[ Stark Motors, Cannes - França ]
Camila Vasquez | 9:00 AM
Quando entrei na sala de reuniões, o ambiente estava calmo demais, quase hostil. Nicolas estava sentado à mesa, o olhar fixo na tela do computador, sua postura impecável e a expressão inalterada, como sempre. Mas eu sabia que havia algo errado. Ele não parecia surpreso com minha entrada, o que indicava que ele sabia exatamente o que eu estava prestes a dizer.
Camila: Bom dia — comecei, tentando manter a calma, embora sentisse uma tensão crescente no ar. Ele não se mexeu. Não deu sequer um olhar para mim antes de responder.
Nicolas: Bom dia, Camila — respondeu com uma voz fria, sem nem desviar os olhos da tela. — Sente-se.
Dei um passo à frente, tentando controlar minha respiração e a inquietação que me consumia. Coloquei os papéis sobre a mesa com cuidado, como sempre faço.
Camila: Estive analisando os relatórios financeiros, como sempre faço — comecei, já sabendo que ele não gostava de ser interrompido no início de uma conversa. — E percebi algo estranho. Os números aumentaram de forma considerável nas últimas semanas. Não são grandes discrepâncias, mas são suficientes para que eu fique desconfiada.
Dessa vez, ele levantou os olhos e me encarou. Não havia surpresa no olhar dele, apenas uma leve curiosidade.
Nicolas: E o que você está sugerindo com isso, Camila? Que há algo errado?
Eu respirei fundo antes de responder.
Camila: Eu não estou sugerindo nada. Eu estou afirmando que há algo fora do lugar. O aumento repentino nas movimentações não pode ser apenas coincidência. Pode ser uma série de pequenas falhas, mas também pode ser algo mais. E eu não vou ignorar isso.
Ele se recostou na cadeira, os olhos ainda fixos em mim, mas sua expressão era uma mistura de ceticismo e desafio.
Nicolas: Você está criando um caso a partir de nada, Camila. As flutuações nos números são normais. Empresas como a Stark Motors lidam com grandes quantidades de dados, e pequenas variações acontecem. Não há nada de estranho nisso. A menos que você queira que haja.
Fui implacável.
Camila: Não se trata de querer ou não, Nicolas. As flutuações podem ser normais, mas o ritmo e a magnitude dos aumentos não fazem sentido. Olhe para o padrão. Isso não é... comum. E você sabe disso.
Ele ficou em silêncio por um momento, me estudando. Eu podia ver que ele estava se divertindo com o meu desafio, como se estivesse me testando, me empurrando para ver até onde eu iria. Então, ele inclinou-se um pouco para frente, seus olhos se estreitando.
Nicolas: Você acha que está perto de algo, não é? — ele disse, com um tom quase divertido. — Você se sente como se estivesse descobrindo algo que ninguém mais percebeu. Mas a verdade, Camila, é que você está olhando para algo que não existe.
Senti uma onda de frustração se formando dentro de mim, mas mantive a calma.
Camila: Eu sei o que vejo, Nicolas. E se você está dizendo que não há nada, então explique-me. Eu gostaria de entender por que os números cresceram tão rapidamente. E por que você acha que isso não é importante.
Ele sorriu levemente, mas não havia bondade em seu sorriso.
Nicolas: Você é obstinada, Camila. Isso é o que mais admiro em você. Mas há momentos em que essa obstinação se torna um obstáculo. Você está se fixando em um ponto e ignorando o quadro completo.
A tensão estava crescendo a cada palavra, e eu sabia que estava mexendo em algo que ele não queria que fosse tocado. Mas, em vez de me intimidar, isso só me motivava mais.
Camila: Eu entendo o quadro maior, Nicolas — respondi, com firmeza. — Mas sem olhar os detalhes, o quadro não faz sentido. E eu não vou deixar passar algo que pode ser perigoso para todos nós.
Ele se levantou então, caminhando até a janela com uma tranquilidade desconcertante, como se a minha presença na sala não fosse relevante o suficiente para ele se preocupar.
Nicolas: Você está buscando algo, Camila, mas talvez esteja olhando no lugar errado. E se continuar assim, pode acabar encontrando algo que preferiria não saber.
Eu o observei enquanto ele ficava em silêncio, observando a cidade lá fora.
Camila: Então você sugere que eu pare de procurar? — Eu não podia deixar de perguntar, minha voz suave. — Que eu simplesmente aceite que tudo está em ordem?
Ele virou a cabeça para olhar para mim, o olhar penetrante.
