Capítulo - 15

Anastácia

Enquanto caminho para casa, sinto o peso de tudo que aconteceu hoje. A chuva que começa a cair, ressoa como um sussurro, mas logo se intensifica, com gotas frias e pesadas escorrendo pelo meu rosto e se misturando com o que ainda resta das lágrimas que segurei até agora.

Um trovão ecoa no céu, fazendo o chão vibrar levemente sob meus pés. Eu aperto a alça da minha mochila contra o ombro, o tecido começando a encharcar.

— Ótimo! Eu também te amo, universo! — murmuro.

Mas mesmo o desconforto da chuva fria não supera a raiva fervente que sinto. É como se cada gota que me atinge ampliasse a lembrança do que aconteceu.

Paro no meio da calçada e grito, jogando minha frustração no vazio:

— Ahhhh! Eu te odeio, diretor Selman! TE ODEIO!

O eco das minhas palavras desaparece no barulho da chuva. A imagem dele quebrando meu celular ainda está gravada na minha mente, cada pedaço espalhado no chão parecia zombar de mim. Ele fez aquilo com uma facilidade assustadora, como se não fosse nada.

Respiro fundo, tentando controlar as lágrimas que teimam em voltar.

— Droga, como vou esconder isso da minha mãe? — murmuro baixinho.

Ela não pode saber. Já tem preocupações demais, e a última coisa que quero é que ela ache que eu ando me metendo em confusão. Finalmente, minha casa surge à vista, como um pequeno refúgio em meio à tempestade.

Corro, tentando escapar da chuva, mas não estava preparada para o que vejo quando chego ao portão. Parado ali, com um grande guarda-chuva preto, está Vini. Ele parece deslocado, quase cômico, com sua expressão de preocupação genuína.

— Anastácia? Tudo bem? — pergunta ele, andando em minha direção assim que me vê.

Eu franzo o cenho, surpresa, ignorando sua pergunta.

— O que faz aqui, Vini?

Ele dá de ombros, um pequeno sorriso surgindo, embora seus olhos ainda carreguem preocupação.

— Eu vim emprestar seu caderno para fazer a matéria de hoje. Claro, se não for problema para você.

Por um momento, penso em mandá-lo embora. Mas estou cansada demais para discutir ou inventar desculpas. Apenas suspiro e balanço a cabeça.

— Claro. Só vamos entrar. Preciso me trocar.

Ele assente, e eu rapidamente pego as chaves na mochila, destrancando a porta da casa.

— Fique à vontade, Vini. Eu já volto. — digo assim que entramos, subindo as escadas antes que ele possa responder.

Quando chego no meu quarto, fecho a porta e me encosto contra ela, finalmente soltando o peso do dia com um longo suspiro.

(...)

Após um banho rápido, visto uma roupa confortável: uma calça de moletom larga e uma camiseta folgada. Nem me dou ao trabalho de arrumar o cabelo, apenas passo a toalha de qualquer jeito antes de calçar os chinelos. Pego o caderno na mochila, que por sorte não molhou, e desço as escadas.

Se minha mãe estivesse aqui, com certeza diria algo como: "Anastácia, você está parecendo um homem com essa roupa!" A lembrança me faz soltar um leve sorriso, mas logo ele desaparece.

Chegando na sala, vejo Vini sentado no sofá, observando tudo ao redor. Ele parece deslocado, mas também curioso.

— Aqui está, Vini. Faça bom proveito. — digo, jogando-me no sofá ao lado dele e entregando o caderno.

— Obrigado. — Ele coloca o caderno cuidadosamente na mochila, mas não parece focado nisso. Seu olhar se volta para mim, cheio de preocupação. — Mas... tem algo te incomodando? Você parece abatida.

Suspiro profundamente, tentando decidir se devo contar a verdade. Fico intrigada sobre até que ponto posso confiar nele, mas minha vida já está toda bagunçada mesmo. Que diferença vai fazer?

— O diretor Selman quebrou meu celular. — Afirmo, olhando fixamente para ele.

Os olhos dele se arregalam, e por um momento ele parece perplexo, quase confuso.

— O quê? Como assim, Anastácia? O que aconteceu? Por que ele faria isso?

