Quem Sou Eu
Em uma manhã resplandecente, o sol derramava seu ouro sobre o bosque, iluminando cada recanto com uma ternura quase divina. Os raios de luz, filtrados pelas folhas dançantes das árvores, projetavam mosaicos efêmeros sobre a estrada de terra, que serpenteava como um poema esquecido. Uma carroça singela, conduzida por um cavalo de passos cadenciados, deslizava serenamente pelo caminho, carregando consigo a quietude e o encanto daquela jornada tranquila.
No interior de uma carroça modesta, um jovem de porte singelo repousava, embalado pelo ritmo suave das rodas que tocavam a terra. Seus cabelos castanho-claros reluziam à luz tênue que penetrava pelas frestas. De súbito, seus olhos se abriram, carregando o brilho de um despertar inesperado. O olhar, agora inquieto, vagou por cada canto daquele espaço rústico, enquanto sua mente mergulhava em um mar de dúvidas, buscando em vão as memórias que o haviam conduzido até ali.
— Ei, rapaz! — a voz grave do homem soou, rompendo o silêncio como o eco de um trovão distante. O jovem, perdido em seus próprios pensamentos, ergueu os olhos com uma expressão de leve perplexidade. O homem, com um sorriso discreto, apontou o caminho à frente e prosseguiu: — É o fim da linha. Pode descer da minha carroça agora, o resto do caminho é seu.
E então, o jovem, com os olhos brilhando de curiosidade, desceu da carroça com passos hesitantes. Diante dele, erguia-se o majestoso Reino da Lua, um esplendor de torres e luzes sob o céu pálido. Sua mente era um turbilhão de perguntas enquanto seu olhar vagava pelo horizonte, mas ele voltou-se para o condutor da carroça, o peso de um mistério pulsando em seu peito, ainda sem palavras.
— Senhor... como vim parar neste lugar? — perguntou o garoto, com a voz tremendo como uma Folha ao vento. Os seus olhos, confusos e inquietos, buscavam respostas no homem à sua frente, cuja presença parecia tão imponente quanto as montanhas que abraçavam o horizonte.
— Quem sou eu para saber? — murmurou o homem, a voz carregada de desdém, enquanto seu olhar permanecia distante, alheio ao garoto diante dele. O desprezo em sua postura era um espinho cravado na curiosidade inquieta do jovem, que fitava o vazio em busca de um sentido. As dúvidas dançavam em sua mente como sombras, perguntando sem voz, implorando por respostas que pareciam se dissolver no silêncio cortante daquele instante.
O rapaz ergueu a mão num aceno breve, os seus olhos refletindo o brilho suave do horizonte. À sua frente, o Reino da Lua se revelava, envolto em um véu de mistério e encanto, como se o próprio céu o tivesse pintado em tons de sonho. Com o coração preenchido por uma determinação silenciosa, ele deu os primeiros passos rumo àquele destino mágico. Contudo, antes que pudesse seguir, uma voz o deteve. O homem da carroça chamou por ele, e o jovem, como quem desperta de um devaneio, virou-se para encará-lo.
E, com a destreza de um trovão rasgando os céus, os seus dedos tocaram a lâmina arremessada. Num só gesto, ele Tomou-a para si, firmando-a entre os seus braços como quem segura o próprio destino.
— Não se esqueça de suas coisas, garoto, ou posso acabar vendendo — advertiu o homem da carroça, sua voz carregada pelo vento como um eco distante. Sem olhar para trás, ele girou as rédeas, conduzindo a velha carroça em direção ao horizonte oposto ao Reino da Lua.
O jovem permaneceu imóvel no meio da estrada poeirenta, os seus olhos fixos na silhueta que se afastava, dissolvendo-se lentamente no véu dourado do crepúsculo. O som das rodas desapareceu, engolido pelo silêncio da vastidão, enquanto o mundo parecia suspirar ao seu redor. O vazio da estrada tornou-se um espelho dos seus pensamentos, até que a última sombra da carroça perdeu-se no infinito.
Sob o céu prateado que cintilava como seda, ele seguiu em direção ao místico Reino da Lua. Ao atravessar o grande portão ornamentado, um mundo pulsante se revelou diante de seus olhos. Humanos e semi-humanos moviam-se como uma sinfonia viva, trocando mercadorias e sorrisos, enquanto as lojas, adornadas com lanternas luminescentes, exibiam seus tesouros como estrelas caídas.
