...Aylme...
O dia começou como todos os outros desde que chegamos à ilha: ensolarado, perfeito e insuportavelmente planejado. Eu já tinha perdido a conta de quantos sorrisos forçados e olhares apaixonados tínhamos que fingir diante das câmeras e da equipe do resort, que parecia mais interessada em espalhar boatos do que em garantir nossa privacidade.
Isaac e eu éramos nossos próprios planejadores, afinal, não trouxemos Ramon ou qualquer outra pessoa. E talvez essa tenha sido a parte mais frustrante. Ele decidia o que fazer como se eu não tivesse voz alguma.
— Vamos sair de barco hoje — anunciou ele no café da manhã, casualmente, enquanto tomava um gole de café.
Levantei os olhos do meu prato, arqueando uma sobrancelha.
— Ah, claro. Porque tudo o que eu mais quero é ficar presa em um barco com você.
— Me odeia tanto assim?
— Bastante. — Respondi, no entanto, aquelas palavras pareciam elogios a ele. Isaac não estava nem aí.
Ele se esticou um pouco para frente, para pegar um jornal local que estava sobre a mesa. O silêncio dele me irritava mais do que as palavras, mas, como sempre, ele parecia imune a tudo que eu falava.
Eu me organizei com um biquíni, e me cobri com uma saída de praia, peguei um óculos escuro de sol, e na parte da tarde, estávamos caminhando para o cais. A brisa salgada soprava suave. Era, admito, um cenário deslumbrante. Mas o silêncio entre nós era pesado, às vezes pegava ele me observando, mas quando eu virava para olhar, ele disfarçava.
— Você não acha que estamos exagerando? — perguntei, enquanto ele ajustava os botões de sua camisa perfeitamente passada.
— Exagerando em quê? — respondeu ele, sem nem olhar para mim.
— Em tudo isso. Passeios românticos, fotos, fingir que somos o casal mais apaixonado do mundo. Acho que isso não estava no contrato.
— Quem disse? Você não leu, então não tem como saber. — Isaac rebateu.
— Acho um exagero, só acho.
Ele finalmente virou-se para mim, o olhar frio como sempre.
— A mídia adora histórias como a nossa. É isso que as pessoas esperam ver. Então, por que não daremos isso a eles?
— Sim, mas não somos de verdade. Isso tudo parece… forçado.
Ele deu um pequeno sorriso, mas era o tipo de sorriso que não chegava aos olhos.
— Bem-vinda ao mundo real, Aylme. Tudo é forçado.
A resposta dele me irritou. Eu não sabia se era o tom condescendente ou que ele tinha razão.
Chegamos diante do barco luxuoso, luxo até demais eu diria. Mas tudo com Isaac é exagero.
O barco era pequeno e elegante, perfeito para duas pessoas, mas o espaço parecia apertado demais para nós dois. O capitão nos deixou sozinhos no convés, alegando que ficaria no leme, enquanto o barco deslizava suavemente sobre as águas calmas.
Sentei-me em um dos bancos, cruzando os braços enquanto ele permanecia em pé, olhando para o horizonte.
— Você sempre foi assim? — perguntei de repente, quebrando o silêncio.
Ele olhou para mim por cima do ombro, confuso.
— Assim como? Gostoso? Sempre — sorriu.
— Digo; controlador. Frio. Como se nada pudesse te afetar. E um cara que se acha o último biscoito do pacote.
Ele franziu o cenho, como se estivesse ponderando se valia a pena responder.
— Talvez. Crescer na minha família não dá muitas opções.
O tom dele era casual, mas havia algo ali, uma vulnerabilidade escondida que me pegou desprevenida.
— Como era? Crescer assim, quero dizer.
Ele suspirou, sentando-se no banco oposto ao meu.
— Intenso. Meu pai era obcecado por perfeição. Meu avô, então, nem se fala. Desde cedo, tudo o que eu fazia era avaliado, medido, julgado. E falhar nunca era uma opção. Você só é o que seus pais te ensinam, Aylme.