Dou de ombros e começo a explicar tudo. Desde as minhas primeiras desconfianças sobre o Selman, o que ouvi na conversa dele com aquele senhor no campo de futebol, até o momento em que ele destruiu meu celular sem o menor remorso. Seguro nada, conto tudo.

Quando termino, há um silêncio pesado entre nós. Vini parece processar a história, a expressão em seu rosto variando entre incredulidade e preocupação.

— Isso parece... muita loucura. — Ele finalmente quebra o silêncio. — Jamais imaginei o diretor agindo assim. Quer dizer, eu sei que houve essa tensão toda entre vocês dois, mas... Ele é um homem maduro. Ele devia saber lidar com isso.

Ele faz uma pausa, suspira profundamente e continua:

— Olha, eu entendo sua desconfiança em relação a ele, e admito que isso tudo soa bem suspeito, mas acho que você deveria dar um tempo nisso, Anastácia.

— Dar um tempo? — pergunto, franzindo o cenho.

Vini, assente, afirmando:

— Sim, é um saco, eu sei, mas ele tem muito poder. Ainda mais aqui, em Vale Sombrio. Ele é praticamente intocável, e isso é perigoso. Principalmente agora que ele sabe que você estava o vigiando. Você não tem ideia do tipo de coisa em que ele pode estar envolvido, e, pior, do que ele pode fazer para proteger isso.

Ele me encara com uma expressão séria, quase suplicante, ao prosseguir:

— Por favor, Anastácia, não se arrisque tanto. Ainda mais por aquele babaca do Selman. Ele não vale a pena.

Suas palavras ecoam na minha mente, mas a raiva ainda pulsa no meu peito. A ideia de deixar Selman escapar ileso de tudo isso me incomoda profundamente. Mesmo assim, algo na preocupação de Vini me faz hesitar. Talvez ele esteja certo. Ou talvez não.

Eu então solto um suspiro, tentando parecer mais tranquila, embora meu sangue ainda ferve só de pensar no que o Selman fez. Olho para Vini, que me observa com expectativa, quase como se torcesse para que eu realmente fosse ouvir o que ele disse.

— Tudo bem, Vini. — digo, finalmente. — Você pode ter razão. Vou dar um tempo.

Ele abre um leve sorriso de alívio, mas antes que ele possa comemorar, continuo:

— Mas isso não quer dizer que eu vou deixar aquele idiota de diretor sair ileso. Pode apostar que vou fazer da vida dele um inferno. Ele não perde por esperar.

Vini me encara por um momento, como se estivesse tentando decidir se eu estou brincando ou falando sério.

— Anastácia... — começa ele, mas eu o interrompo.

— Não adianta, Vini. Ele quebrou o meu celular! Humilhou-me e ainda age como se fosse o dono do mundo. Ele precisa aprender que nem tudo gira ao redor dele.

— Eu entendo. — diz ele, suspirando. — Mas só... toma cuidado, tá? Esse tipo de gente não costuma reagir bem quando é desafiada.

— Pode deixar. — Respondo com um sorriso que tenta ser tranquilizador, mas, por dentro, já começo a pensar em como transformar minha promessa em realidade.

O som da chuva lá fora diminui, mas a tempestade dentro de mim está longe de acabar.

Vini, percebendo que eu não vou mudar de ideia, tenta mudar de assunto:

— Certo... E sua mãe? Quando ela chega?

— Mais tarde. Ela ainda está no trabalho.

Ele assente, talvez aliviado por deixar o tema Selman de lado, e pega sua mochila.

— Bom, eu já vou. Qualquer coisa, me manda mensagem, ou... Ah, esqueci que seu celular foi para o espaço.

— Obrigada por lembrar, Vini. — Respondo com sarcasmo, mas dou uma risada fraca em seguida.

Ele se despede com um sorriso sem jeito, e eu o acompanho até a porta. Assim que ele sai, encosto-me à porta e deixo a mente viajar. Se o diretor pensa que essa história acabou, ele está muito enganado.

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Comments

Alessandra Almeida

Alessandra Almeida

Eita!! Pensei que ele fosse o vampiro capturado 🤷🏽‍♀️

2025-03-20

1

🦊Guminho🦊

🦊Guminho🦊

e tu à aprender que a vida dos outros não é da tua conta oxe

2025-04-03

0

Lourdes Morais

Lourdes Morais

eu acho que o Vini é um vampiro 🦇

2025-03-29

0

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