...Aylme...
Eu mal conseguia pensar com clareza quando Isaac saiu do meu quarto, deixando-me sozinha com a explosão de emoções que ele havia provocado. Um erro. Ele chamou o beijo de erro. A palavra ecoava na minha mente como uma facada repetida. Ele é escroto, canalha e um homem difícil de lhe dar. Deve ser por esse motivo, que ele vive sozinho, porque ninguém suporta ele.
Voltei para dentro do quarto, sentei-me na beira da cama, olhando para o chão enquanto minha respiração ainda estava irregular. Como ele podia ser tão frio, tão controlado? Tudo nele parecia calculado, desde as palavras até o jeito de sair pela porta sem olhar para trás.
Minha raiva crescia a cada segundo. Não por ele ter me beijado, mas pelo que veio depois. O beijo foi… foi algo que eu não esperava, algo que mexeu comigo. Mas, no momento seguinte, ele o descartou como se fosse um deslize insignificante.
“Um erro,” pensei novamente, mordendo o lábio para conter a frustração.
Levantei-me e comecei a arrumar minhas coisas, jogando as roupas na mala com movimentos bruscos. Era quase como se minha raiva precisasse de um canal físico para se manifestar, e a mala era a vítima perfeita.
Quando terminei, sentei-me na cama novamente, exausta, mas incapaz de dormir. A cena continuava passando pela minha mente: o toque dos lábios dele, o calor, e a maneira como ele me olhou, como se estivesse lutando contra si mesmo. Não havia como fingir que aquele beijo não significava nada. Mas, ao mesmo tempo, ele deixou bem claro que não queria lidar com o que quer que fosse aquilo.
Respirei fundo, tentando acalmar a confusão dentro de mim, mas nada conseguiu aplacar aquele tumulto dentro do meu peito. Peguei uma garrafa de uísque e tomei quase pela noite inteira. Finalmente deitei, e adormeci da forma como me deitei na cama na noite anterior.
Na manhã seguinte, acordei cedo, determinada a mostrar a ele que não seria afetada por suas palavras.
Caminhei até a janela do quarto, puxando a cortina com suavidade. O céu estava azul, sem nenhuma nuvem à vista. O mar reluzia ao longe, e a brisa que passava pelas folhas das árvores parecia convidar qualquer um a sair e aproveitar o dia. Perfeito para pegar um bronzeado.
Tomei um banho rápido, deixando a água morna lavar a leve ressaca que ainda sentia. Vesti meu biquíni favorito, um modelo simples, mas que destacava minhas curvas sutilmente. Peguei minha bolsa e comecei a organizá-la com tudo o que precisava: protetor solar, uma toalha, meu óculos de sol e um livro que vinha adiando há meses.
Isaac não estava à vista. Provavelmente ainda dormia ou estava perdido em alguma reunião matinal, mesmo estando em plena lua de mel. Melhor assim. Hoje eu queria um momento só para mim.
Com uma cadeira de praia em mãos, caminhei pelo resort em direção à praia. O relógio marcava pouco antes das nove da manhã, um horário perfeito para aproveitar o sol sem exagerar. Não era tarde o suficiente para queimar, mas a luz já era forte o bastante para dourar a pele.
Senti os olhares enquanto passava pelas áreas comuns. Algumas pessoas sorriam, outras apenas me observavam discretamente, e, claro, os fotógrafos. Não os via diretamente, mas sabia estarem ali, escondidos, esperando por qualquer momento digno de um clique. Não me importei. Hoje, nada e ninguém iria estragar meu dia.
Escolhi um lugar isolado, próximo ao mar, mas longe do barulho de crianças correndo ou dos casais conversando alto. Armei minha cadeira, ajeitei a toalha, e me sentei para passar o protetor solar. A sensação fresca do creme contra minha pele era um contraste agradável com o calor crescente do sol.
Após guardar tudo na bolsa, coloquei o óculos de sol, inclinei a cadeira, e fechei os olhos. Por um momento, era como se tudo desaparecesse.
Nada de contratos. Nada de Isaac. Nada de expectativas.