O garoto parou por um instante, observando o vai e vem apressado de pessoas que pareciam não notar a dança do vento entre as folhas caídas. “É um lugar cheio de vida”, pensou, enquanto seus olhos captavam o ritmo da cidade. Em meio ao turbilhão, seus passos o conduziram a algo que brilhou em sua visão: uma biblioteca, discreta, mas encantadora. Um chamado silencioso pareceu ecoar de suas portas, e, como um rio que corre para o mar, ele se deixou levar para dentro.
Dentro da biblioteca, suas mãos deslizaram pelas prateleiras repletas de livros cujas palavras lhe eram alheias, como se o próprio vento sussurrasse segredos antigos em línguas esquecidas. Os visitantes, absortos em suas leituras, pareciam ser parte daquele universo intemporal, como se o ato de ler fosse uma oração, algo que transcendia o comum.
Um suspiro leve escapou de seus lábios, um som tênue de resignação, e ele se afastou, sentindo o peso de um mundo que ainda não compreendia. Ao sair da quietude do refúgio literário, seu olhar encontrou a cena que cortava a paz: dois homens arrastando uma mulher, suas sombras se alongando em direção a um beco sombrio. O ar se fez denso, e ele engoliu em seco, a decisão brotando de dentro de seu ser como uma força silenciosa. Sem hesitar, ele seguiu em frente, o destino incerto, mas inevitável.
Na penumbra daquele beco silencioso, duas figuras imponentes se erguiam como sombras sobre uma mulher, ameaçando-lhe a dignidade. Mas então, uma voz jovem, cheia de fervor, cortou o ar, ecoando como um grito de justiça. "Parem!" O som ressoou, cheio de coragem, e os homens, momentaneamente atônitos, viraram-se. Ao verem apenas um garoto, um suspiro escapou-lhes, uma exalação de alívio que parecia carregar consigo um medo dissipado e uma vitória antecipada.
O vento sussurrava entre as ruas vazias, carregando consigo o eco de um confronto iminente. O homem de cabelos ruivos, com sua postura firme e olhos penetrantes, falou com voz grave, quase como se o destino do jovem já estivesse selado.
— É melhor você seguir seu caminho, garoto, e esquecer o que viu — disse ele, sua voz carregada de um peso que se fazia sentir no ar.
Ao lado dele, o homem de cabelos loiros e olhos verdes, com um olhar que parecia vasculhar o mais íntimo dos seres, fixou-se no jovem. Uma memória distante começou a se acender dentro dele, e, com um tom suave, mas carregado de significado, ele falou.
— Mark, esse garoto… ele me parece familiar.
O ruivo, Mark, virou-se lentamente, a expressão sombria, mas agora com uma sombra de algo como divertimento.
— Sim, é ele. Nirai, o aventureiro arrogante. Não há como negar — disse Mark, seu sorriso como uma lâmina que se afia no silêncio.
O nome ecoou na mente do jovem como uma lembrança perdida, um fio tênue que se esvai à medida que tenta se agarrar a ele.
— Nirai… — sussurrou ele, o som do nome atravessando sua mente como uma onda que afasta a areia, mas que deixa as marcas. Confuso, ele deu um passo à frente, como se aquele simples movimento pudesse fazer sentido do caos em sua mente. — Esse é o meu nome?
Mark riu, uma risada que carregava ares de desdém e algo mais. Ele olhou para Neo, o homem de olhos verdes, e fez um gesto quase desprezível.
— Sério? Esqueceu até quem é? — Mark provocou, seu tom uma mistura de diversão e desprezo.
Neo, por sua vez, apenas assentiu com a cabeça, como se aquela cena fosse apenas uma peça de teatro que se repetia no cenário sombrio da cidade.
Mark se voltou novamente para o jovem, a fúria brotando em seus punhos, que estalavam no silêncio como trovões que antecedem a tempestade.
— Bem, não importa. Sempre quis te dar uma lição, caso você aparecesse — disse ele, os olhos ardendo com uma promessa de violência.
Nesse instante, a mulher que estava à mercê da brutalidade deles, vendo a chance que surgia nas palavras de Mark, usou a distração a seu favor. Com um movimento ágil, ela escapou das garras da opressão e se afastou, desaparecendo na neblina do amanhã.