Houve um momento de silêncio enquanto eu processava o que ele disse.
— Deve ter sido… sufocante tudo isso.
Ele deu uma risada baixa.
— Foi. Mas aprendi a lidar com isso. Você constrói uma barreira. Aprende a não deixar as pessoas verem o que realmente sente.
Por um momento, ele parecia quase humano. Era estranho ver esse lado dele, um lado que ele parecia tentar esconder até de si mesmo.
— E você? — perguntou ele, mudando o foco. — Por que o restaurante era tão importante para você? Claro, além de ser um negócio que sua avó fez crescer com muito esforço.
Engoli em seco, surpresa pela pergunta. Não esperava que ele realmente quisesse saber.
— Foi o legado da minha avó. — dei de ombro — Ela abriu aquele restaurante do zero, sem ajuda de ninguém. Era o sonho dela, e ela dedicou a vida inteira àquele lugar. Lutou muito para juntar o que conseguia para finalmente comprá-lo.
Quando ela faleceu, parecia que continuar era a única maneira de mantê-la viva.
— E você falhou.
A franqueza dele era como um tapa, mas não havia crueldade nas palavras. Era apenas um fato.
— Sim. Falhei — admiti, sentindo um nó na garganta. — Mas fiz o melhor que pude, saiba disso.
Ele me olhou por um longo momento, como se estivesse tentando entender algo em mim.
— Talvez não tenha sido sua culpa.
— É Talvez.
O silêncio voltou, mas dessa vez não era desconfortável. Era quase... compartilhado.
Após aquela conversa, ficamos perdidos no olhar um do outro. Então ele se levantou e caminhou até a borda do barco, olhando para o mar. Havia algo em sua postura, na maneira como ele segurava a grade, que parecia… melancólica.
— Você não precisa carregar tudo sozinho, sabia? — disse, sem pensar.
Ele se virou para mim, surpreso.
— Como assim?
— Você não precisa ser perfeito o tempo todo, Isaac. Nem forte. Todo mundo precisa de ajuda, ocasionalmente.
Por um momento, pensei que ele fosse me ignorar. Mas, em vez disso, ele deu um passo na minha direção, os olhos fixos nos meus.
— Talvez você esteja certa — disse ele, com um tom que era quase um sussurro.
Meu coração bateu mais rápido. Era como se, pela primeira vez, ele estivesse realmente me ouvindo.
Mas, claro, Isaac não podia ser vulnerável por muito tempo.
Ele deu um passo para trás, ajustando o colarinho da camisa, como se estivesse colocando a máscara de volta.
— Mas é melhor não depender de ninguém. Pessoas desapontam. Não vivo de sentimentalismo.
Revirei os olhos, frustrada.
— Você é impossível.
— Você adora isso, até casou comigo.
— Por obrigação.
— Mas casou. — ele rebateu.
Ele deu aquele sorriso irritante, e eu me levantei, caminhando para o outro lado do barco antes que me desse uma loucura, e jogasse ele no mar.
Isaac Castellani podia ter suas camadas, mas ele também era o homem mais frustrante que eu já conheci. E não tem um só segundo que não me arrependa de ter assinado aquele maldito contrato.
Será que ele algum dia deixaria alguém ultrapassar aquela barreira que ele tanto se orgulhava de manter?
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Atualizado até capítulo 41
Comments
Cleria Teixeira De Sousa
que pena pensei que ela ia se respeitar más já está se jogando igual uma cadela nó cio para ele.
2025-02-25
2
Daline Sousa
Eu não acho que ela está se jogando pra ele não. Ela só está tentando conhecer uma pessoa que vai ficar casada por um ano ...
2025-02-28
2
Elizabeth Fernandes
Ele já tá deixando a barreira ser quebrada
2025-02-26
1