Capítulo - 7

Anastácia

Aceitar o convite de Vini para tomar um sorvete pareceu uma boa ideia para conhecer melhor essa cidade e tudo que há nela. Mas, como sempre, parece que o universo adora brincar com a minha paciência.

De um lado, tenho um nerd insistente que não entende o conceito de "deixa eu ficar sozinha", e do outro, um diretor problemático que, sinceramente, parece que quer me esfolar viva.

E, falando nele, não consigo acreditar no que vejo. Frederick Selman, o próprio diretor metido a gostosão, acaba de estacionar seu carro e agora entra na sorveteria, caminhando com passos lentos e cheios de superioridade.

Seus olhos encontram os meus quase imediatamente, e por um instante parece que todo o ar da sorveteria se condensou em volta de nós dois. Mas se ele acha que pode me intimidar com esse olhar, está muito enganado.

Com o maior descaramento do mundo, eu chupo meu sorvete de forma bem sugestiva, quase desafiando-o. Se ele quer brincar, então vamos jogar.

— Anastácia? — Vini me chama, me trazendo de volta.

— O quê? — Respondo, ainda encarando Frederick de soslaio.

Vini se inclina para frente, e antes que eu possa afastá-lo, ele toca suavemente meu rosto, limpando algo no meu queixo.

— Estava sujo aqui. — Diz com um sorriso tímido.

E é então que um som ecoa pela sorveteria: PLOFT!

Eu e Vini nos viramos na mesma hora e vemos a cena mais inesperada do dia, talvez do ano. Frederick Selman, o imponente diretor, acabou de bater a testa na porta de vidro enquanto entrava.

Minha boca se abre de espanto por um segundo, mas logo não consigo me segurar. Uma gargalhada alta e descontrolada escapa de mim, chamando a atenção de algumas pessoas ao redor.

Frederick para, esfregando a testa com uma expressão mortal. Ele olha direto para mim, como se quisesse me matar aqui mesmo.

— Será que formou um galo? — Pergunto entre risos, me virando para Vini.

— Galo? Como assim? — Ele pergunta, chupando o sorvete, confuso.

Reviro os olhos, ainda rindo.

— O diretor, Vini. Deve ter formado um galo na testa dele depois dessa batida. Bem feito! Quem manda não olhar por onde anda?

Vini solta um riso abafado e concorda:

— Ah, é... pode ser. Mas você viu o jeito que ele nos encarou antes? Parecia que queria nos fuzilar com o olhar.

Assinto, concordando.

— Verdade. Mas olha lá o outro na moto. Não para de olhar para nós também. Esses irmãos Selman são muito esquisitos.

Enquanto digo isso, olho de volta para Frederick. Ele ainda está parado, esfregando a testa, mas agora seu olhar parece ainda mais intenso, quase como se estivesse lendo cada pedaço da minha alma.

Sério, essa cidade está ficando cada vez mais estranha...

Nisso sinto meu celular vibrar no bolso da calça. Puxo-o rapidamente e vejo o nome da minha mãe no visor.

MÃE: Filha, chegarei um pouco mais tarde hoje. O jantar pode ser por sua conta? Bjs.

Reviro os olhos, soltando um pequeno suspiro, mas respondo rapidamente.

ANASTÁCIA: Ok mãe! Tchau!

Guardo o celular de volta no bolso, e ao levantar o olhar, percebo que Vini me observa, curioso.

— Está tudo bem? — Ele pergunta, com uma pitada de preocupação.

— Sim, tudo. Só preciso voltar para casa. Minha mãe pediu para eu cuidar do jantar hoje. — Respondo, já me levantando.

Vini sorri e se levanta também.

— Claro. Eu te acompanho até sua casa.

— Não precisa...

— Eu insisto. É perigoso andar sozinha por aí.

Lanço um olhar desconfiado para ele, mas acabo concordando com um aceno breve. Saímos da sorveteria, e enquanto caminhamos pela calçada, não consigo evitar uma última olhada para trás. A figura imponente do diretor Frederick já não está mais lá na porta, mas, ao me virar novamente, dou de cara com outra presença intimidadora.

Pablo Selman está parado próximo à sua moto, me observando com uma expressão indecifrável. Seus olhos têm algo de inquietante, como se pudessem enxergar mais do que deveriam.

Vini, educado, cumprimenta:

— Olá, professor.

Pablo não responde com palavras. Apenas assente levemente com a cabeça, mas mantém os olhos fixos em mim por mais alguns segundos.

Meu coração acelera, mas não de medo, e sim por algo que não consigo nomear. Ignorando a sensação, desvio o olhar e aperto o passo, puxando Vini comigo.

Esses Selman... definitivamente há algo muito errado com essa família. Mas eu vou descobrir o que é. Ah, se vou!

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***