Após a reunião, Clara seguiu para o laboratório, perdida em pensamentos. Sabia que a ameaça voltaria, e isso apertava seu peito. As sombras do passado dançavam em sua mente, mas, com um leve balançar de cabeça, tentou afastá-las como folhas ao vento.
Jack, seu fiel assistente, notou sua chegada e, curioso, quis saber sobre a reunião. Clara apenas o fitou, suspirou fundo e, em silêncio, sentou-se no banco, como quem carrega o peso do tempo.
— Nada demais, apenas um anúncio sobre um evento. Mas me diga, Jack… você gostaria de tirar uma folga? — perguntou Clara.
Jack, pego de surpresa, hesitou. Anos sem descanso tornaram a ideia quase estranha, mas a possibilidade de uma pausa soava como um convite tentador.
— Sim, eu gostaria. Mas por que essa pergunta? — indagou Jack.
Clara sorriu de leve e respondeu:
— Porque, em todos esses anos, você nunca tirou um dia para si.
— Que tal começar sua folga amanhã? — sugeriu Clara.
Jack sentiu uma breve inquietação, mas logo a deixou de lado e assentiu.
— Você pode descansar agora, Jack. Não preciso mais da sua ajuda por enquanto.
— Tudo bem, então vou indo — respondeu Jack, caminhando em direção à saída.
No entanto, uma inquietação persistia em seu peito, como se algo estivesse fora do lugar, sussurrando-lhe um aviso silencioso.
Clara olhou por sobre os ombros, acompanhando Jack se afastar. Um longo suspiro escapou de seus lábios enquanto tentava convencer a si mesma de que havia feito a escolha certa. Não queria que aqueles que amava se ferissem novamente. Não desta vez.
"Droga, não de novo! Se ao menos meu pai tivesse me ouvido, se tivesse aceitado minha tecnologia, nada disso estaria acontecendo. Merda!"
A frustração fervia dentro de Clara, apertando seu peito como um grito contido.
Tomada pelo desespero, Clara derrubou algumas de suas invenções da mesa, golpeando o móvel com os punhos. A tristeza a envolvia como uma sombra, e, sem que percebesse, lágrimas silenciosas começaram a cair de seu rosto.
— Que merda, que droga… Mamãe, me desculpe. Eu queria ser mais forte, mas não consigo… Quero mudar este reino, mas ninguém vê, ninguém enxerga o valor das minhas ideias. Droga… — murmurou Clara, afundando o rosto nos braços cruzados sobre a mesa, enquanto sua dor se misturava ao silêncio do laboratório.
Enquanto isso, Jack caminhava pelo corredor, imerso em seus próprios pensamentos. Sem perceber, acabou se deparando com um guarda real que vinha em direção oposta. O guarda, ao notar Jack, rapidamente estendeu a mão sobre o peito dele, bloqueando seu caminho.
— Você não deveria estar com a princesa? — perguntou o guarda, com voz firme.
Jack, mantendo a calma, respondeu:
— Clara me deu uma folga.
— Sério? A princesa disse isso? Bem, tudo certo então, pode seguir — respondeu o guarda, permitindo que Jack continuasse seu caminho.
Porém, após dar alguns passos, Jack sentiu seu corpo se paralisar, como se estivesse preso no corredor. O guarda real retornou, posicionando-se novamente diante dele.
— O que você fez com o meu corpo? Me responda! — gritou Jack, a voz tremendo de desespero.
Algo estava terrivelmente errado. A incapacidade de se mover espalhava uma angústia profunda dentro dele, uma sensação que ele não queria enfrentar naquele instante.
No entanto, a aflição de Jack parecia pequena diante da reação do guarda. O rosto do homem começou a se deformar, como se fosse feito de massinha, uma cena impressionante, mas ao mesmo tempo estranhamente familiar para Jack. Quando a transformação finalmente parou, o verdadeiro rosto do guarda surgiu, trazendo consigo um sorriso largo e horripilante.
Mas o rosto que Jack viu era conhecido. Um rosto que ele temia admitir… Era seu irmão, aquele que ele abandonara dois anos atrás.
— Neo?! — exclamou Jack, com a surpresa brilhando em seu olhar ao ver o irmão diante de si.
— Olá, Reo. Que bom te ver de novo — respondeu Neo, com o mesmo sorriso de sempre iluminando seu rosto.
— O... o que você faz aqui? E por que meu corpo não obedece? — perguntou Jack, enquanto a lembrança de seu verdadeiro nome, Reo, voltava à sua mente.
— Calma, irmão! Por que tantas perguntas? Não há motivo para se preocupar. Apenas suspendi o tempo do seu corpo... — disse Neo, com um tom enigmático. — E quanto à sua outra dúvida... Você sabe bem por que estou aqui. Nossa missão, aquela de antes mesmo de você servir a este reino.
— Não faço ideia do que você está falando — rebateu Reo. Mas Neo apenas balançou a cabeça, a decepção refletida em seu olhar.
— Sabe muito bem! Viemos ao reino da lua com um único propósito: destruir esse sistema injusto. Mas não... o "gênio" aqui preferiu se aliar a eles — disse Neo, soltando risadas curtas, carregadas de ironia. O som inquietava Reo. Ele conhecia bem a imprevisibilidade do irmão e não fazia ideia do que viria a seguir.
— Certo, o que você quer de mim? Fala! — exclamou Reo, encarando o irmão mais novo.
Foi então que Neo, com um movimento ágil, puxou uma adaga de sua manga e, sem hesitar, deslizou a lâmina pelo pescoço de Reo.
O sangue dançou no ar, enquanto Reo observava, os olhos arregalados em puro choque. Seu corpo, imóvel, recusava-se a reagir.
Mas seus olhos encontraram Neo, cuja adaga brilhava manchada com seu sangue. Com a voz enfraquecida, Reo sussurrou suas últimas palavras antes de ser engolido pela escuridão:
— Desculpa, irmão… Desculpa, Clara… Eu nunca quis deixá-los assim.
Reo caiu ao chão ao dizer suas últimas palavras. Ao abrir os olhos, viu Neo, seu irmão mais novo, adormecido ao seu lado. Com um toque suave, tentou despertá-lo.
— Irmão, onde estamos? — perguntou Neo, os olhos vagando pelas sombras dançantes da floresta, tentando decifrar as miragens ao seu redor.
— Eu… não sei, mas precisamos seguir. Aquela luz na floresta parece ser nossa única saída — disse Reo, apontando o caminho adiante. Sentiu então a mão de Neo apertar a sua, firme e silenciosa.
— Antes de seguirmos… quero te pedir perdão por ter tirado sua vida naquele instante… Eu… me desculpe — sussurrou Neo, a voz tremendo.
Reo apenas sorriu, aceitou o pedido sem palavras, ergueu o irmão e o carregou nas costas, caminhando em silêncio rumo à luz.
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Atualizado até capítulo 25
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