O Peso do Passado

Poucos minutos se passaram, e lá estavam Kaela, Nirai e a princesa, descendo da carruagem com passos firmes. Caminharam até os portões do castelo, onde os guardas, ao verem a princesa, abriram passagem sem hesitar.

No corredor que levava ao trono, uma melodia suave ecoava pelo ar. A princesa suspirou fundo, deixando o som embalar seus pensamentos, e lançou um olhar sereno para Nirai e Kaela, como quem compartilha um segredo em silêncio.

— Meu pai parece ocupado. Que tal descansarem em um dos quartos do castelo? — sugeriu a princesa com um sorriso gentil.

Kaela, sem hesitar, aceitou a oferta.

Com um leve gesto, a princesa lançou um olhar ao guarda que vigiava a porta do trono. Ele entendeu de imediato, conduzindo Nirai e Kaela com discrição até os aposentos reservados para eles.

Sem hesitar, a princesa empurrou as portas da sala do trono, revelando um salão repleto de figuras de prestígio, tanto humanas quanto semi-humanas. O ambiente fervilhava com música e movimento, enquanto dançarinas ocupavam diferentes cantos, suas coreografias dando vida à celebração. Contudo, a princesa ignorou a festa, seus olhos buscando apenas uma figura: o rei, sentado à frente em seu trono, cercado por dançarinas.

— Pai — chamou ela, com a voz firme.

O rei ergueu os olhos, encontrando o rosto da filha. Sem demora, afastou a dançarina em seu colo, levantou-se do trono e caminhou ao encontro dela, sua presença imponente cortando o brilho da festa ao redor.

— Rebecca, não sabia que voltaria de sua viagem tão cedo — disse o rei, enquanto a envolvia em um abraço caloroso. A princesa, agora chamada pelo nome, retribuiu o gesto com carinho, mas logo se afastou.

— Pai, preciso falar sobre algo importante — disse Rebecca, sua voz firme e séria.

O rei, captando a urgência em seu tom, assentiu com gravidade e a guiou para um local mais reservado, longe do alvoroço da sala do trono.

Na varanda do castelo, a noite se revelava em um espetáculo de estrelas cintilantes. O rei estava apoiado na mureta de pedra, o olhar perdido no céu, mas sua atenção fixa em Rebecca, que permanecia em silêncio por um instante, pensativa.

— Tudo bem, filha. Sobre o que você deseja conversar? — perguntou ele, sua voz carregada de curiosidade e uma ponta de preocupação, enquanto aguardava pacientemente suas palavras.

— É sobre aquele dia — disse Rebecca, sua voz carregada de emoção.

O rei imediatamente entendeu a referência e fez um gesto encorajador para que ela prosseguisse.

— Bem, pai, eu encontrei o homem que me salvou.

— Sério? E quem é ele? — perguntou o rei, agora tomado pela curiosidade, seus olhos fixos na filha, ansioso por descobrir mais sobre o enigmático salvador.

— O nome dele é Nirai — respondeu Rebecca com firmeza.

O rei ficou em silêncio por um momento, virando o rosto, surpreso. Quando voltou a encará-la, seu olhar estava repleto de dúvida, quase incrédulo, como se sua expressão perguntasse: "É sério isso?"

— Sério, filha? O Nirai? Aquele arrogante? — disse o rei, cético, sua voz carregada de desconfiança.

Mas ao observar a determinação estampada no rosto da filha, ele percebeu que ela falava com sinceridade. Suspirando, passou os dedos pelos olhos cansados antes de prosseguir:

— Tem certeza de que deseja torná-lo seu cavaleiro?

— Sim, pai. Mas antes que diga algo, preciso que entenda: não importa a sua decisão, o que realmente conta é a minha vontade — respondeu Rebecca, sua voz firme e decidida. Embora segura de sua escolha, uma dúvida persistia em seu coração: será que Nirai aceitaria ser seu cavaleiro?

— Tudo bem. Mesmo que eu dissesse algo, você provavelmente me ignoraria, teimosa como sempre... exatamente como sua mãe — disse o rei, permitindo que um sorriso nostálgico iluminasse seu rosto ao lembrar de sua falecida esposa.

As palavras dele arrancaram um sorriso de Rebecca, que não pôde deixar de rir, divertida com a comparação.

