[ Le Suquet, Cannes – França]
Camila Vasquez | Segunda-feira | 08:30 AM
O som do despertador ecoou pelo quarto, mas eu já estava acordada há horas. Passei a noite em claro, tentando organizar meus pensamentos, mas tudo continuava confuso. Nicolás. Ele parecia estar em todos os lugares, ocupando cada canto da minha mente, como um quebra-cabeça que eu não conseguia resolver.
Levantei-me com um suspiro pesado, arrumando-me rapidamente para o dia. Um vestido branco leve, uma maquiagem discreta, mas precisa. Era a imagem de alguém que estava no controle, mesmo que, por dentro, eu me sentisse à beira de um colapso.
Hoje era o dia em que tudo poderia começar a fazer sentido. Ou desmoronar de vez.
Já no escritório, minha postura era impecável. Cumprimentei os funcionários com um leve sorriso e segui para minha sala. Sentar à mesa deveria me trazer alguma sensação de normalidade, mas até isso parecia impossível. Não quando o plano que eu havia colocado em movimento já começava a dar frutos.
Meu celular vibrou em silêncio, uma notificação discreta, mas suficiente para fazer meu coração disparar.
Mensagem de "H":
"Tenho o acesso que você pediu. Conversamos em 10 minutos."
Peguei uma xícara de café e caminhei para o terraço, onde o sinal de internet era mais forte. Ninguém desconfiaria que minha saída era qualquer coisa além de uma tentativa de tomar um ar fresco.
Quando conectei a chamada, a voz do hacker do outro lado da linha era direta, quase fria.
H: "Você quer ir direto ao ponto ou quer que eu explique os detalhes?"
Eu respirei fundo, mantendo a voz firme.
Camila: "Direto. O que conseguiu?"
Ouvi o som de teclas sendo digitadas rapidamente, e, em poucos segundos, ele começou a falar.
H: "Nicholas Stark. CEO. Histórico financeiro limpo até onde as autoridades conseguem enxergar. Mas você tinha razão, há algo fora do comum. Movimentações recentes em contas offshore. Não é incomum para pessoas como ele, mas as datas coincidem com eventos específicos. Contratos, reuniões... e mais uma coisa."
Minha mão apertou o celular com força.
Camila: O quê?
H: "Há uma pessoa envolvida. Um nome que aparece constantemente nas comunicações privadas dele. Giovanna Lacroix. Ela está registrada como consultora externa, mas parece ser mais do que isso. Algumas transações financeiras apontam para ela como beneficiária."
Meu coração parou por um momento. Quem era Giovanna? E por que Nicolas a manteria tão próxima?
Camila: Você conseguiu alguma informação mais específica sobre ela?
H: Ainda não, mas posso continuar investigando se você quiser.
Pensei por um instante.
Camila: Faça isso. E me envie tudo o que encontrar sobre os negócios dele, as transações. Eu quero cada detalhe.
H: Entendido. Você vai ouvir de mim em breve.
A chamada encerrou-se, deixando-me sozinha com um misto de alívio e inquietação. As peças do quebra-cabeça começavam a surgir, mas a imagem ainda estava longe de ser clara.
O dia passou em um borrão. Fingi prestar atenção nas reuniões, assinei documentos sem realmente lê-los e tentei, a todo custo, não cruzar com Nicolás. Mas o universo parecia ter outros planos.
Na hora do almoço, enquanto eu atravessava o corredor em direção à copa, ele apareceu, como se surgisse do nada. Sua presença preenchia o espaço com uma intensidade quase sufocante.
Nicolas: Camila.
Parei, tentando disfarçar a tensão.
Camila: Nicolas. Precisa de algo?
Ele me olhou por um momento, os olhos azuis parecendo querer decifrar algo em mim.
Nicolas: Queria saber como você está. Pareceu... distante na última reunião.
Por dentro, meu coração batia descontrolado, mas minha voz saiu firme.
