[ Stark Motors, Cannes – França]
Camila Vasquez | 16:00 PM, Dias Depois
O clima no escritório estava denso, quase sufocante. Desde o incidente no escritório de Nicolas, eu havia me afastado o máximo possível dele, focando apenas no trabalho e evitando qualquer contato desnecessário. Mas o silêncio entre nós era um grito surdo. Cada olhar, cada movimento parecia carregado de significados ocultos.
Eu sabia que ele estava escondendo algo. E agora, com o que havia encontrado no computador, tinha mais do que suspeitas — tinha provas. Mesmo que ainda não conseguisse encaixar todas as peças, aquele documento deixava claro que Nicolas Stark não era apenas o empresário impecável que todos acreditavam ser.
Ainda assim, confrontá-lo não era uma decisão fácil. Parte de mim sabia que, ao cruzar essa linha, não haveria volta.
Quando finalmente decidi agir, era fim de tarde. Esperei até o escritório esvaziar, como na última vez, e fui direto para a sala dele, ignorando o nó que apertava meu estômago.
Bati na porta com firmeza.
Nicolas: Entre.
Sua voz soava fria, distante. Quando entrei, ele estava sentado à sua mesa, os olhos fixos em alguns papéis, mas o olhar subiu imediatamente para mim. Sua expressão endureceu.
Camila: Precisamos conversar.
Ele largou os papéis lentamente, recostando-se na cadeira.
Nicolas: Achei que você estivesse ocupada demais me ignorando para querer conversar.
Camila: Isso não é uma conversa qualquer. — Eu segurei o documento que havia impresso, colocando-o na mesa dele. — O que é isso, Nicolas?
Ele olhou para o papel sem expressão, mas notei o leve tensionar de sua mandíbula. Pegou o documento, examinou-o e, com a maior calma do mundo, empurrou-o de volta para mim.
Nicolas: Não sei de onde você tirou isso, mas claramente, você está interpretando errado.
Camila: Não me subestime. — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Esse documento é uma prova de que você está envolvido em algo... ilegal.
Ele se levantou da cadeira, caminhando até mim. A sala parecia menor de repente.
Nicolas: Você acha que sabe de alguma coisa, mas está completamente fora do seu alcance.
Camila: Então me explique! — retruquei, erguendo a voz. — Porque, no momento, tudo isso parece lavagem de dinheiro e transações ilegais ligadas à Stark Motors.
Ele riu, mas não havia humor no som.
Nicolas: Você não faz ideia do que está falando, Camila. E, honestamente, começar a mexer em coisas que não entende é perigoso.
Camila: Perigoso? — Dei um passo à frente, encarando-o. — Sabe o que é realmente perigoso? Trabalhar para alguém que mente o tempo todo, que manipula e acha que pode controlar tudo.
Nicolas: Cuidado com o que você diz.
Camila: Não. Chega, Nicolas. Eu cansei de tentar entender você. Cansei de me sentir uma peça no seu jogo.
Ele ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos nos meus, como se estivesse avaliando o quanto eu sabia — ou quanto poderia suportar.
Nicolas: Você não entende. Tudo o que eu faço, tudo isso, é para proteger algo maior.
Camila: Proteger o quê? Você mesmo? Sua reputação?
Nicolas: Você não vai entender, Camila. E, honestamente, prefiro que não entenda.
O tom dele mudou. Ele parecia... cansado. Mas eu não podia deixar isso me abalar.
Camila: Se você acha que pode continuar me tratando assim, está enganado. Eu não sou sua cúmplice, Nicolas. E se você não pode me dar respostas, então não tenho mais motivo para estar aqui.
Aquelas palavras pairaram no ar como uma bomba prestes a explodir.
Nicolas: O que você está dizendo?
Camila: Estou dizendo que talvez eu deva deixar a Stark Motors.
Ele deu um passo para trás, como se minhas palavras o tivessem atingido fisicamente.
Nicolas: Você não pode fazer isso.
Camila: Posso. E vou.
Virei-me, pronta para sair, mas sua voz me deteve.
Nicolas: Camila...
Havia algo em seu tom — uma mistura de desespero e autoridade. Olhei por cima do ombro, esperando que ele dissesse algo que mudasse tudo. Mas ele apenas ficou ali, com os punhos cerrados, sem saber o que dizer.
Sem mais uma palavra, deixei a sala, sentindo uma mistura de alívio e peso. Talvez fosse o começo do fim. Ou apenas o começo de algo muito maior.
[ Stark Motors, Cannes – França ]
Nicolas Stark | 16:15 PM
O silêncio no escritório parecia me engolir. Desde que Camila deixou minha sala na última vez, as coisas mudaram. Ela passou a me evitar, mal me olhando nos olhos, mal pronunciando o meu nome. Não era só irritante. Era insuportável.
