[ Stark Motors, Cannes - França ]
Camila Vasquez | 10:15 AM
O silêncio do escritório parecia mais pesado do que nunca. O som dos teclados e o murmúrio das conversas ao fundo ecoavam de forma quase abafada, como se todo o ambiente estivesse aguardando algo. Algo que eu não conseguia entender. Meu olhar fixou-se na tela do computador, onde uma mensagem de erro piscava insistentemente: "Acesso Negado."
Por um momento, fiquei paralisada. Isso não fazia sentido. Eu, Camila Vasquez, uma das funcionárias de confiança de Nicolas, sempre com acesso irrestrito aos documentos da empresa, agora estava sendo bloqueada sem explicação. O que estava acontecendo?
Tentei mais uma vez, mas o resultado foi o mesmo. "Acesso Negado". A frustração começou a se transformar em um nó apertado no meu estômago. Meu coração acelerou, e a sensação de impotência tomou conta de mim. Eu sabia que algo estava errado, muito errado. Mas o que poderia ser?
O impulso de investigar, de entender o que estava sendo escondido, me dominou. Levantei-me com pressa, sem saber ao certo o que procurava, mas com a firme convicção de que encontraria algo. Algo que explicasse esse bloqueio. Algo que justificasse o que eu sentia: uma grande desconfiança.
Passei pelas mesas dos colegas, quase sem notar seus olhares curiosos. Minha mente estava em outro lugar, inquieta e determinada. Não podia permitir que essa barreira ficasse no caminho. Se o sistema estava me bloqueando, eu encontraria uma forma de contornar. As respostas estavam ali, em algum lugar, esperando para serem encontradas.
Quando cheguei à sala de arquivos, vi Kaleb, o braço direito de Nicolas, com seus olhos inexpressivos e postura quase arrogante, como sempre. Ele estava mexendo em alguns papéis, mas assim que percebi sua presença, ele parou e me observou, como se já soubesse que eu viria.
Kaleb: Camila. — A palavra saiu de seus lábios com uma calma estudada, como se estivesse me avaliando.
Eu não o suportava. Ele sempre tinha essa maneira de olhar para mim como se fosse uma peça de um jogo. Como se, de alguma forma, eu estivesse apenas seguindo as regras dele e de Nicolas, sem direito de questionar nada.
Camila: Kaleb. — Respondi, tentando manter a compostura, mas minha voz traiu minha inquietação. — Preciso de acesso aos relatórios financeiros. O sistema está me barrando.
Ele não respondeu de imediato, apenas me observou com um olhar que, por um breve instante, parecia quase... divertido? Como se ele soubesse algo que eu ainda não tinha descoberto.
Camila: Você sabe o que aconteceu. — Falei, tentando esconder a frustração. — Não entendo porque o acesso foi restrito. Não houve qualquer explicação. Isso não é normal.
Kaleb deu um pequeno suspiro e, com um movimento lento e calculado, se aproximou da prateleira de arquivos, pegando uma pasta e abrindo-a como se estivesse se preparando para me dar uma explicação. Mas eu sabia, eu sentia, que ele não estava ali para me ajudar.
Kalsb: A restrição foi uma decisão de Nicolas. — Ele falou com uma leveza que só fez aumentar minha irritação. — Ele acha que certos documentos precisam ser... mantidos em sigilo, por enquanto.
O ar ficou mais denso. Eu podia sentir a manipulação nas palavras dele, a tentativa de me fazer acreditar que o que estava acontecendo era algo perfeitamente razoável. Mas havia algo em seu tom, algo em seu comportamento, que dizia o contrário.
Camila: Sigilo? — Minha voz saiu mais firme do que eu imaginava. — Desde quando Nicolas toma decisões sem me consultar? Eu sempre fui sua assistente de confiança. Eu tenho o direito de saber o que está acontecendo.
Kaleb olhou-me com um leve sorriso, mas não havia nada de amigável naquele sorriso. Era mais uma expressão de alguém que estava se divertindo com meu desconforto. Ele sabia que eu não gostava daquela situação. Ele sabia que estava jogando com fogo.
Kaleb: Talvez você tenha esquecido, Camila, mas Nicolas não deve satisfações a ninguém. Ele tem os próprios motivos. E você, por enquanto, deve seguir os protocolos. — Ele disse com uma tranquilidade imperturbável, como se estivesse tentando me diminuir com suas palavras.
Aquelas palavras me cortaram. Como ele ousava falar assim comigo? Eu sabia que ele estava tentando me intimidar, tentar me fazer me sentir pequena, submissa. Mas, ao invés disso, uma fúria crescente começou a se formar dentro de mim. Eu não iria recuar.
Camila: Não vou apenas aceitar isso. — Falei, com a voz mais fria que consegui, enquanto meu corpo tremia levemente de raiva. — Eu tenho o direito de saber o que está acontecendo dentro desta empresa. Se você acha que vai me impedir, está muito enganado.
Ele levantou uma sobrancelha, claramente surpreso com a minha reação. Mas não se deixou abalar. Sua expressão continuou a mesma, como se estivesse lidando com uma criança irritada.
Kaleb: Cuidado, Camila. — Ele disse, sua voz mais baixa agora, quase como um aviso. — Você pode estar cavando um buraco mais fundo do que imagina.
