Dois Dias para o Ataque

Nas sombras de um canto esquecido do castelo, havia um refúgio tão oculto que nem mesmo o rei suspeitava de sua existência. Ali, entre paredes marcadas pelo tempo, Kio repousava em uma cadeira gasta, esperando por Neo.

O silêncio era profundo, até que um ruído sutil o rompeu. Imediatamente, Kio ergueu o olhar para a única entrada e, com instinto afiado, sacou sua arma, apontando-a para a passagem.

A figura que surgiu da penumbra fez seu coração vacilar por um instante. Era Neo. Ainda assim, seus dedos permaneceram firmes no gatilho, hesitantes diante da sombra que se aproximava.

— Sério? De novo isso? — suspirou Neo, erguendo as mãos em rendição, o cansaço evidente em sua voz.

— Se você agisse como alguém confiável, eu não precisaria apontar uma arma para você — retrucou Kio, antes de lançar a arma sobre a mesa com um gesto desdenhoso.

Neo suspirou, baixando os braços enquanto seu rosto se dissolvia lentamente, revelando sua verdadeira forma.

— Essa metamorfose é a única maneira de me mover por este castelo sem ser pego — murmurou, acomodando-se no chão frio. — Então, é melhor você se acostumar.

— Eu até poderia me acostumar, mas isso não vai impedir um tiro — Kio respondeu, levantando-se da cadeira velha e esticando as pernas com um leve suspiro. — Pelo menos, o pé direito aqui é alto. Se fosse baixo, eu estaria bem desconfortável.

— Este lugar foi erguido para esconder a família do rei, há muitos anos, durante as guerras entre os reinos — explicou Neo, seus olhos fixos em Kio, como se cada palavra tivesse um peso a mais.

— Isso não me interessa. O que eu realmente quero saber é quando vamos atacar — Kio disse, voltando a se acomodar na cadeira, que já estava marcada pelo tempo.

— Pelo que eu ouvi na conversa da princesa, eles estão preparando um evento para daqui a dois dias. E isso, sem dúvida, é uma armadilha — Neo comentou, soltando um suspiro cansado. Kio, atento, não tirava os olhos de sua arma, que girava entre seus dedos.

— E aí? Você é quem manda aqui. Se fosse eu, já teria atacado tudo sem pensar duas vezes — Kio comentou, seus olhos focados em uma barata que passava, dando um tiro certeiro para testar sua pontaria.

— Sério? Você realmente tentaria invadir este castelo de novo, sem hesitar? — Neo retrucou, a ironia evidente em sua voz, como se a resposta fosse óbvia.

— Com certeza! Foi aqui que cometi meu primeiro assassinato. E adivinha quem foi? A própria rainha — Kio disse, deixando escapar um sorriso que beirava o psicopata, mas que, para Neo, parecia carregado de um desconforto profundo. Havia algo de peculiar em seu prazer ao compartilhar essa história. — Depois que ela faleceu, começaram a me chamar de "assassino da reputação". Você sabe como ela era famosa... E, de certa forma, esse título sempre soou bem pra mim. —

— Uau, como conseguiu se livrar dos guardas e dos cavaleiros reais? — perguntou Neo, sua curiosidade tomando conta, os olhos fixos em Kio.

— Foi só uma questão de usar a minha habilidade — Kio respondeu, com um tom quase indiferente. — Mas, voltando ao que estávamos falando... Quando será nosso ataque?

— Acho melhor esperarmos mais um dia. Preciso reunir mais algumas informações. Temos que descobrir se os cavaleiros reais estão por aqui ou se estão em alguma missão — Neo disse, o olhar atento, calculando cada movimento que ainda precisava fazer.

Enquanto isso, Nirai estava parado à beira de um lago, lançando pedras na água, perdido em pensamentos sobre o evento que se aproximava.

— Nirai, não é? — uma voz desconhecida cortou o silêncio, fazendo-o parar e virar, interrompendo o ritmo das pedras que pulavam na superfície.

À sua frente, um homem alto se destacava, com cabelos lisos e impecáveis, que pareciam quase naturais. Sua roupa formal branca contrastava com o ambiente, e uma espada repousava em seu cinturão.

— Quem é você? E como sabe meu nome...? — Nirai perguntou, curioso, mas logo se lembrou de sua fama e se calou, hesitando por um momento antes de falar novamente.

— Mil perdões, deixe-me me apresentar. Sou Arthur, um dos cavaleiros reais deste castelo. E quanto ao seu nome, claro, você é o aventureiro arrogante que todos conhecem. Sua fama é bastante comentada no reino da lua — disse Arthur, com um sorriso que mais parecia um ouro recém-descoberto por um mineiro.

Arthur se aproximou e parou à beira do lago, próximo a Nirai. Com um gesto despreocupado, lançou uma pequena pedra na água, que saltou sete vezes antes de se perder nas profundezas.

Nirai, porém, não pôde deixar de fixar seu olhar no braço de Arthur. Era uma prótese de metal resistente, algo que imediatamente capturou sua atenção.

— Vejo que está curioso sobre meu braço... é robótico, como a princesa Clara mencionou antes — disse Arthur, seus olhos se distantes por um momento, lembrando-se da princesa e do incidente que lhe custou o membro.

— Então, você é o cavaleiro que perdeu o braço por causa da invenção da Clara? — Nirai perguntou, observando a pedra que ele havia lançado desaparecer imediatamente nas águas.

— Sim, parece que você sabe algo sobre isso — respondeu Arthur. Nirai, então, explicou que soubera do ocorrido porque também havia testado a invenção de Clara, e que Jack havia mencionado o incidente em uma de suas conversas.

— Entendo. Aposto que você sentiu medo naquele momento — continuou Arthur, lançando uma pedra que saltou nove vezes na superfície do lago, como se a ação fosse mais um pensamento do que um esforço. — Antes de tudo, responda uma pergunta... você, Nirai, sabe o que aconteceu há três anos? — ele perguntou, arremessando a pedra com um terço de sua força.

A pedra cortou o ar, cruzando o lago em alta velocidade antes de atingir uma árvore do outro lado. Nirai sentiu um arrepio percorrer sua espinha, algo desconhecido que o envolvia. Era um medo que ultrapassava tudo o que ele já tinha experimentado em sua jornada.

— Me... me desculpe, eu não lembro do que ocorreu — respondeu Nirai, a voz quase trêmula, dominado pela emoção que o tomava naquele instante.

— Você pode ter esquecido, mas há pessoas como eu que não esquecem assim tão facilmente. Vou ficar de olho em você, Nirai. Se você der um passo em falso, não hesitarei em te eliminar. Entendeu? — disse Arthur, fixando seus olhos nos de Nirai. Ele notou o medo que começava a tomar conta do corpo do jovem, uma expressão que jamais vira antes.

Era estranho para Arthur ver um aventureiro arrogante tão abalado. Isso o incomodava. Com um olhar de desdém, ele se virou e começou a se afastar, deixando Nirai com uma sensação crescente de impotência.

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