Na manhã seguinte, Nirai estava sentado à beira da cama, o rosto marcado por olheiras profundas. A noite fora longa, e o sono, um visitante ausente. Com um suspiro cansado, ele se levantou e caminhou em direção à porta, decidido a começar o dia.

Ao sair, seus olhos captaram a figura de um homem deixando o quarto de Kaela. Uma sensação inquietante percorreu seu corpo, mas ele optou por ignorá-la e continuou em direção ao quarto dela.

Lá, encontrou Kaela de pé, vibrante e cheia de energia. Ao perceber sua presença, ela se virou, o rosto iluminado por um sorriso radiante que parecia contagiar até os cantos mais sombrios de sua mente.

— Ah, é você, Nirai! Estou ótima agora. Recuperei minha mana muito rápido — exclamou Kaela, a energia transbordando em suas palavras.

— Fico feliz por isso, mas quem era aquele homem que saiu do seu quarto? — perguntou Nirai, sua curiosidade ainda viva, os olhos fixos nela enquanto buscava uma explicação.

Kaela, percebendo a dúvida nos olhos de Nirai, explicou com calma que o homem era um médico que havia lhe dado uma poção para restaurar sua mana. Ao ouvir isso, Nirai finalmente relaxou, e a sensação estranha que o incomodava desapareceu como um peso aliviado.

— Hum, Nirai, que tal darmos um passeio pelo castelo? — sugeriu Kaela com um sorriso convidativo.

Nirai assentiu, concordando com a ideia, e juntos deixaram o quarto, prontos para explorar os vastos e imponentes corredores do castelo.

O ambiente ao redor era imponente, com suas paredes adornadas e longos corredores sendo cuidadosamente limpos pelas empregadas. À medida que caminhavam, o som suave dos passos se misturava à quietude do castelo. Então, ao virar uma esquina, avistaram um jovem cavaleiro se aproximando.

Quando o cavaleiro passou por eles, seus olhos se fixaram em Nirai, capturando o rosto desconhecido. Algo em seu semblante parecia diferente, inusitado, como se aquele rosto nunca tivesse sido visto naquele castelo antes. No entanto, ele rapidamente fez a conexão, lembrando da conversa entre o rei e a princesa, e logo percebeu que Nirai estava ali, alguém de importância recente.

— Cretino! — gritou o jovem cavaleiro, de repente agarrando Nirai pelo pescoço e o empurrando contra a parede. A ação foi tão rápida e inesperada que deixou tanto Nirai quanto Kaela paralisados, em choque.

— Ei, seu maluco! Largue o Nirai agora! — exclamou Kaela, sua voz tremendo de indignação.

Mas Nirai, em um reflexo instintivo, reagiu de maneira surpreendente. Com uma agilidade impressionante, ele desferiu um soco preciso na garganta do jovem cavaleiro, que imediatamente soltou seu pescoço, engasgando e recuando.

"O corpo de Nirai reagiu de forma instintiva; parecia que ele ainda guardava memórias de como era no passado", pensou Kaela, observando com atenção a cena diante dela.

O jovem cavaleiro estava agora ajoelhado no chão, com as mãos na garganta, tossindo e lutando para recuperar o fôlego. Seu olhar, fixo em Nirai, transbordava raiva e frustração, como se a humilhação fosse algo difícil de aceitar. A tensão no ar era palpável, e a irritação do cavaleiro era clara como o dia.

No momento, uma sensação de tremor tomou conta de Nirai, invadindo-o de forma visceral, tanto por fora quanto por dentro. O medo o consumia, e em sua mente, imagens de Satella e Mark surgiam, como sombras do passado que se recusavam a desaparecer. Ambos o observavam, com sorrisos distantes e desafiadores, como se o instigassem a eliminar o jovem cavaleiro à sua frente.

— Não, eu não vou fazer isso! — exclamou Nirai, a voz cheia de angústia, antes de se afastar rapidamente, correndo para longe de Kaela e do cavaleiro.

Kaela, observando a cena, percebeu a intensidade da reação de Nirai. Estava claro que ele carregava um trauma profundo, um peso emocional que ainda não conseguira superar. Ela sabia que havia mais naquela reação do que um simples confronto.

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