Anastácia
Dia seguinte...
Escapar das perguntas da minha mãe foi como caminhar por um campo minado, mas, para minha sorte, ela não mencionou o celular. Talvez o universo tenha decidido me dar um pequeno alívio — bem pequeno, considerando o resto. Agora aqui estou eu, caminhando apressada em direção à escola, o ar fresco da manhã ainda carregando os restos da chuva da noite passada.
Assim que chego ao portão, avisto Vini. Ele está parado com meu caderno em mãos, aparentemente aliviado por me ver.
— Bom dia, Anastácia! Aqui está seu caderno. Obrigado! — diz ele, com um tom de voz otimista.
Pego o caderno, guardando-o na mochila com um aceno de cabeça. Não perco tempo, afinal, tenho planos.
— Vini, vou precisar de sua ajuda hoje — solto, direta.
Ele franze a testa enquanto começamos a caminhar juntos para dentro da escola, desviando de alguns grupos de alunos que já se aglomeravam no corredor.
— Claro, mas ajuda com o quê, Anastácia? — pergunta, visivelmente desconfiado.
Eu lanço um sorriso enviesado para ele, aquele que sei que o deixa desconfortável e, ao mesmo tempo, curioso. Inclino-me levemente em sua direção, como quem vai compartilhar um segredo precioso.
— Aprontar uma com o diretor Selman — digo com uma calma quase teatral.
O efeito é imediato. Vini para no meio do corredor, os olhos arregalados enquanto ajeita nervosamente o cabelo que caiu sobre a testa.
— Ah, qual é, Anastácia? Você está mesmo falando sério? — sussurra, olhando em volta para garantir que ninguém ouviu.
— Claro que estou! — respondo, mantendo meu tom leve. Ergo a cabeça e olho para frente enquanto continuamos andando, ignorando os alunos que passam por nós. Depois viro para ele novamente, com um olhar desafiador. — Ele que me aguarde. Só preciso da oportunidade certa. Então, vai me ajudar ou não?
Ele solta um suspiro longo, hesitante, mas antes que possa responder, o sinal toca. A correria dos alunos enchendo o corredor nos obriga a apressar os passos.
— Ok! Eu te ajudo! — diz Vini, finalmente, elevando um pouco o tom para ser ouvido no meio do alvoroço. Ele me encara, ainda um pouco nervoso. — Mas só espero que isso não nos coloque em problemas.
Dou um sorriso satisfeito e bato levemente no ombro dele enquanto seguimos para a sala.
— Relaxa, Vini. Vai dar certo! No intervalo, procuramos a oportunidade perfeita.
Assim que entramos na sala, o burburinho dos colegas e o som abafado da voz do professor que já começava a organizar a aula preenchem o ambiente. Me sento no meu lugar com um sorrisinho travesso no rosto, já começando a montar mentalmente os próximos passos. Selman que se cuide.
(...)
Às aulas parecem ter voado, e agora eu e Vini estamos no refeitório, observando tudo com atenção. Meus olhos escaneiam o ambiente até que, finalmente, o vejo.
O diretor Selman caminha com aquela postura altiva de sempre, ao lado de seu irmão. Os dois parecem estar discutindo algo sério, mas Selman ainda encontra tempo para pegar um café no balcão da cantina. Depois, os dois se sentam em uma mesa mais afastada, longe do burburinho principal.
Dou um leve cutucão em Vini, que está distraído comendo seu lanche.
— É agora, Vini! Vem comigo — sussurro com entusiasmo.
Ele engasga ligeiramente com um pedaço de pão, mastiga rápido, e deixa o resto do lanche em sua bandeja enquanto me segue com uma expressão preocupada.
Paro no balcão da cantina, me inclino levemente para a moça do atendimento, e digo:
— Olá! Você poderia me dar um sachê de sal, por favor? E uma pipoca?
A funcionária não parece suspeitar de nada, sorri e me entrega os itens. Assim que tenho tudo em mãos, volto para Vini.
