Capítulo 2

... Isaac Castellani...

As luzes da cidade nunca me impressionaram. Era curioso como, de cima, tudo parecia organizado, controlado. Os carros pareciam formigas obedientes, seguindo caminhos pré-determinados. Se ao menos a vida fosse assim: previsível, sem falhas. Mas não era. Não para mim.

Meu nome é Isaac Castellani. Se você abrir uma revista de negócios, meu nome provavelmente estará lá, associado a algum contrato milionário ou uma parceria inovadora. Sou o CEO da Castellani Enterprises, uma das maiores holdings do país. No papel, sou um homem realizado. Na prática, minha vida é bem menos glamourosa.

Herdei a empresa do meu pai quando tinha 28 anos, quatro anos atrás. Ele era um homem brilhante, mas sua vida pessoal era um caos. Quando ele faleceu, a Castellani Enterprises estava em um estado crítico. Dívidas, fusões fracassadas, desconfiança no mercado. Tive que reconstruir tudo. Passei noites sem dormir, fechei acordos arriscados e fiz cortes impopulares. Funcionou. Hoje, somos uma potência.

Mas, claro, há sempre um preço. Meu avô, Lorenzo Castellani, é um homem de outros tempos. Para ele, negócios e família são indissociáveis. Ele construiu nosso império do zero, começando com uma pequena fábrica de móveis. Quando meu pai assumiu, ele expandiu para outras áreas: tecnologia, imóveis, energia. Peguei os destroços e transformei em algo sólido novamente. Só que, para o meu avô, sucesso nos negócios não é o bastante.

Ele diz que um homem sem uma família não é nada.

Essa frase ecoa na minha cabeça desde que me entendo por gente. Lorenzo sempre foi obcecado pela ideia de um herdeiro. Não bastava eu salvar a empresa. Ele queria que eu construísse um legado familiar, que me casasse, tivesse filhos. Segundo ele, essa era a única forma de honrar o sobrenome Castellani.

Eu nunca dei muita atenção a isso. Meu foco sempre foi o trabalho. Namoros? Relacionamentos sérios? Não tenho tempo para isso. Acordo às cinco da manhã, treino, passo o dia em reuniões e à noite estou analisando relatórios. Minha rotina não deixa espaço para romance. Além disso, a maioria das mulheres que cruzam meu caminho está mais interessada no meu sobrenome do que em mim.

Mas o velho Lorenzo nunca desiste. No último ano, sua insistência chegou a outro nível. Ele não quer apenas que eu me case. Ele colocou isso como uma condição para eu assumir o controle total de uma das partes mais valiosas da empresa: o setor imobiliário, que inclui os hotéis de luxo que ele construiu ao longo de sua vida.

É um golpe inteligente, admito. O setor imobiliário é o coração da Castellani Enterprises. Sem ele, minha posição como CEO fica enfraquecida. Ele sabe disso. E sabe que sou orgulhoso demais para abdicar do controle.

A pressão aumentou ainda mais quando ele teve um problema de saúde no começo do ano. Nada grave, mas o suficiente para ele começar a falar sobre “colocar a casa em ordem” antes de partir. Não bastasse isso, ele deixou claro que, se eu não me casar dentro de seis meses, ele passará o setor imobiliário para outro membro da família.

A ideia me enfurece. Minha prima Sofia, por exemplo, não tem a menor ideia de como administrar aquilo. Ela é ótima em marketing, mas negócios complexos não são o forte dela. Meu tio Eduardo? Um desastre ambulante. Sei que o velho está blefando, mas até onde ele iria com isso?

Suspirei e encarei a tela do meu laptop. Relatórios, gráficos, projeções. Trabalho sempre foi minha zona de conforto. É onde tudo faz sentido. Mas agora, essa sombra do “casamento” pairava sobre mim como uma tempestade.

A verdade é que minha vida pessoal é um desastre completo. Quando não estou trabalhando, estou sozinho. Meu apartamento é minimalista, frio, funcional. Às vezes, chego a esquecer que moro lá. Meus relacionamentos nunca duram. Não porque eu não tente, mas porque sei que não sou fácil de lidar.

Por trás da fachada de empresário de sucesso, sou um homem controlado, metódico e, segundo algumas ex-namoradas, emocionalmente indisponível. Não é que eu não sinta nada. Apenas não tenho paciência para jogos emocionais ou dramas. O que me atrai é clareza, lógica. O problema é que essas qualidades raramente aparecem nos relacionamentos que tive.

Lorenzo não entende isso. Para ele, o amor é simples. Ele se casou com minha avó aos 20 anos e viveu com ela por quase 50 anos. Vi o quanto eles se amavam, e talvez isso tenha estabelecido um padrão inalcançável.

Agora, aqui estou eu, com o tempo correndo contra mim. Casamento em seis meses? Como se resolve isso? Não sou um homem religioso ou romântico. Para mim, um casamento seria mais como um contrato. Duas partes que concordam em unir forças para alcançar um objetivo. É assim que eu penso.

Por isso, comecei a considerar uma solução alternativa. Se meu avô quer um casamento, por que não dar a ele exatamente isso? Um acordo. Algo prático, sem sentimentos envolvidos. Um contrato nupcial com prazos e cláusulas bem definidos. Não seria o primeiro CEO a fazer algo assim. E, ao final, todos ficariam satisfeitos.

Claro, encontrar alguém disposto a isso não seria tão simples. As pessoas têm expectativas, emoções. Mas, se eu escolhesse alguém que também precisasse desse acordo, alguém em uma posição vulnerável, talvez isso pudesse funcionar.

Enquanto essa ideia se formava na minha cabeça, me peguei imaginando como seria a pessoa ideal para isso. Alguém inteligente, que entendesse as regras do jogo. Alguém que não complicasse minha vida e, de preferência, que tivesse algo a ganhar também.

Mas onde encontrar alguém assim?

Interrompi meus pensamentos ao receber uma mensagem no celular. Era de meu avô.

— Isaac, vamos almoçar amanhã. Tenho algumas sugestões de possíveis pretendentes para você conhecer.

Sugestões de pretendentes? Pelo amor de Deus. Ele passaria provavelmente a tarde me apresentando filhas de amigos ou mulheres de famílias influentes. Mais um motivo para resolver isso do meu jeito, o mais rápido possível.

Fechei o laptop e encarei a vista da cidade pela janela. Às vezes, o peso do meu sobrenome parecia insuportável. Mas eu havia chegado longe demais para desistir agora.

Se o velho quer um casamento, ele terá um. Mas será nas minhas condições.

— Senhor Castellani, a moça chamada Aylme que o senhor selecionou para uma entrevista, está à espera. — minha secretária Anna anunciou.

Sorri, um sorriso frio e calculado. O jogo havia começado.

— Vou recebê-la.

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Comments

Benedita Nascimento

Benedita Nascimento

poha eu não entendo o cara pegou a pica toda destruída e velho não vez nada e pq agra tem que obrigar o cara a cs pra ele assumir o bagulho que já e dele que ele se lascou pra colocar ordem aff

2025-04-04

2

Luisa Nascimento

Luisa Nascimento

Tá lascado, pois ela roubará seu coração.❤

2025-03-24

3

Adriane Alvarenga

Adriane Alvarenga

Eita.....a entrevista é para uma esposa de contrato....será que Aylme vai aceitar????

2025-04-17

0

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