Naquele instante, Kaela fitava Nirai com olhos atentos. Soltou um suspiro suave e avisou à princesa que a conversa precisaria esperar. Rebecca acenou em concordância. Ao notar a delicada resposta, Kaela agarrou o braço de Nirai e o conduziu por um caminho distinto do que seguiam com a princesa.
— O que fazes, Kaela? Não era para desvendarmos os segredos do poder da Nataria e compreender sua essência? — perguntou Nirai, confuso. Kaela o olhou com ternura e explicou que já haviam combinado um momento só para os dois.
Fora do castelo, em um jardim banhado pelo sol, Kaela e Nirai encontravam um refúgio dourado. A luz aquecia o ambiente, mas o verdadeiro calor estava prestes a surgir na conversa que os unia.
— Conte-me, Nirai, o que se esconde em seu coração? — perguntou Kaela, já sentindo o peso de seus sentimentos e desejando desvendá-los. Nirai, por sua vez, desviou o olhar, perdido na imensidão de seu próprio ser.
— Por que questionas assim, Kaela? — Nirai indagou, confuso.
Kaela ergueu os olhos para o céu de um azul tranquilo, procurando as palavras que flutuavam em seu coração, antes de retornar o olhar para Nirai, pronta para se revelar.
— É simples, Nirai: preocupo-me contigo, e o meu afeto é profundo. Ver-te assim me entristece. Conheço cada batalha que enfrentamos, e é por isso que estou aqui, para ouvir o que pesa em teu coração — explicou Kaela.
Ao escutar aquelas palavras, Nirai sentiu uma emoção estranha, porém reconfortante, como a brisa suave que acaricia a alma.
— Entendo... Na verdade, você sabe que desde que cheguei ao Reino da Lua, meu passado se perdeu em sombras. Para me proteger, acabei por tirar uma vida, e o desespero se abateu sobre mim — revelou ele, com um olhar triste e carregado de arrependimento. Kaela, que sempre esteve ao seu lado, conhecia bem essa dor.
— Eu entendo, sei muito bem — respondeu Kaela, enquanto os olhos de Nirai se enchiam de lágrimas. Um simples aceno foi tudo o que ele conseguiu oferecer. Ela compreendia a angústia de ter ceifado uma vida, mesmo que involuntariamente.
— Mas a luta contra Satella foi diferente. Eu a matei de propósito, para garantir nossa sobrevivência. Contudo, naquele instante, senti-me sujo, rebaixado ao mesmo nível dela. Perdi minhas memórias, perdi minha identidade. Quem sou eu? O que sou eu? Anseio desvendar a verdade sobre mim para poder trilhar um novo caminho — desabafou Nirai.
Antes que pudesse continuar, Kaela o envolveu num abraço terno. Ele se entregou àquele carinho, enquanto lágrimas silenciosas escorriam por seu rosto.
— Eu entendo, sinto o que você sente. Estou aqui com você — murmurou Kaela, em um silêncio que acalentava a alma.
— Kaela, preciso saber: você realmente me ama, como disse? Viveste com meu eu do passado e agora me pergunto: quem preferes, este que sou hoje ou aquele que já fui? — indagou Nirai, surpreendendo-a.
Com um olhar terno, Kaela respondeu: — Nirai, permita-me confessar algo. Você continua sendo a mesma pessoa que conheci, mas, naquele tempo, sua confiança era tão intensa que o chamavam de “o aventureiro arrogante”. No entanto, foi justamente essa força, essa gentileza e autoconfiança, que me fizeram apaixonar por você.
Nirai arregalou os olhos, sentindo um turbilhão de emoções, e sorriu, lembrando que, mesmo em sua vida antiga, seu coração sempre foi bom.
Mas será que é verdade? Ou será que, aos olhos de Kaela, o Nirai do passado brilhou como um ser perfeito, uma imagem idealizada? Estaria ela iludindo a si mesma e a ele?
Enquanto os minutos se desfaziam, Nirai e Kaela caminhavam de volta ao interior do castelo, em direção à princesa Rebecca. Porém, ao atravessarem um longo corredor, um estrondo repentino os interrompeu.
Atraídos pelo som, correram até onde a explosão se fez ouvir e se depararam com uma porta entreaberta, de onde jorrava uma nuvem de fumaça negra. Com determinação, Kaela a abriu, revelando um laboratório.
Surpresos, Nirai e Kaela ficaram maravilhados com a tecnologia avançada, algo tão distante de tudo que conheciam. No centro da sala, uma jovem, visivelmente frustrada, chamou sua atenção.
— Maldição! Por que tudo sempre se desmancha? — exclamou ela, de estatura pequena e semblante de uma jovem comum.
— Eu avisei que o destino se fecharia assim, mas você nunca me ouve — retrucou seu assistente, mantendo uma distância cautelosa, já acostumado com o poder inesperado de suas invenções.
— Não venha com isso, Jack! Estava tão perto, tão próxima de alcançar meu objetivo! — disse a jovem, com os olhos brilhando de entusiasmo e a determinação de seguir em frente com suas experiências.
— Clara, me responde uma coisa. Como você consegue ter essas ideias? Suas invenções são tão além de nosso povo. Nem o rei acredita no que você chama de "tecnologia" — comentou Jack, enquanto se aproximava dela.
— Hum, não sei. As ideias simplesmente brotam em minha mente. Tudo o que criei até agora são esboços, protótipos. Mas prometo mostrar a todos que minhas invenções serão a revolução, o futuro da nossa nação — assegurou Clara, sentada num banco próximo a uma mesa que guardava uma máquina singular, aos olhos atentos de Nirai e Kaela.
Clara desviou o olhar e avistou Nirai e Kaela. A curiosidade a dominou, e ela não pôde deixar de perguntar como eles haviam conseguido entrar naquele lugar, afinal, a sala era vedada tanto para os comuns quanto para os de alta classe.
— Desculpe-nos, ouvimos um barulho e viemos ver o que aconteceu. A porta estava aberta, então entramos para garantir que tudo estava bem — explicou Kaela com tranquilidade.
Clara refletiu por um instante, levando a mão ao queixo, antes de lançar um olhar afiado para Jack.
— Oh, Jack! Por que, diabos, você não verificou se a porta estava trancada? — exclamou, sua frustração evidente.
Jack, num gesto defensivo, respondeu prontamente:
— Eu? Não tenho nada a ver com isso! Foram suas invenções que chamaram a atenção deles. E, aliás, você sequer colocou um aviso dizendo "entrada proibida" na porta.
Clara ficou em silêncio por um momento, percebendo que, desta vez, ele tinha razão.
— Argh! Isso me enfurece! Dá vontade de te usar como cobaia agora mesmo! Como ousa me responder desse jeito? Sou de uma classe acima da sua! — reclamou Clara, gesticulando de forma quase infantil, como uma chama prestes a explodir.
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Atualizado até capítulo 25
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