— É o seguinte, Vini — digo, entregando a pipoca para ele enquanto abro o sachê de sal discretamente. — Você vai fingir que está comendo essa pipoca, e aí nós vamos simular uma conversa animada. Sorrir, gargalhar alto, essas coisas. No meio disso, eu vou te dar um empurrãozinho “sem querer”, e você vai tropeçar, derrubando a pipoca toda perto deles. Entendeu?
Vini arqueia uma sobrancelha, claramente nervoso, perguntando:
— E o que você vai fazer enquanto isso?
Sorrio maliciosamente.
— Eu vou dar o toque final.
Ele esfrega a nuca, segura a pipoca com hesitação, e resmunga:
— Ok, Anastácia... mas isso é uma loucura. Só espero que a gente não acabe suspenso por isso.
— Relaxa, Vini! Confia! — respondo, já me encaminhando para a mesa deles, com ele a reboque.
Assim que estamos a poucos passos da mesa do diretor, começamos a falar mais alto, rindo exageradamente. Selman e seu irmão levantam o olhar para nós, aparentemente irritados com o barulho. É a deixa perfeita.
— Ah, não acredito que você disse isso! — exclamo, rindo alto, antes de dar um leve empurrão em Vini.
Ele tropeça teatralmente, esparramando a pipoca toda, principalmente, na mesa deles.
— Ai, meu Deus! Desculpem, professor e diretor! Vini é muito atrapalhado às vezes! — digo, me aproximando e me colocando estrategicamente entre eles.
Selman está visivelmente irritado, tirando algumas pipocas do seu terno. Seu irmão olha a cena, tentando não rir. É agora ou nunca. Com um movimento rápido e discreto, viro o sachê inteiro de sal no café do diretor.
— Vamos, Vini! — digo, puxando meu amigo, antes que qualquer um dos dois perceba.
— Desculpem mesmo! — diz Vini, meio sem jeito, enquanto nos afastamos rapidamente.
Quando estamos a uma distância segura, olho por cima do ombro, no exato momento em que Selman pega sua caneca de café. Nosso olhar se cruza, e eu não resisto: dou um tchauzinho descarado, acompanhando com um sorriso provocador.
Ele leva a caneca aos lábios e, um segundo depois, cospe tudo de volta. Sua voz ecoa pelo refeitório:
— Mas que inferno! Esse café está puro sal!
Me viro, tentando esconder minha risada, mas é tarde demais. Ouço sua voz grave e autoritária atrás de mim:
— Anastácia! Na minha sala, agora!
Congelo por dentro, mas mantenho a compostura. Ao meu lado, Vini sussurra, desesperado:
— Eu disse, Anastácia! Eu disse! Agora estamos fritos!
Engulo em seco e me viro lentamente. O diretor Selman está parado no meio do refeitório, quase soltando fumaça pelas narinas. Tento fazer a cara mais inocente possível e pergunto:
— Mas o que foi que eu fiz, diretor?
Ele nem se dá ao trabalho de responder. Apenas se vira, começando a caminhar em direção à saída, e ordena:
— Não me faça esperar, senhorita Miller!
Solto um suspiro pesado e começo a segui-lo. Vini dá um passo à frente para vir comigo, mas Selman interrompe sem nem olhar para trás:
— Você não, garoto! Você fica!
Vini me lança um olhar de pena, mas eu apenas assinto para ele, tentando transmitir confiança.
Enquanto atravesso o refeitório, sinto os olhares de todos os alunos sobre mim. Cochichos começam a reverberar pelo lugar, mas eu não me abalo. Endireito minha postura, ergo o queixo e sigo em frente, com um sorrisinho de canto nos lábios.
"O diretor Selman acha que vai me intimidar? Ele pode até tentar, mas eu não vou me render tão fácil", penso, enquanto me preparo mentalmente para o que vem a seguir.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 63
Comments
Maria Isabel Souza
eu pensei que ela fosse furar os 4 pneus do carro dele 😂
2025-03-20
1
Hilma Franco Sanch
menina travessa agora vc foi longe demais aguentar o que vem por aí ele está furioso,,,,
2025-02-16
0
Jamilly Santos
aaa não infantilidade não ninguém merece, não estragar por favor
2025-03-07
0