Destino Cruzado

Mais tarde, na quietude de uma noite fria, Nirai caminhava com passos pesados, carregando Kaela em suas costas. O cansaço o consumia, e o sangue que cobria seu corpo contava histórias de batalhas recentes. À frente deles, erguia-se o majestoso Reino da Lua, iluminado por um brilho pálido e misterioso. Nirai sabia que seu estado poderia levantar suspeitas nos guardas, mas seguiu em frente, determinado, com o peso da responsabilidade e da esperança sobre os ombros.

Ao se aproximar do portão do reino, Nirai percebeu que os guardas estavam mergulhados em um sono profundo, alheios ao mundo ao redor. Sem hesitar, ele enxergou a brecha e atravessou o portão em silêncio. Kaela, em suas costas, observava tudo atentamente. Com um leve balançar de cabeça, ela demonstrou seu desapontamento, desaprovando a negligência dos guardas que deveriam proteger o reino.

— Então, Kaela, para onde devemos ir? — perguntou Nirai, a voz carregada de cansaço e incerteza.

Kaela permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos vagando pelas ruas desconhecidas. Sentia-se perdida, como uma folha ao vento. Haviam alcançado o reino, mas e agora? Sem dinheiro, sem planos, tudo parecia um labirinto sem saída. Seus pensamentos se embaralhavam, enquanto a realidade da situação pesava ainda mais sobre seus ombros.

— Eu não sei — respondeu Kaela, com a voz baixa e cheia de incerteza.

No mesmo instante, ambos suspiraram, como se aquele som carregasse toda a frustração que compartilhavam. Sem direção ou plano, Nirai continuou a caminhar, carregando Kaela nas costas. Seus passos ecoavam pelas ruas silenciosas do Reino da Lua, enquanto a luz pálida iluminava as sombras de dois viajantes em busca de algo que ainda não sabiam nomear.

As lamparinas, com sua luz trêmula, dissipavam as sombras que dançavam pelas ruas silenciosas. Enquanto caminhavam, passavam por casas onde o silêncio da noite era interrompido apenas pelo som distante de respirações tranquilas de quem dormia.

Um minuto se passou até que chegaram a uma esquina. Ali, Nirai parou. Com cuidado, colocou Kaela no chão, como se temesse quebrar algo precioso, e sentou-se ao lado dela. O silêncio entre eles parecia profundo, mas não vazio — era um espaço compartilhado de cansaço, esperança e incertezas.

— Parece que vamos ter que passar a noite na rua hoje — disse Kaela, sua voz resignada, enquanto seus olhos buscavam algum consolo no céu estrelado.

Nirai apenas balançou a cabeça em concordância, aceitando a dura realidade. No entanto, antes que o silêncio pudesse envolvê-los novamente, o som de rodas contra o chão interrompeu a quietude.

Uma carruagem elegante, iluminada por lanternas, parou diante deles, como se o destino tivesse decidido intervir naquele momento.

— Parece que vocês não têm onde ficar — disse uma voz feminina, suave, vinda da janela da carruagem. Seus olhos pousaram em Nirai.

Seu olhar captou as roupas dele, sujas de sangue seco, e a expressão de cansaço que ele mal disfarçava. Então seus olhos pousaram em Kaela, que parecia exausta, seu corpo frágil revelando a falta de mana para sequer se mover sozinha.

— E quem garante que você é confiável? — rebateu Kaela, a desconfiança evidente em sua voz.

— Não importa, eu ajudo quem precisa, mesmo que desconfie de mim — disse a mulher com uma firmeza que cortava o ar. Kaela permaneceu em silêncio, seus pensamentos ocultos como sombras na penumbra.

Nirai, ao seu lado, também nada disse. O peso de sua desconfiança era palpável; ele havia perdido a fé nas pessoas ao seu redor. A única chama de confiança que ainda ardia em seu coração estava em Kaela, e somente nela.

— É melhor vocês confiarem nela, pois ela é a filha do rei deste reino — disse o homem de meia-idade, enquanto conduzia a carruagem.