— Olá, tudo bem?
A voz masculina, profunda e casual, veio da minha direita. Abri os olhos devagar, ajustando o óculos para ver melhor. Um homem estava ao meu lado, com a pele bronzeada e o corpo molhado. O cabelo escuro ainda pingava, e os músculos do peito brilhavam sob a luz do sol.
Ele era bonito, sem dúvida. E sabia disso.
— Olá — respondi, tentando não parecer surpresa.
Sem se incomodar com a areia ou com o sol, ele se sentou ao meu lado, apoiando os braços nos joelhos.
— Desculpe a abordagem direta, mas você parece um pouco deslocada aqui. Não é comum ver alguém tão tranquila em um lugar tão agitado.
Dei um leve sorriso, ajustando a posição na cadeira.
— Talvez eu só tenha escolhido o momento certo para relaxar.
Ele riu, um som fácil e agradável.
— Justo. Meu nome é Heitor, aliás. Estou hospedado aqui também.
— Aylme.
— Prazer em conhecê-la, Aylme. — Ele olhou para o mar por um momento antes de voltar o olhar para mim. — Está aqui de férias?
Hesitei por um segundo.
— Algo assim.
Ele sorriu, claramente intrigado pela resposta vaga.
— E sozinha?
— Não exatamente.
Ele arqueou uma sobrancelha, esperando por mais detalhes que eu não estava disposta a dar.
— Entendi, mistério. Gosto disso. — Ele apontou para o livro na bolsa. — Está lendo o quê?
Peguei o livro e mostrei a capa, uma obra de ficção que eu havia comprado meses atrás, mas nunca encontrara tempo para começar.
— Ah, boa escolha. — Ele se inclinou ligeiramente. — Já li esse. Tem uma reviravolta que você não vai acreditar.
Revirei os olhos com humor.
— Se você me der spoilers, nunca mais falamos.
— Prometo, sem spoilers. — ele riu, mostrando seus dentes perfeitamente brancos e alinhados.
O jeito descontraído dele era uma distração bem-vinda. Conversamos sobre livros, viagens, e a praia, enquanto o tempo parecia desacelerar.
Até que o tempo foi interrompido.
Ouvi passos pesados se aproximando e, antes que pudesse olhar, algo caiu sobre meu estômago, me fazendo sobressaltar.
Uma folha de jornal.
Levantei a folha e olhei para cima, vendo Isaac parado ali, com a expressão fria e calculada que já conhecia tão bem.
— Esqueci de te avisar que sua foto já está na manchete de hoje — disse ele, casualmente, como se fosse um amigo trazendo boas notícias.
Antes que eu pudesse responder, ele se sentou na areia ao meu lado, no espaço exato entre mim e Heitor. O gesto foi tão deliberado que era impossível ignorar.
— Isaac Castellani. — Ele se apresentou a Heitor, estendendo a mão com um sorriso que não alcançava os olhos.
— Heitor. — O outro respondeu, apertando a mão dele, mas claramente surpreso com a interrupção repentina.
— Obrigado por cuidar da minha esposa enquanto eu estava ocupado. Agora pode ir.
As palavras de Isaac eram cortantes, carregadas de um sarcasmo que fez meu rosto esquentar de irritação.
— Não estava precisando de cuidados, obrigada — respondi entre dentes.
Isaac me ignorou, cruzando os braços e olhando para o mar, como se tivesse decidido que agora ele fazia parte daquela cena.
E, de repente, o momento tranquilo que eu estava aproveitando desapareceu. Heitor apenas disse que já ia. Ele pegou minhas mãos, e disse que foi um prazer ter me conhecido. Olhei para Isaac que balbuciava algumas palavras inaudíveis. Por último Heitor pegou nas mãos dele e foi embora.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Marcia Patette
Eu falei que ela precisava de um amigo kkkkkkkkkkkkkkk
2025-04-12
0
Graciete Barbosa Silva
Isaac rapidinho aprendeu o lugar dele kkk
2025-03-03
0
Sonia Beatris
Olha o ciúmes aí gente 😂😂
2025-01-25
1