Nicolas: Não estou sugerindo nada, Camila. Estou apenas dizendo que, muitas vezes, a resposta que você procura está bem diante de seus olhos, mas você está tão obcecada pela busca que não consegue enxergar o óbvio.
Senti um arrepio correr pela minha espinha. Ele estava jogando comigo, mas eu não me deixaria distrair.
Camila: E o que seria 'o óbvio', Nicolas?
Ele sorriu de novo, mas dessa vez, o sorriso era carregado de um mistério quase intransponível.
Nicolas: Às vezes, Camila, o que é óbvio é o que você menos espera.
Eu não sabia se ele estava tentando me intimidar ou se realmente estava tentando me direcionar para algo. Mas uma coisa era certa: ele não estava disposto a me dar as respostas que eu queria. E, por mais que eu quisesse continuar pressionando, eu sabia que aquele não era o momento.
Camila: Continuarei investigando — respondi, com um tom que não admitia contestação. — E você terá que me ouvir, Nicolas. Não vou desistir disso.
Ele apenas acenou com a cabeça, como se já soubesse que minha persistência seria minha maior força e meu maior obstáculo.
Nicolas: Fique à vontade, Camila. Apenas lembre-se: o que você procura pode não ser o que espera encontrar.
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[ Stark Motors, Cannes - França ]
Nicolas Stark | 9:35 AM
Observei a porta da sala de reuniões fechar-se suavemente atrás de Camila. Ela era audaciosa, perspicaz, e, acima de tudo, teimosa. Um conjunto de características que me fascinava e, ao mesmo tempo, irritava. Ela havia feito o que poucos ousariam: me desafiar diretamente, sem hesitação, sem medo aparente.
Voltei para a minha cadeira, mas minha mente não conseguia focar nos relatórios na tela. Ela estava fazendo perguntas demais, aproximando-se de uma linha tênue que jamais deveria ser cruzada. As flutuações financeiras que ela mencionara não eram meros erros contábeis, e, se ela continuasse insistindo, poderia tropeçar em algo que não estava pronta para lidar.
Olhei pela janela, a vista de Cannes se estendendo à minha frente como uma pintura viva. O brilho ensolarado da Côte d'Azur parecia inapropriado, considerando o peso do que estava em jogo.
Camila, Camila... você realmente não sabe onde está se metendo, não é? — murmurei, quase como se ela pudesse ouvir.
Eu tinha planos. Grandes planos. E, embora as movimentações financeiras fossem apenas um detalhe no quadro maior, elas não eram algo que pudesse ser exposto. Se ela insistisse, não teria outra escolha senão... redirecioná-la.
Minha mente começou a calcular as possibilidades. Camila era inteligente, mas sua determinação poderia ser sua fraqueza. Quanto mais ela pressionasse, mais fácil seria manipulá-la. Eu só precisava fazê-la questionar suas próprias conclusões, jogando a dúvida contra ela mesma.
Mas havia algo mais que me incomodava. Não era apenas o fato de ela estar perto demais da verdade. Era o modo como ela me olhava, como se pudesse enxergar algo além dos números e dos segredos. Como se quisesse decifrar o próprio homem por trás da fachada.
Isso era perigoso.
Levantei-me e comecei a caminhar pela sala, a mente trabalhando em estratégias. Eu sabia que precisava ser cauteloso. Camila era implacável, mas eu era paciente. Ela podia estar certa sobre as flutuações financeiras, mas jamais poderia desconfiar do verdadeiro propósito por trás delas.
Ela não pode saber...
Minha voz ecoou no silêncio da sala, como uma promessa sombria.
Se Camila continuasse investigando, poderia descobrir que os números eram apenas a ponta do iceberg. E, se isso acontecesse, tudo o que construíria seria colocado em risco. Mas o mais curioso de tudo era que, apesar do incômodo, eu não queria afastá-la. Havia algo em sua presença, em sua obstinação, que me fazia hesitar.
Talvez fosse o desafio. Ou talvez fosse a ideia de que, mesmo que ela estivesse perto demais, eu queria vê-la tentar.
Mas, no fim, era um jogo que só um de nós poderia vencer.
Caminhei até a mesa e pressionei um botão no interfone.
Nicolas: Marie, peça para que kaleb e tyler venha até minha sala imediatamente.
Se Camila queria continuar investigando, eu precisaria garantir que seus passos fossem cuidadosamente monitorados. E, acima de tudo, que ela jamais soubesse o que realmente estava por trás dos números.
Eu tinha uma empresa para proteger. E segredos que ninguém poderia descobrir.
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Atualizado até capítulo 40
Comments
Esperanza
Por favor, não me faça sofrer tanto esperando!
2025-01-20
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