O Preço da Vitória

Satella invocou sua mais poderosa arte: a ilusão. Nirai, enredado em falsos caminhos, seguiu pistas enganosas que o trouxeram de volta ao ponto de partida. E agora, lá estava ele, diante dela. Satella caminhava lentamente em sua direção, cada passo carregado de uma calma que parecia pesar no ar.

— Desculpe, Nirai... sinto-me tão impotente. Se estivesse em plena forma, teria percebido que tudo isso não passava de pistas falsas — admitiu Kaela, com a voz baixa e trêmula. Um profundo sentimento de inutilidade a envolvia, como uma sombra pesada que parecia tomar conta de seu ser.

— Não, Kaela, não se culpe assim — respondeu Nirai, a voz firme, mas cheia de compaixão. Ele a colocou delicadamente no chão, como se fosse algo precioso, e então se virou para encarar Satella. Com os olhos brilhando de determinação, ergueu a faca que uma vez tomara dela, segurando-a com força enquanto se preparava para o que estava por vir.

— Nirai, se você não tivesse dado atenção à Kaela, as coisas teriam tomado um rumo muito diferente do que imagina — disse ela, lançando-lhe um olhar carregado de significado. Apesar da tensão, um sorriso suave ainda iluminava seu rosto, como um raio de luz em meio à escuridão.

— Se eu não tivesse ouvido a Kaela, talvez nós dois já estivéssemos mortos, hoje ou nos próximos dias. Sou realmente grato por ela ter dividido suas desconfianças sobre você — respondeu Nirai, com um leve sorriso nos lábios. Suas palavras carregavam sinceridade, e Kaela, ao ouvi-las, sentiu o calor subir ao rosto, tingindo suas bochechas com um rubor suave.

Satella suspirou, quase exasperada, com a resposta de Nirai. No fundo, ela sabia de uma verdade implacável: eles iriam morrer, cedo ou tarde. Mas não agora. O desenrolar antecipado dos acontecimentos a frustrava profundamente, pois seus planos haviam sido arruinados antes do momento ideal. A tensão em seus olhos era um reflexo de sua decepção.

Ela ergueu a mão, apontando diretamente para Nirai. Ele percebeu o gesto e imediatamente se preparou para reagir ao que viesse. Mas nada aconteceu. O silêncio tomou conta do momento, e Satella, inesperadamente, deixou escapar um pequeno sorriso. Algo havia se clareado em sua mente, uma conclusão que a fez hesitar, como se tivesse encontrado a peça final de um quebra-cabeça invisível.

"Entendo... minha magia não funciona nele. Isso só pode ser obra do Nexo do Vazio," refletiu Satella, com os olhos estreitados. Contudo, ela sabia que até mesmo essa habilidade tinha suas fraquezas. Primeiro, Nirai não possuía controle consciente sobre esse poder. Segundo, sua influência não se estendia às habilidades físicas, limitando-se apenas às forças sobrenaturais. A percepção lhe deu tanto vantagem quanto inquietação, enquanto ela ponderava os próximos movimentos.

Essa era uma das vantagens que Satella poderia explorar contra Nirai. Sem hesitar, ela disparou em sua direção, sem portar uma lâmina ou qualquer arma visível. Nirai sentiu o coração acelerar e engoliu seco, preparando-se para o impacto iminente. Cada passo dela parecia ecoar como um prenúncio do primeiro golpe que ele sabia estar por vir.

O ataque veio com uma rapidez impressionante, tão súbita que Nirai quase não teve tempo de reagir. No entanto, com um reflexo rápido, ele balançou a faca em direção a Satella. Para sua surpresa, ela conseguiu segurar seu pulso com uma agilidade surpreendente, impedindo o golpe no último segundo. O contato entre eles parecia elétrico, e Nirai sentiu a força da resistência que ela opunha, desafiando sua própria habilidade.

Com um movimento ágil, Satella desferiu um soco direto no rosto de Nirai, e antes que ele pudesse reagir, ainda segurando seu pulso, ela o atingiu novamente, dessa vez no estômago. Contudo, Nirai, com uma força inesperada, segurou sua mão e, em um movimento desesperado, deu uma cabeçada em cheio no meio do rosto de Satella. O impacto foi brutal, e o som do nariz quebrando ecoou no ar. Sangue começou a escorrer de suas narinas.

— Maldito — gritou Satella, agora tomada por uma raiva intensa pela ousadia de Nirai. Ela lutou com todas as forças para se soltar, tentando se desvencilhar do seu aperto, mas suas tentativas eram em vão. Quando seus olhos se encontraram com o rosto de Nirai, ela viu um sorriso estampado em sua cara, como se tivesse finalmente conseguido virar o jogo. A frustração em Satella cresceu ainda mais, enquanto a luta entre eles se intensificava.

— Sabe, você veio até mim sem arma, sem medo do que poderia acontecer com você. E o que aprendi na minha primeira batalha real é aproveitar oportunidades como essa — disse Nirai, com um sorriso desafiador, antes de dar uma rasteira em Satella, derrubando-a no chão.

