Amor Contratado
...🌷 Isaac Castellani 🌷...
...🌷 Aylme 🌷...
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...Aylme...
Os relógios da cidade pareciam correr mais rápido do que o meu coração, mas talvez fosse só impressão. Ou desespero. Há pouco mais de um mês, eu estava de avental na cozinha do Casa de Alma, o restaurante que herdei da minha avó. Hoje, estou sentada em um banco frio e moderno, na recepção da maior empresa da cidade, tentando segurar as lágrimas e manter a dignidade para a entrevista de emprego mais importante da minha vida.
O fechamento do restaurante ainda era uma ferida aberta, mas não havia muito o que fazer. As contas haviam se acumulado, e o sonho de manter o legado da minha família desmoronou com o último prato servido. Durante semanas, eu tentei de tudo para salvar aquele lugar. Renegociei aluguéis, adiei pagamentos, fiz promoções… mas nada parecia suficiente. A pandemia, a inflação, a falta de turistas na cidade… tudo conspirava contra mim.
Quando finalmente entreguei as chaves para o proprietário, senti como se estivesse enterrando parte de quem eu era. Minha avó, Alma, deu aquele restaurante seu nome porque dizia que cada refeição preparada lá carregava um pedacinho da alma dela. E eu? Eu queria acreditar que estava fazendo o mesmo. Mas a verdade é que falhei. Falhei com ela, comigo mesma e com todos os clientes que amavam aquele espaço.
Respirei fundo e me forcei a focar no presente. Estar aqui, esperando por uma entrevista, era uma oportunidade, certo? Um novo começo. Pelo menos, era o que eu repetia para mim mesma toda noite, enquanto atualizava meu currículo e enviava mais e mais aplicações para empregos em sites e anúncios.
Nas primeiras semanas após o fechamento do restaurante, eu tinha esperança. “Alguém vai notar minha experiência, minha paixão por trabalhar duro”, pensava. Mas os dias viraram semanas, e as respostas não vieram. Na pequena cidade onde moro, o mercado de trabalho parecia mais apertado do que nunca. Até os empregos que eu considerava abaixo das minhas qualificações tinham filas de candidatos dobrando o quarteirão.
Deixei currículos em cafés, hotéis, escolas, supermercados… qualquer lugar que pudesse me pagar o suficiente para cobrir o básico. Às vezes, eu nem recebia uma resposta. Outras vezes, escutava o temido “Você é muito qualificada para a vaga”. Qualificada demais para fazer café? Sério? Foi nesse momento que a realidade bateu: eu não podia escolher. Precisava de qualquer coisa.
Quando finalmente vi o anúncio da Castellani Enterprises, confesso que hesitei. Uma multinacional gigantesca, famosa por contratos milionários e luxuosos escritórios. O que uma pessoa como eu faria em um lugar como aquele? Mas, como minha mãe sempre dizia, “o não você já tem”. Então, arrumei o currículo, apertei o botão de enviar e, para minha surpresa, recebi um e-mail na mesma semana marcando a entrevista.
E agora aqui estou eu, no décimo oitavo andar de um prédio de vidro que parece sair de um filme futurista. Meu reflexo no vidro da recepção não era exatamente encorajador: calça social emprestada, uma camisa branca que eu havia passado na noite anterior com um ferro-velho e uma expressão que lutava para parecer confiante.
— Senhorita Aylme? — chamou a recepcionista, com um sorriso educado, mas apressado.
Levantei-me tão rápido que quase tropecei no salto. Não uso sapatos como aquele há anos, mas precisava impressionar. Caminhei em direção à porta indicada, tentando não me sentir como uma fraude. Quem eu estava tentando enganar? Eu não era uma mulher de escritório, com horários fixos e papéis para carimbar. Eu era uma cozinheira. Ou, pelo menos, costumava ser.
Enquanto esperava no corredor, comecei a imaginar como seria o trabalho. Será que me colocariam na recepção? Talvez em algum setor administrativo? Contas a pagar e receber? Minhas habilidades eram limitadas a resolver problemas de última hora e preparar pratos caseiros deliciosos. Como isso se traduziria para o mundo corporativo? Eu não fazia ideia.
Olhei para o teto, tentando me distrair. Meu estômago estava embrulhado, e minhas mãos suavam de nervoso. Pensei na minha avó, em como ela sempre dizia que desistir nunca era uma opção. “Você só perde a batalha quando para de lutar”, ela dizia. Isso era o que me mantinha aqui, naquele banco confortável, tentando segurar as lágrimas de frustração.
Antes que eu pudesse mergulhar ainda mais nos meus pensamentos negativos, a porta se abriu. Um homem alto, de terno impecável, chamou meu nome.
— Aylme, por favor, entre.
Sua voz era firme, mas havia algo de acolhedor nela. Entrei na sala, que era ampla e iluminada. A mesa enorme de vidro no centro parecia maior do que minha antiga cozinha. Respirei fundo e sentei-me na cadeira indicada, tentando lembrar as dicas de entrevistas que li online. “Mantenha contato visual, sorria, demonstre interesse.” Ok, eu podia fazer isso.
O homem me avaliou por um momento antes de começar.
— Bem, Aylme, vejo aqui que você tem experiência como gerente do próprio restaurante. Pode me contar um pouco mais sobre o que fazia?
Ah, essa eu sabia responder. Endireitei a postura e comecei a falar, escolhendo as palavras cuidadosamente. Expliquei como administrava o estoque, negociava com fornecedores, treinava funcionários e, claro, atendia os clientes. Falei sobre as noites longas, os desafios e as soluções criativas que encontrava para problemas inesperados.
— E por que decidiu fechar o restaurante? — ele perguntou, sua expressão agora mais séria.
Essa era a parte difícil. Respirei fundo e tentei explicar da forma mais profissional possível. Falei sobre os desafios financeiros, as mudanças no mercado e como, infelizmente, não consegui acompanhar as tendências. Admiti que tomei decisões erradas, mas também que aprendi muito com cada uma delas.
Ele assentiu, fazendo anotações em seu caderno.
— Muito bem, Aylme. Obrigado por compartilhar. Vamos continuar…
Enquanto ele fazia as próximas perguntas, algo dentro de mim mudou. Talvez não fosse o tipo de oportunidade que eu imaginava para a minha vida, mas era um bom começo.
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Katia Sousa
parece que a estória é boa, só que hoje eu estou cansada e ja é quase uma da madrugada, correria pra o final de ano
2024-12-30
1
Maria Sena
Olá autora querida, terminando um e começando outro. Hoje, 06/01/25. E vamos de mais uma leitura. 🥰🥰🥰
2025-01-07
0
Márcia Inês Labiapari Mansur Guimarães
Parece boa, mas tomara que não tenha que ficar esperando atualização e nem desbloqueio 😞😞😞
2025-01-03
0