Eu sabia que ela havia descoberto algo. Podia ver nos olhares furtivos, no jeito hesitante, e na maneira como ela apertava a mandíbula toda vez que nossos caminhos se cruzavam. Eu me preparava para isso. Camila não era o tipo de pessoa que aceitava ficar no escuro.
Mas quando a porta da minha sala se abriu naquela tarde, e ela entrou com a cabeça erguida e os olhos determinados, percebi que eu havia subestimado o quanto ela já sabia.
Ela colocou um papel na minha mesa com um movimento rápido, quase agressivo. Não precisei olhar muito para entender o que era.
Camila: O que significa isso, Nicolas?
Levantei o olhar para ela, mas mantive minha expressão neutra.
Nicolas: Parece que você tem o hábito irritante de mexer onde não é chamada.
Ela estreitou os olhos, sem recuar. Camila nunca recuava.
Camila: Não desvie o assunto. Esse documento liga você e a Stark Motors a transações suspeitas. Lavagem de dinheiro, Nicolas? Isso é o que você faz aqui?
Peguei o papel e o examinei com cuidado, apenas para ganhar tempo. Por dentro, uma parte de mim queria rir. Camila Vasquez, tão certa de sua moralidade, tão determinada a jogar na minha cara o que achava que era a verdade.
Nicolas: E de onde você tirou isso? Está se divertindo hackeando meu computador agora?
Camila: Isso não importa. O que importa é que eu sei que você está envolvido em algo ilegal.
A palavra "ilegal" pendurou-se no ar como um peso.
Levantei-me lentamente, caminhando ao redor da mesa até ficar próximo dela.
Nicolas: Você não faz ideia do que está falando.
Camila: Então me explique. — Ela cruzou os braços, desafiadora. — Porque, até agora, parece que você está escondendo mais do que deveria.
Eu ri, mas não havia humor na minha voz.
Nicolas: Isso aqui não é um jogo, Camila.
Camila: Eu sei muito bem disso! — ela disparou, sua voz ecoando pelo escritório. — E é por isso que estou aqui, pedindo respostas.
Por um momento, deixei o silêncio se estender. Eu a observava, cada detalhe. Os olhos queimando de raiva, a postura rígida, o leve tremor nas mãos. Camila estava com medo, mas também estava determinada.
Nicolas: Você não entende o que está em jogo.
Camila: Então me faça entender, Nicolas! Porque, até agora, tudo o que vejo é alguém que prefere se esconder atrás de mentiras a enfrentar a verdade.
Eu queria gritar com ela, acusá-la de estar cavando onde não devia, mas algo me impediu. A verdade era que ela estava certa, em parte. Eu estava escondendo coisas. Muitas coisas.
Nicolas: Eu faço o que preciso fazer para manter isso tudo de pé. Para proteger pessoas.
Camila: Proteger quem? Você?
A risada amarga dela me irritou mais do que qualquer acusação.
Nicolas: Você acha que entende o mundo, mas não entende. Não tem ideia de como as coisas funcionam aqui, do que é necessário para sobreviver nesse meio.
Camila: Então talvez eu não deva fazer parte disso.
As palavras dela me atingiram como um soco.
Nicolas: O que você quer dizer com isso?
Camila: Estou dizendo que talvez eu deva deixar a Stark Motors.
Eu me aproximei dela, instintivamente, como se pudesse impedi-la de dizer aquilo.
Nicolas: Você não vai fazer isso.
Camila: Ah, vou.
Ela se virou, pronta para sair, mas minha voz a deteve.
Nicolas: Camila.
Ela parou, mas não olhou para mim.
Eu quis dizer algo. Qualquer coisa que explicasse. Mas o que eu podia dizer? Que estava enfiado em um esquema que financiava a Stark Motors com dinheiro de origens questionáveis? Que tudo aquilo, as mentiras, o sigilo, eram para manter as aparências enquanto eu navegava por um mar de sujeira?
Não. Camila nunca entenderia isso.
Nicolas: Você não sabe no que está se metendo.
Camila: E você não sabe com quem está lidando, Nicolas.
E com isso, ela saiu, deixando um silêncio quase ensurdecedor para trás.
Eu voltei para minha mesa, olhando para o documento que ela deixara ali. Não era apenas um pedaço de papel. Era o começo de uma guerra que eu não tinha certeza se conseguiria vencer.
E o pior de tudo? Eu sabia que, se Camila continuasse cavando, ela não apenas destruiria a si mesma — ela me destruiria também.
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Atualizado até capítulo 40
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