Nirai viu Mark se aproximar, como uma tempestade prestes a desabar. Sem pensar, o soco de Mark atingiu seu peito com força brutal, lançando-o para fora do beco. Ele se chocou contra uma barraca, que cedeu sob o impacto. O som de gritos e insultos do vendedor se misturou ao seu gemido de dor, e, ao tocar seus lábios, Nirai percebeu o sangue que escorria, quente e salgado.
Com a vista embaçada, ele ergueu os olhos, buscando o céu, e viu Mark, como um vulto em queda livre, pronto para mais um golpe. Em um impulso de defesa, Nirai ergueu sua espada, como se o ferro fosse a única barreira entre ele e o fim. Mas, antes que o aço encontrasse o alvo, o sangue de Mark manchou a lâmina, tingindo-a com a cor da luta, num silêncio carregado de consequências.
Mark, com os olhos perdidos na angústia, murmurou, quase num suspiro:
— Seu... maldito arrogante...
Sua voz se apagou, e o silêncio tomou conta. A morte o alcançou sem aviso. Nirai, parado, olhava sem entender, lágrimas que não podiam ser contidas deslizavam por seu rosto, como se a dor o atravessasse.
— Não... não foi minha culpa... eu só queria me defender... — suas palavras eram fragmentos de um grito mudo, um balbuciar de desesperança. Ele empurrou o corpo de Mark, com mãos trêmulas, e se a Fastou, a espada ainda manchada pelo erro de um instinto de sobrevivência.
Ao redor, o mundo continuava a girar, mas ali, naquele instante, tudo parecia paralisado. Os comerciantes observavam, imersos em um silêncio de choque, impotentes diante da tragédia que acabara de se desenrolar.
Neo se aproximou do corpo inerte de Mark, seus olhos fixos no parceiro que um dia dividira seus passos. Um suspiro suave escapou de seus lábios, e, com um movimento lento, ele deu um chute, como se dissesse adeus.
— Você foi um bom parceiro, Mark. Mas a violência, que tanto amou, te trouxe até aqui — murmurou Neo, passando a mão pelos cabelos com uma expressão de melancolia, antes de virar as costas e desaparecer na quietude da manhã.
Cansado, nirai parou perto de um poço, o peso da corrida ainda em seus ossos. Sentou-se ali, o vento leve balançando os fios de seu cabelo, mas suas memórias eram pesadas, como pedras dentro de sua mente. A morte de Mark ecoava, vívida e cruel. O vazio ao seu redor parecia engolir tudo, e ele se sentia pequeno, perdido, embora ainda soubesse o som do seu próprio nome.
Mas o silêncio foi quebrado. Passos se aproximaram, leves, mas implacáveis. O medo o envolveu como uma sombra, o temor de encontrar o parceiro de Mark. Seus olhos, antes fixos no vazio, se ergueram lentamente, ansiosos. Mas o que encontrou não foi um inimigo. Era uma garota, com cabelos curtos como um campo em meio ao vento, e olhos azuis como o céu antes da tempestade. Sua roupa parecia quase etérea, sugerindo mais do que mostrando, e ela emanava uma energia que ele não conseguia compreender, mas que o deixava intrigado, como um mistério à sua frente.
A garota misteriosa olhou para Nirai com um sorriso sutil, como se tivesse presenciado algo extraordinário.
— Impressionante, você derrotou o Mark, o amante da violência — disse ela, com uma leveza que contrastava com o peso das palavras. Nirai, tocado, abaixou a cabeça, absorvendo o significado daquele elogio. O silêncio se estendeu entre eles, e Kaela, com um suspiro suave, parecia refletir sobre a reação dele, mas antes que pudesse continuar, Nirai se adiantou.
— Quem é você? E o que faz aqui? — sua voz, tensa e curiosa, parecia buscar respostas em meio ao mistério que a envolvia.
Kaela inclinou a cabeça, como se ponderasse a resposta, e, com um olhar sereno, falou com um toque de provocação:
— Desculpe pela ausência de apresentações. Sou Kaela. E o motivo da minha presença aqui... tenho um interesse especial em você, Nirai.
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Atualizado até capítulo 25
Comments
Frag
gostei muito desse cap 🥺espero que tenha mais do q 7 cap
2025-01-12
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