Os dois caíram pesadamente, com Nirai agora em cima de Satella, que estava deitada, sua posição vulnerável. Ela segurava firmemente o pulso de Nirai, evitando que a faca a atingisse, enquanto ele, com a outra mão, segurava a dela, imobilizando-a. Estavam em um impasse, a tensão no ar palpável. Satella estava em xeque, sem poder se mover sem arriscar uma ferida fatal.

Kaela observava a cena com olhos fixos, vendo Nirai concentrar toda sua força na faca, tentando inutilmente atingir Satella. Seus esforços eram em vão, pois as forças de ambos pareciam equilibradas, um impasse de vontades. Com dificuldade, Kaela se levantou, seus músculos tremendo de exaustão, mas sua determinação não vacilava. Ela sabia que a luta ainda não estava decidida, e, apesar do cansaço, o fogo dentro dela a impelia a continuar, a lutar até o fim.

Kaela avançou com passos silenciosos, pousando ao lado de Nirai. Num gesto ágil, sua mão tocou a dele, guiando a lâmina com precisão até o ombro de Satella. Um grito, como um suspiro da dor, escapou dos lábios dela, enquanto o sangue se espalhava no ar, tingindo o rosto de Nirai e Kaela.

Com o impacto, o braço de Satella cedeu, e o pulso de Nirai foi finalmente libertado. Sem hesitar, o instinto de sobrevivência tomou conta dele, e a lâmina cortou o ar, perfurando Satella repetidamente. Cada golpe parecia um reflexo puro, um impulso implacável de eliminar o perigo diante dele. Ele não podia permitir que uma ameaça como ela persistisse, especialmente em um mundo onde ele e Kaela lutavam por sua própria existência.

Mas seria essa a escolha certa? Nirai se viu parado, a lâmina ainda em sua mão, enquanto uma dúvida o consumia. Estaria ele tão distante de Satella, ou seria apenas mais uma face de sua crueldade? Ela, que havia ceifado tantas vidas naquele porão. Seus olhos, agora fixos em Nirai, carregavam um turbilhão de emoções: raiva, medo, desprezo, e uma dor que ele não sabia se poderia compreender. Ele sentiu o peso de seu próprio reflexo, como se a linha entre vítima e algoz estivesse cada vez mais tênue.

De repente, os rostos das vítimas de Satella surgiram em sua mente, suas expressões distorcidas pela dor enquanto ela as torturava. Mas, ao contrário do que Nirai esperava, não havia arrependimento em seu coração. Para Satella, as cicatrizes de uma vida sem memórias, e o sofrimento que havia suportado, eram como âncoras que justificavam tudo. Elas moldaram a pessoa que ela se tornara, implacável e certa de suas ações, como se cada ato de violência fosse uma resposta ao mundo que a havia feito assim.

Diferente de Satella, Nirai não se movia com a frieza de quem já aceitara seu papel no ciclo de dor. Cada golpe que ele desferia vinha carregado de uma dor profunda, uma tristeza que parecia rasgar sua alma. Ele não queria ser mais um carrasco, não queria que essa experiência o marcasse para sempre, mas agora, naquele momento, não havia escolha. Era uma luta pela sobrevivência, em um mundo onde a morte espreitava a cada passo. Ele sabia que, se hesitasse, a próxima vítima poderia ser ele.

Antes de ceder completamente à escuridão, Satella esboçou um sorriso. Seus olhos, turvos pela dor e pela morte iminente, brilharam por um instante. Diante dela, surgiu uma visão: uma versão de si mesma, mas com memórias, com o peso de tudo o que havia vivido e perdido. Era uma guerreira experiente, agora confrontando sua própria sombra, seu lado mais obscuro. A luta não era mais contra Nirai ou qualquer outra ameaça externa, mas contra si mesma, enfrentando a inimiga que sempre esteve dentro dela.

Quando Nirai finalmente parou, a lâmina ainda em sua mão, o sangue de Satella escorria por suas palmas. Seu corpo tremia, e as lágrimas desciam, pesadas, carregando o peso daquilo que acabara de fazer. Cada gota de sangue parecia se impregnar em sua alma, marcando-o de uma maneira que ele sabia que nunca esqueceria.

Com esforço, Kaela se levantou, sem dizer uma palavra, a puxou para perto e o envolveu em um abraço silencioso, reconfortante. Ela sentia a dor que ele carregava, como se fosse a sua própria. Lembrava-se do dia em que viu Nirai lutar contra Mark, o trauma que aquele confronto causou. Para Kaela, aquele momento era um reflexo de tudo o que ele havia perdido e ainda perdia. Uma dor que Satella nunca conhecera, porque nunca teve alguém para cuidar dela, para oferecer algo além de sofrimento. Ela fora consumida pela violência, enquanto Nirai, mesmo em sua escuridão, ainda buscava a humanidade que restava dentro de si.

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