Capítulo 16

...Isaac Castellani...

Eu deveria ter ignorado quando ela bateu na porta do meu quarto. Poderia ter inventado uma desculpa ou sugerido que ligasse para a manutenção do hotel, mas, em vez disso, segui até o quarto dela. Talvez fosse a teimosia que brilhava em seus olhos, ou o desafio implícito em cada palavra que ela dizia. Seja qual for o motivo, eu fui.

O banheiro parecia impecável à primeira vista, mas, quando comecei a mexer no chuveiro, percebi que o botão estava realmente emperrado. Ajustei a torneira, tentando destravá-la, mas a resistência era maior do que eu esperava.

E então aconteceu.

A água jorrou para todos os lados, me molhando e, claro, molhando também Aylme. No começo, minha reação foi prática. Desliguei o jato de água, tentando evitar mais bagunça. Mas então olhei para ela.

E foi o meu erro.

A camisa que ela usava, larga e aparentemente confortável, agora estava completamente encharcada e colada ao corpo. O tecido molhado revelava mais do que escondia, deixando suas curvas expostas de uma forma que eu não estava preparado para lidar.

Por alguns segundos, que pareceram uma eternidade, fiquei imóvel. Minha mente dizia para desviar o olhar, mas meu corpo não obedecia. Tudo parecia focado nela—no contorno suave de sua pele, no jeito que o tecido grudento revelava mais do que deveria.

E então vi seus seios. Os bicos estavam rígidos, marcando claramente a camisa. Foi nesse momento que senti meu controle, algo em que sempre me orgulhei, começar a ruir.

Meu coração bateu mais rápido, um calor subindo pelo meu corpo como um fogo difícil de apagar. Fazia anos, talvez uma década, desde que algo tão trivial tinha me abalado assim. Aylme não era a mulher mais deslumbrante que já conheci, mas havia algo nela—algo cru e natural, sem esforço—que me deixava sem defesas.

Tentei me convencer de que era só uma reação física. Nada mais. Mas então percebi que não conseguia parar de olhar.

Ela estava ocupada torcendo o tecido da camisa, tentando minimizar os estragos da água, completamente alheia ao que estava acontecendo comigo.

“Isso é só um acordo,” pensei, tentando recuperar o controle. Mas a visão dela naquele estado não parecia entender que havia regras, limites.

Engoli em seco e voltei minha atenção ao chuveiro, quando percebeu que estava olhando para ela e que vi tudo.

— Resolvido — murmurei, sem me virar para encará-la novamente.

Desliguei a água e finalizei o que precisava, tentando me convencer de que o calor que sentia era só o resultado da água quente e não algo muito mais perigoso.

Saí do banheiro o mais rápido que pude, como o diabo foge da cruz.

Quando voltei para o meu quarto, fechei a porta com um pouco mais de força do que o necessário. Fui até a cama e sentei-me à beira dela, tentando entender o que diabos acabou de acontecer.

Era ridículo. Eu já estive com mulheres muito mais sedutoras, em situações infinitamente mais provocantes, e nunca perdi o controle assim. Então, por que ela tinha esse efeito sobre mim?

Macumba, deve ser isso. Ela deve ter feito macumba para mim. É a única explicação plausível para essa loucura.

Passei as mãos pelo rosto, como se isso pudesse afastar a memória dela. Mas a imagem continuava lá, clara e persistente. Sua pele molhada, o contorno dos seios…

Soltei um suspiro frustrado e me recostei na cama, fechando os olhos.

“Ela não fez deliberadamente,” pensei. Aylme não era o tipo de mulher que jogava charme ou tentava seduzir alguém. Se fosse, eu teria percebido. Era exatamente isso que me deixava louco nela. Ela era sincera, direta, e essa autenticidade era perigosa.

A lembrança dela mexendo no tecido da camisa, com a testa franzida de irritação, voltou à minha mente. Ela me desarmava de uma forma que eu não sabia explicar.

“Você está exagerando,” tentei me convencer. Mas não funcionou.

O restante da noite foi um teste de paciência. Tentei focar no trabalho, revisar e-mails no laptop, até mesmo escrever algumas respostas para questões pendentes da empresa. Mas minha mente continuava voltando para ela.

O mais irritante era que eu sabia que ela não estava nem pensando em mim nesse momento. Provavelmente já tinha esquecido o incidente e estava relaxando ou dormindo, completamente alheia ao caos que causou dentro de mim.

“Você precisa manter o foco,” disse a mim mesmo, fechando o laptop com força.

Caminhei até a varanda do quarto, olhando para o oceano à frente. A noite estava tranquila, as ondas quebrando suavemente na praia. Era o tipo de vista que deveria ser suficiente para acalmar qualquer um.

Mas eu continuava inquieto.

Parte de mim sabia que isso era perigoso. Esse casamento era um contrato, nada mais. Ela era uma peça temporária no meu mundo, e, no final disso tudo, seguiríamos caminhos opostos. Eu não podia deixar que ela ocupasse tanto espaço na minha cabeça.

Mas, por mais que tentasse me convencer disso, algo em mim sabia que esse incidente no banheiro não seria tão fácil de esquecer.

Deitei na cama horas depois, mas o sono não veio. Tudo o que eu conseguia ver era ela, molhada, desprotegida, completamente à vontade em sua imperfeição.

Aylme era um mistério, e, por mais que eu tentasse evitar, sabia que estava ficando cada vez mais conectado com ela. E se eu pensasse demais, acabaria ficando louco.

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