O Preço da Força

Porém, o golpe nunca veio.

Ao abrir os olhos, ele viu Kaela diante de si, firme, segurando a espada de madeira.

Com a outra mão, envolveu-se em luz branca e, num relâmpago de movimento, acertou o queixo de Nataria, que voou para longe.

— Uau, o queixo dela é duro como pedra! — Kaela exclamou, sacudindo a mão para aliviar a dor.

Virou-se e encontrou Nirai, a quem lançou um leve sorriso.

— Que bom que te achei. Depois disso, precisamos conversar, certo?

Nirai assentiu, e Kaela voltou o olhar para Nataria, que corria com toda a força.

Sem hesitar, decidiu segui-la.

Consumida pela fúria, Nataria só pensava em destruir.

Ela desferiu um golpe feroz, mas Kaela desviou, e o punho da adversária encontrou o chão. O impacto foi avassalador, fazendo a terra tremer como um terremoto e o castelo estremecer diante de sua fúria.

Kaela admirou a força do embate, mas não vacilou. Com um chute certeiro, atingiu o rosto de Nataria, que logo se reergueu, agarrando-a e arrastando-a pelo chão.

A pele de Kaela se abriu, e seu sangue tingiu o solo, compondo uma melodia de dor.

Nirai assistiu à cena terrível, enquanto vozes familiares sussurravam em sua mente.

— Deixe-a morrer. Será a terceira. Fique aí e não faça nada.

Os sussurros de Mark e Satella ecoavam como sombras da traição.

Por um instante, um grito mudo explodiu dentro de Nirai.

Ele sacudiu a cabeça, espantando as vozes, e com o coração firme, correu em direção à batalha.

No instante decisivo, Nirai ergueu sua espada de madeira e, com um golpe certeiro, atingiu a cabeça de Nataria. A lâmina frágil se partiu ao meio.

O impacto fez com que ela se voltasse para ele, ignorando Kaela. Então, seus punhos desceram impiedosos sobre Nirai.

Cada soco era brutal, cada osso quebrado ecoava como um trovão.

Kaela viu o massacre diante de si, e a fúria queimou em seu peito.

A luz branca envolveu seu rosto ferido, curando-o.

Com olhar firme, ergueu-se novamente, pronta para lutar.

— Neste mundo onde as sombras reinam, a violência governa. Tudo está corrompido… e precisa ser purificado. — Kaela murmurou, buscando força em meio ao caos.

Foi então que a princesa Rebecca adentrou a sala de treino.

— Parem agora! — sua voz ecoou firme, atraindo o olhar furioso de Nataria.

Sem hesitar, a guerreira avançou contra ela.

Mas Rebecca permaneceu serena.

No instante em que Nataria se aproximou, a princesa esquivou-se com graça e, com um toque preciso do indicador, atingiu-lhe o pescoço.

O golpe encontrou seu alvo, tocando um ponto vital.

Nataria desabou, sua forma se dissolvendo no ar, a fúria silenciada.

A princesa Rebecca observou o cenário e voltou-se para Nirai, caído, ferido, mas vivo.

— Vocês estão bem? — perguntou com doçura.

Com esforço, Nirai ergueu o braço trêmulo e, mesmo em dor, mostrou um sinal de positivo.

Kaela não respondeu à pergunta de Rebecca.

Apenas se aproximou de Nirai e, sem hesitar, envolveu-o com sua luz branca, curando suas dores invisíveis.

Enquanto isso, os guardas, sob ordem da princesa, carregaram Nataria para seus aposentos, onde o descanso a esperava.

Logo após, Rebecca se aproximou dos dois.

Kaela havia terminado de curar Nirai e o ajudava a se erguer.

Rebecca, curiosa, perguntou o que acontecera antes de sua chegada.

— Não sei ao certo. Só sei que, quando cheguei, aquela louca quase matou o Nirai — respondeu Kaela, cruzando os braços.

Rebecca olhou para Kaela, lendo a verdade em suas palavras, e então seus olhos se voltaram para Nirai.

— Talvez ele saiba — disse Rebecca, apontando para Nirai.

Ele a olhou, hesitando em falar, mas Kaela pousou a mão em seu ombro, oferecendo-lhe coragem para contar o que aconteceu.

— Eu e Nataria estávamos treinando. Ela queria testar minha habilidade com a espada, mas eu disse algo que a irritou. Acho que ela entendeu como se eu estivesse a subestimando — explicou Nirai.

— Ah, entendi. Foi por isso que ela assumiu essa forma. Mas, por favor, tenha cuidado com suas palavras. Ela tem uma maneira própria de interpretar as coisas, e muitas vezes age de forma incontrolável — observou Rebecca, seus olhos atentos a Nirai e Kaela.

— Entendido. Mas poderia nos contar mais sobre essa forma que ela usou? O poder dela foi imenso, até para mim, que sou portadora da luz branca — perguntou Kaela, sua curiosidade despertada após o confronto com Nataria.

— Para entender o poder de Nataria, precisamos conhecer a história de sua família. No entanto, não acho que este seja o lugar certo para isso. E, por favor, evitem mencionar algo a ela — respondeu Rebecca, virando-se em direção à saída e fazendo um gesto para que Kaela e Nirai a seguissem.

No corredor, os três caminharam em silêncio. Quando os guardas se aproximaram, Nirai sentiu o peso dos olhares deles, uma pressão desconfortável que o fazia se sentir deslocado. Kaela e Rebecca perceberam a tensão e, com olhares desafiadores, encararam os guardas, que, visivelmente incomodados, apressaram-se a seguir seu caminho.

— Por que não podemos falar sobre a vida de Nataria aqui? — perguntou Kaela.

Rebecca a olhou, entendendo a pergunta antes de responder.

— Ah, entendi, é algo íntimo que deve permanecer em segredo.

Nirai observava a conversa silenciosa entre as duas, segurando sua vontade de perguntar. A curiosidade sobre Nataria e o poder que ela demonstrava queimava dentro dele. Mas sua mente estava repleta de dúvidas e reflexões sobre quem ele fora antes. Lembrava-se do confronto com Nataria, da derrota que sofreu, e se perguntava se seu eu passado, agora apagado, não teria sido mais forte.

"Por que não consigo ser mais forte? Estou preso ao meu antigo eu, sufocado por este trauma. Quero me libertar, mas não consigo. Estou sozinho nessa jornada. Tudo o que vivi foi dor e violência, tudo por causa desse maldito título", pensou Nirai, enquanto a raiva e o ódio cresciam dentro dele.

Pouco a pouco, ele percebeu que sua existência se tornara um tormento, alimentado pela sombra de seu passado, uma figura que mal conseguia lembrar, mas que ainda o assombrava, especialmente pela constante lembrança de Kaela, que parecia sempre medir quem ele tinha sido.

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