. Minha voz estava firme, mas eu sabia que ele podia perceber minha confusão. — Por que você tem essas fotos?
Ele entrou na sala, fechando a porta atrás de si.
Nicolas: Eu poderia perguntar o mesmo. O que você acha que está fazendo mexendo nas minhas coisas?
Camila: Não tente mudar o foco. Essas fotos... essas informações. Você esteve me investigando? Por quê?
Ele parou por um momento, como se estivesse escolhendo cuidadosamente suas palavras.
Nicolas: Não é o que você está pensando, Camila.
Camila: Então explique. Porque, honestamente, isso parece bem errado.
Nicolas suspirou, passando a mão pelos cabelos, um gesto raro de frustração.
Nicolas: Eu não estava te espionando. Eu estava... tentando entender.
Camila: Entender o quê?
Nicolas: Você.
Suas palavras me pegaram de surpresa, e por um instante, o ar pareceu mais pesado na sala.
Nicolas: Desde que você começou a trabalhar aqui, percebi que havia algo sobre você, algo que não fazia sentido. Algumas conexões, algumas histórias que não se encaixavam. E então, quando eu comecei a procurar...
Ele parou, hesitando.
Camila: Quando começou a procurar o quê, Nicolas? — pressionei, cruzando os braços.
Ele me olhou nos olhos, e pela primeira vez, vi algo além de sua fachada arrogante. Ele parecia vulnerável, quase humano.
Nicolas: Respostas.
Camila: Respostas para o quê? — perguntei, minha voz mais baixa agora, mas ainda exigente.
Ele não respondeu imediatamente, mas o silêncio entre nós foi o suficiente para me fazer perceber que havia muito mais nessa história do que eu podia imaginar. E, de alguma forma, Nicolas estava no centro de tudo.
Nicolas: Você vai ter que confiar em mim, Camila — ele disse, finalmente. — Algumas coisas precisam ser ditas no momento certo.
Eu balancei a cabeça, rindo sem humor.
Camila: Você realmente gosta desse jogo, não é?
Nicolas: Não é um jogo, Camila. Não dessa vez.
O problema era que, por mais que eu quisesse odiá-lo, parte de mim acreditava nele. Ou queria acreditar.
Sem dizer mais nada, deixei o escritório, sentindo Ódio de Nicolas Stark.
[ Stark Motors, Cannes - França ]
Nicolas Stark | 22h45
Não sei o que me irrita mais: o fato de Camila ter invadido minha privacidade ou o modo como ela simplesmente não entende o que está acontecendo. Ela estava ali, mexendo no meu computador, pegando pedaços da minha vida como se fosse uma simples curiosidade. Não faz ideia do quanto isso poderia ser perigoso.
Mas o pior não foi ela encontrar aquelas fotos. O pior é que, agora, ela tem o poder de saber mais do que eu gostaria. E eu não posso deixar que isso se espalhe.
A última coisa que Camila precisa entender é que o que eu faço não é apenas sobre negócios e sucesso. Ela acha que tudo se resume à empresa, mas não é. A Stark Motors, as corridas clandestinas, o dinheiro sujo que circula por trás das portas fechadas... ela não sabe de nada disso. E, se depender de mim, nunca saberá.
Eu a observei por um tempo depois que ela saiu da minha sala. O jeito como ela olhou para aquelas fotos, as perguntas que ela fez... Ela está começando a juntar as peças, e não gosto do que vejo. Ela está mais perto da verdade do que eu gostaria, e não sei quanto tempo mais posso manter o jogo.
Respostas. Ela quer respostas, mas eu não posso dar a ela. Não agora.
Minhas mãos estavam tremendo enquanto eu revisava o que havia deixado para trás. Cada foto, cada anotação... Tudo parecia inofensivo, mas sabia que não era. Ela não tem ideia do quanto estou arriscando para manter as coisas no controle. O quanto eu e minha empresa estamos envolvidos em algo muito maior e mais sujo do que ela imagina.
As corridas clandestinas, os acordos de dinheiro sujo que fazem a Stark Motors prosperar, tudo isso gira em torno de um jogo perigoso. E Camila... ela não tem nem ideia do buraco no qual está prestes a se enfiar se continuar cavando.
Mas o que eu posso fazer? Ela já viu o suficiente para começar a questionar, e eu preciso ser cuidadoso agora. Inventar mais mentiras. Disfarçar tudo com palavras que parecem sinceras, mas não são. Eu não tenho escolha, não posso deixar que ela descubra a verdade.
Eu tentei, por algum tempo, me manter afastado, mas a realidade é que Camila me intriga de um jeito que ninguém mais conseguiu. Ela tem esse dom de me fazer querer ser melhor, mas isso não é algo que posso permitir. Não quando minha vida inteira depende dessas mentiras.
A única coisa que sei é que, se ela não desistir de procurar, vou ter que fazer o que for preciso para manter tudo isso oculto. Ela não vai me derrubar. Não vou deixar. Porque, no final, ela não entende o que está em jogo.
E eu sou bom em esconder a verdade, muito bom.
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Atualizado até capítulo 40
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