Kaela olhou para a mulher, surpresa, seu coração batendo mais rápido com a revelação.

— O quê? Princesa! — exclamou Kaela, sua incredulidade refletida em seu rosto.

Nirai, porém, permaneceu calado, seus olhos observando a cena com distância. A mulher, por sua vez, o fitava com intensidade, seu olhar carregando algo estranho e instigante, como se escondesse um segredo ainda não revelado.

Kaela ficou em silêncio por alguns segundos, os pensamentos vagando enquanto observava Nirai. Seu coração apertava ao pensar em colocá-lo em perigo, mas sabia que a mesma preocupação se aplicava a si mesma. Com um suspiro profundo, ela se entregou à decisão, aceitando a ajuda oferecida, como quem entrega sua confiança ao vento, sem mais resistência.

— Tudo bem, nós aceitamos a sua ajuda — disse Kaela, e a princesa respondeu com um pequeno sorriso de satisfação, como se tivesse cumprido algo bom naquela noite. No entanto, Nirai segurou o braço de Kaela com firmeza, mas de maneira gentil.

— Você tem certeza disso, Kaela? — perguntou ele, com um tom tão baixo que apenas ela pôde ouvir. Ela o encarou, acenando com a cabeça para confirmar sua decisão. Mas, por dentro, a preocupação ainda a dominava. Se algo desse errado, ela sentiria que a responsabilidade cairia sobre seus ombros, pesado como uma pedra no coração.

Com a ajuda de Nirai, Kaela entrou na carruagem da princesa, e juntos partiram em direção ao palácio real. A estrada se estendia à frente, mas enquanto a carruagem se afastava, uma figura silenciosa observava de longe. Era Neo, seus olhos fixos na partida, como se soubesse que algo importante estava em movimento, mas ainda assim permanecia à sombra, distante e vigilante.

Durante a viagem, o silêncio reinava na carruagem, pesado e imponente. Ninguém ousava quebrá-lo, até que a princesa, com uma pergunta que a inquietava, decidiu romper a quietude.

— Então, como vocês acabaram assim? — indagou a princesa, sua voz quebrando o silêncio.

Kaela, por um momento, ficou pensativa, os olhos vagando como se buscassem as palavras certas. O peso da pergunta a fez hesitar, enquanto refletia sobre como poderia explicar tudo sem revelar demais.

— Bem, nós dois enfrentamos problemas que resultaram em nossas condições atuais — explicou Kaela, sua voz carregada de uma melancolia silenciosa.

A princesa acenou em compreensão, mas não insistiu. Optou por deixar a resposta no ar, permitindo que o silêncio retornasse, como se a explicação fosse o suficiente para ambos naquele momento.

— Antes de chegarmos ao castelo, preciso saber os seus nomes, para poder falar com meu pai sobre vocês — disse a princesa, balançando seu leque com graça, como se a conversa fosse parte de um ritual de formalidade.

— Claro, meu nome é Kaela e este aqui é Nirai — respondeu Kaela, sua voz calma, mas segura.

Os olhos da princesa se arregalaram, e uma onda de surpresa a envolveu.

— O quê? Sério? Vocês são... Kaela, a portadora da luz branca, e Nirai, o aventureiro arrogante! — exclamou, seu tom animado, como se finalmente tivesse descoberto um grande segredo.

— Então, você nos conhece — comentou Kaela, surpresa. A princesa confirmou com um aceno entusiástico, seus olhos brilhando de excitação.

Ela lançou um olhar discreto a Nirai, mas sua mente logo se perdeu em lembranças daqueles dias marcantes, quando quase foi vítima de violência por Mark e Neo. Naquele momento, foi Nirai quem a salvou. No entanto, seu instinto de sobrevivência a havia cegado, impedindo-a de ver ou ouvir claramente o rosto dele. Mesmo assim, a sensação de saber que ele foi seu salvador permanecia, gravada no fundo de seu coração e na sua mente, como uma chama silenciosa e constante.

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