Frederick
O burburinho ao nosso redor é ensurdecedor, como sempre acontece quando eu e Pablo passamos por aqui. Adolescentes rindo, cochichando, fazendo aquele típico alvoroço que me irrita mais do que eu gostaria de admitir.
Mas agora, meus olhos encontram ela. Anastácia está sentada numa mesa mais afastada, ao lado de um garoto magricela que está sempre vagando sozinho por aí. Algo no meu peito se aperta, como um nó subindo pela garganta. Ela percebe meu olhar e, de imediato, desvia.
— O que foi, Fred? Parece que viu um fantasma, — Pablo comenta, a diversão clara em sua voz enquanto me observa.
Bufo, irritado, tentando desviar a atenção dele.
— Não é nada. Apenas esses adolescentes que me irritam mais do que deveriam.
Mas Pablo, sendo quem é, não deixa passar. Seus olhos percorrem o refeitório até pousarem nela. Ele sorri de canto, aquele sorriso que conheço bem: metade zombaria, metade curiosidade.
— Ah, é aquela ali, não é? A aluna nova. Agora entendi o que está te irritando. Ela é bonitinha, vou admitir, mas tem algo estranho nela. Não acha? Uma vibe meio nebulosa. Todos esses adolescentes aqui são tão fáceis de ler, mas ela... Ela não. Tem certeza que essa garota é humana?
Puxo o ar com força, tentando controlar a raiva que começa a borbulhar. A última coisa que quero é alimentar a imaginação fértil de Pablo.
— Não notei nada de sobrenatural nela. A mãe dela me enviou a ficha dias atrás. Tudo parece em ordem. Ela é só uma adolescente solitária, talvez com essa vibe de 'odeio todo mundo'.
Pablo solta uma risada baixa, claramente se divertindo às minhas custas.
— Odeia? Será mesmo? Porque ela não parece odiar aquele garoto. Talvez odeie você, mas não ele.
Suas palavras me atingem como um tapa. Sorrio amargamente, tentando esconder o desconforto que cresce dentro de mim.
— Não me provoque, Pablo. Você não faz ideia do quanto já estou me segurando.
Ele levanta as mãos em um gesto teatral de rendição, mas seu sorriso não desaparece.
— Relaxa, Fred. Mas me diz uma coisa... Seu lobo não despertou por causa dela, não é? — Ele se inclina levemente para mim, com o tom de quem sabe que está cutucando uma ferida. — Se isso aconteceu, meu caro, essa aluna nova te fudeu direitinho.
As palavras dele ecoam na minha mente, atingindo um nervo sensível. Minha mandíbula se aperta, e meu olhar retorna para Anastácia. Ela está rindo de algo que o garoto disse, um sorriso que parece tão fora de lugar em seu rosto quase sempre fechado.
Meu lobo, inquieto desde o momento em que a vi, ruge silenciosamente dentro de mim. Ele quer. Mas eu... eu não posso deixar isso acontecer. Não com ela. Não agora.
— Cala a boca, Pablo. — Minha voz sai baixa, quase um rosnado.
Pablo apenas ri, mas eu já não estou mais ouvindo. Meu olhar permanece fixo em Anastácia, enquanto uma única certeza toma conta de mim: seja lá o que for isso, não vai acabar bem. Para nenhum de nós.
Anastácia se levanta da mesa com uma expressão que mistura tédio e irritação, pegando sua bandeja e largando-a no balcão sem muita cerimônia. Em seguida, ela caminha em direção ao corredor que leva aos banheiros.
Algo em mim acende como uma chama que não consigo apagar. Me pego observando seus passos, o modo como ela anda, indiferente aos olhares dos alunos ao redor. Meu peito se aperta com a urgência de entender o que essa garota tem que me afeta tanto.
Viro para Pablo, que mastiga calmamente seu lanche, ainda me lançando seu olhar debochado, e digo:
— Estou indo para minha sala. Não me perturbe.
Falo seco, sem dar tempo para ele responder. Saio do refeitório em passos rápidos, com um propósito que nem eu compreendo completamente. Meus pés parecem agir por conta própria, seguindo Anastácia.
Eu a vejo andando à frente, sua silhueta destacando-se no corredor mal iluminado. Tento manter a distância e disfarçar, fingindo que não estou a seguindo, mas cada vez que ela vira um corredor, sinto uma necessidade irracional de me manter próximo.
Então, subitamente, ela para e se vira bruscamente.
— Está me seguindo, diretor?
Seus olhos estão fixos nos meus, desafiadores e inquisitivos. Há um brilho neles que me desestabiliza, uma mistura de raiva e curiosidade que me faz sentir como se estivesse sendo desmontado.
Minha mente trava por um segundo. Não foi a pergunta em si que me desarmou, mas o tom em sua voz. Ela não está apenas irritada. Está tentando entender algo, assim como eu.
Respiro fundo, recompondo-me antes de responder.
— Seguindo você? Não seja tão convencida, senhorita Miller. Estou apenas garantindo que os alunos respeitem as regras.
Ela ergue uma sobrancelha, claramente não comprando minha desculpa.
— Ah, claro. Porque é super normal o diretor seguir uma aluna pelos corredores em nome das regras.
Seu tom sarcástico me irrita, mas ao mesmo tempo me atrai. Ela tem coragem, isso é inegável. Dou um passo à frente, mantendo a expressão impassível, ao dizer:
— Pode pensar o que quiser, mas sugiro que vá para onde estava indo, antes que eu realmente encontre um motivo para repreendê-la.
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Atualizado até capítulo 63
Comments
Alessandra Almeida
O irmão está tentando descobrir se o Fred está interessado na Anastácia.
2025-03-20
2
Lourdes Morais
sera que ela é companheira dele, mas tá muito nova
2025-03-28
0
Jamilly Santos
não não seguindo não indo atrás de você 🤭🤭
2025-03-07
0