Ele disse isso de uma forma que me deixou inquieta. A ameaça estava implícita nas palavras dele. Se eu continuasse investigando, algo poderia sair do controle. Mas o que ele estava insinuando? Eu precisava saber mais. Eu não ia me deixar intimidar por ele ou por qualquer outra pessoa.
Respirei fundo, tentando manter a calma, e dei um passo à frente, decidida.
Camila: Vou continuar, Kaleb. Eu vou descobrir o que Nicolas está tentando esconder. Não importa o que você ou ele façam para me parar.
Ele não disse mais nada. Apenas me observou por um momento, seu olhar calculista e distante, antes de se afastar lentamente, como se já tivesse ganhado o jogo.
Enquanto ele saía da sala, eu me senti mais sozinha do que nunca. Mas também sabia, com uma clareza inesperada, que minha luta estava apenas começando.
[ Stark Motors, Cannes - França ]
Nicolas Stark| 10:45 AM
O relógio na parede parecia marcar cada segundo como uma eternidade. O silêncio em meu escritório era denso, quase palpável, e, por um momento, quase me senti confortável com ele. Eu sempre preferi a solidão nesse espaço, onde as distrações eram mínimas e eu podia, finalmente, refletir sobre o que realmente importava. E, neste momento, o que mais me consumia era Camila.
Aquele incidente com o acesso aos documentos ainda estava martelando em minha mente. Não era como se fosse algo que eu pudesse simplesmente ignorar. Eu sabia que ela estava começando a questionar minhas decisões, minha autoridade. Ela estava se tornando mais ousada do que eu queria. Talvez fosse hora de colocar um fim nisso. Talvez fosse hora de fazer ela entender quem realmente detinha o controle aqui.
Eu sempre fui implacável com a forma como lidava com as pessoas ao meu redor. No meu mundo, havia uma linha tênue entre confiança e subordinação. Camila... Ela estava testando essa linha. Mas algo dentro de mim, algo que eu me recusava a admitir, me dizia que não deveria tratá-la como trataria qualquer outra pessoa. Havia algo nela que despertava uma reação em mim que eu não conseguia controlar.
O que, para mim, era um simples gesto de autoridade — restringir seu acesso aos documentos — parecia ter o efeito oposto em Camila. Eu sabia que ela não se deixaria abalar facilmente. E, ao invés de ficar irritado com sua resistência, eu estava começando a sentir uma inquietação crescente. Algo que não deveria sentir.
Olhei para os papéis espalhados sobre minha mesa, tentando me concentrar em algo que não fosse ela. Mas, não importava o quanto eu tentasse me distanciar, sua imagem continuava se infiltrando em meus pensamentos, como uma sombra persistente. Sua atitude, sua confiança inabalável... aquilo me fascinava e me incomodava ao mesmo tempo.
O som do telefone interrompeu meus pensamentos. A tela do celular brilhou com o nome de Kaleb. Respondi imediatamente, tentando não transparecer o quanto minha mente estava em outro lugar.
Nicolas: Kaleb — Minha voz foi direta, sem espaço para conversas desnecessárias.
Kaleb: Nicolas, Camila... ela não parece ter se conformado com o bloqueio de acesso. Ela está desconfiada e já procurou o arquivo físico. — Kaleb informou, sua voz impessoal como sempre.
O que mais me irritava naquela situação era o fato de que Kaleb, apesar de ser eficiente em seu trabalho, não parecia perceber a complexidade da situação com Camila. Ela não era uma funcionária qualquer. E eu tinha certeza de que ela perceberia que algo não estava certo, que algo estava sendo ocultado.
Nicolas: Não se preocupe com isso. Eu vou lidar com ela. — Minha voz foi firme, mas uma sensação de urgência, de algo iminente, começou a se formar em meu peito. Algo estava prestes a acontecer, e eu sabia que não poderia mais adiar.
Desliguei o telefone sem dar espaço para mais explicações. Levantei-me da cadeira, sentindo o peso da responsabilidade que estava sobre meus ombros. Não era apenas uma questão de controlar Camila; era uma questão de manter as rédeas da Stark, de não permitir que qualquer tipo de falha abalo a confiança que eu construí ao longo dos anos.
Olhei pela janela do meu escritório, a vista para a cidade se estendendo à minha frente. A cidade que eu sempre controlei. O império que construí com trabalho árduo e sangue frio. Não podia permitir que uma pessoa, especialmente uma tão irreverente quanto Camila, colocasse isso em risco. Mas havia algo nela que... me desafiava. E eu odiava ser desafiado.
Meu celular vibrou novamente. Uma mensagem de Camila apareceu na tela, e ao ler as palavras, uma onda de tensão tomou conta de mim. "Estou indo para o seu escritório."
Ela sabia que algo estava acontecendo. Ela estava mais perto de descobrir do que eu queria admitir. E agora, não havia mais como voltar atrás.
Coloquei o celular de volta na mesa, minha respiração ficando mais densa à medida que o peso da situação se tornava mais claro. Eu sabia que essa conversa não seria fácil. Mas eu também sabia que ela não me deixaria em paz até que todas as respostas que procurava fossem dadas.
Respirei fundo e me sentei novamente. Esperando.
Ela vinha.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 40
Comments