Camila: Estou bem. Só um pouco cansada, talvez. Nada que precise se preocupar.
Ele assentiu, mas o olhar que me lançou dizia outra coisa. Ele sabia que eu escondia algo.
Nicolas: Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar.
Sorri, forçando uma calma que estava longe de sentir.
Camila: Obrigada. Mas estou bem.
Quando ele se afastou, senti um peso sair dos meus ombros. Mas também sabia que aquilo era só o começo. Eu estava mais perto da verdade, mas, ao mesmo tempo, mais próxima do perigo.
E, de alguma forma, eu sabia que não havia mais como voltar atrás.
[ Stark Motors, Cannes – França]
Nicolás Stark | 16:15 PM
A tarde avançava devagar, cada minuto arrastando-se como se o universo estivesse me testando. Meu escritório, impecável como sempre, parecia mais vazio do que o normal. Talvez fosse o silêncio que me incomodava, ou talvez fosse a presença fantasmagórica de Camila em cada canto da minha mente.
Ela estava diferente. Eu sentia isso em cada interação, cada olhar que ela me lançava ultimamente. Algo em sua postura tinha mudado, como se ela estivesse a um passo de descobrir mais do que deveria. Era isso que me deixava inquieto.
Minhas mãos repousavam sobre o teclado do computador, mas a planilha aberta à minha frente não fazia sentido algum. Tudo o que eu conseguia pensar era na conversa que tive com Tyler na noite passada, no bar.
Tyler: " Você tem que parar de deixar ela te controlar assim, cara. Se ela está te pressionando, faça o jogo virar. Ela não é imune a charme."
Eu ri na hora, mas a ideia ficou. Seduzir Camila. Era simples, direto e eficaz. Se ela estava cavando fundo demais, distraí-la parecia a melhor solução. Afinal, eu sabia como manipular situações ao meu favor. Sempre soube.
Dei um longo gole no café já frio em minha mesa e me recostei na cadeira. O plano de Tyler tinha mérito, mas não era tão simples quanto ele fazia parecer. Camila não era como as outras. Ela tinha uma resistência que me intrigava, uma força que não cedia facilmente.
E era exatamente por isso que eu estava considerando a ideia.
Levantei-me e fui até a janela, observando a vista. A cidade se estendia como um cenário de perfeição, mas eu sabia que, assim como eu, todos tinham algo a esconder. Inclusive Camila.
Eu precisava de um plano. Não podia simplesmente aparecer na frente dela e tentar encantá-la com palavras vazias. Camila não era boba. Se eu quisesse distraí-la, teria que ser inteligente.
A verdade era que eu queria mais do que apenas afastá-la da verdade. Algo em mim queria conquistá-la de verdade, mesmo sabendo que era uma má ideia. A linha entre manipular e ceder era tênue, e eu estava perigosamente próximo de cruzá-la.
Peguei o telefone e disquei o número de Tyler. Ele atendeu após o segundo toque, sua voz casual do outro lado da linha.
Nicolás: Vamos fazer do seu jeito. Mas preciso que seja calculado. Sem riscos.
Tyler: Eu sabia que você ia acabar cedendo. Não se preocupe, você sabe como jogar esse jogo melhor do que ninguém.
Eu encerrei a ligação com um suspiro pesado. Tyler tinha razão. Seduzir Camila seria um jogo, e eu sempre fui bom nisso. O problema era que, desta vez, eu não tinha certeza de quem sairia vencedor.
Com o olhar ainda fixo na janela, decidi que o primeiro passo seria encontrar uma desculpa para estar próximo dela fora do ambiente profissional. Algo casual, mas estratégico.
E, quando o momento certo chegasse, eu mostraria a Camila que ela não era a única que sabia como manipular uma situação.
O jogo estava prestes a começar. E, pela primeira vez em muito tempo, eu sentia a adrenalina correndo em minhas veias.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 40
Comments